Foto: Unioeste

São pelo menos nove anos de trabalho em um projeto que hoje pode fazer a diferença na busca pela identificação de mosquitos, inclusive o Aedes Aegypti. O sensor desenvolvido por um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e da University of New South Wales (Austrália) utiliza Inteligência Artificial para reconhecer espécies de mosquitos, tornando possível monitorar de forma automática a evolução populacional desses insetos.

O responsável pela pesquisa na Unioeste é o pesquisador André Maletzke que é professor da Unioeste, campus de Foz do Iguaçu, Ph.D. Doutor em Ciência da Computação e Matemática Computacional e tem dedicado os últimos anos a esse projeto, que no atual cenário, em que muitas cidades vivem uma epidemia de Dengue se torna inovador e principalmente necessário. “A ideia é um sensor equipado com softwares de Inteligência Artificial e de baixo custo. Esse sensor, que se encontra em fase avançada de teste, pode, por exemplo, ser usado em uma armadilha capturando somente espécies de interesse como o Aedes aegypti (transmissor da dengue). Essa tecnologia é fundamentada no som do mosquito, já que cada espécie produz um som diferente e usando a Inteligência Artificial o sensor consegue identificar espécies baseadas em cada som emitido. No mundo existem mais 3000 espécies de mosquitos, sendo que aproximadamente 200 delas podem ser vetores de doença, dentre as quais o Aedes aegypti”, explica o pesquisador.

Esta tecnologia está praticamente pronta para utilização, através dela é possível, por exemplo, analisar regiões que passam por uma crescente no número de mosquitos “o reconhecimento permite acompanharmos o crescimento populacional do mosquito. Esse sensor possibilita monitorar o tamanho da população de mosquitos em determinada região. Esse acompanhamento é valioso para as cidades, que poderão direcionar recursos e esforços de maneira mais precisa para locais para regiões mais críticas”.

Estudo

O desenvolvimento desse projeto acontece há anos e começou pela iniciativa do Prof. Dr. Gustavo Batista (UNSW/Austrália) e só foi possível porque contou com investimentos de diversos organismos como Google, Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O pesquisador André integra o projeto desde 2015 e foi um dos primeiros bolsistas Google da América Latina a receber financiamento. “Hoje o projeto conta com o financiamento do Innovative Vector Control Consortium (IVCC) em parceria com a UNSW, consórcio que envolve várias entidades como a Fundação Bill e Melinda Gates e o governo australiano”. O grande trunfo desse sensor é o uso de uma tecnologia que permite captar somente o som produzido pelo mosquito que quando associado a métodos de Aprendizado de Máquina permite saber, por exemplo, se o mosquito é macho ou fêmea, seu mosquito e até mesmo identificar se ele já se alimentou ou não de sangue. “Para isso precisamos criar algoritmos novos de Inteligência Artificial para adequar ao sensor. Atualmente, o sensor consegue detectar se o mosquito que passa por ele é um Aedes aegypti com uma precisão de 98%. A possibilidade de identificar se o mosquito é um Aedes aegypti ou não, abre a possibilidade de criar mecanismos de captura seletiva como armadilhas inteligentes. Entretanto, os algoritmos que desenvolvemos vão além, fornecendo, por exemplo, mensalmente dados sobre o tamanho da população de mosquitos de uma determinada área”, explica o pesquisador.

Aedes Aegypti

Falando diretamente a respeito do Aedes Aegypti, mosquito responsável pela transmissão de doenças como Zika, Chikungunya e, nesse momento principalmente a Dengue, causadora de uma preocupação muito grande pelo elevado número de casos em todo país, inclusive colocando o estado do Paraná entre os cinco com mais infectados pela doença, o sensor chega justamente com o intuito de somar esforços “Nossa ideia é obter um dispositivo de baixo custo que produza informações sobre a densidade do Aedes aegypti. Isso guiará as atividades locais de controle de mosquitos e colocará a comunidade, as organizações governamentais e de ajuda muito à frente dos surtos de doenças”.

Da universidade para a sociedade

O software do sensor de mosquitos e mecanismos de captura seletiva são desenvolvidos dentro do campus da Unioeste, em Foz do Iguaçu, uma das principais cidades do país quando o assunto é turismo, localizada em uma região de tríplice fronteira é também um dos municípios do estado do Paraná que mais luta contra os números altos da dengue, tanto é que foi uma das primeiras regionais escolhidas para receber a vacina contra a doença.

De acordo com dados repassados pela assessoria de comunicação do município Foz do Iguaçu há muitos anos vêm enfrentando a Dengue com registro de várias epidemias, sendo a maior de todos os tempos, ocorrida ano epidemiológico da dengue (2022-2023), quando mais de 55 mil casos foram notificados no município e com 22 óbitos confirmados. No ano epidemiológico atual, até a semana 10, o município já contabilizou 9.480 notificações de casos suspeitos de Dengue e 1.195 casos autóctones foram confirmados para o agravo e desde então o município busca soluções e tecnologias para tentar conter esse avanço da proliferação

O equipamento está pronto, sendo necessárias adaptações de acordo com o campo onde serão inseridos.

Fonte: Thiago Leandro/Unioeste