Setor de Endemias trabalha para retirar objetos que acumulam água. Foto: Setor de Endemias

Por Marcos Antonio Santos

O município de Toledo continua em alerta quanto à situação epidemiológica da dengue. Em uma semana o total de casos subiu para 750 (97 a mais, 15%, em comparação com a semana passada – 653). Casos suspeitos em análise são 114; contaminados 743 (última semana, 647); dois casos importados de febre Chikungunya (um deles de um paraguaio, que mora no distrito de Vila Nova, e visitou a família na Páscoa); uma morte, de um morador do Santa Clara IV; total de casos notificados: 1.722 (145 a mais em comparação com a semana anterior).

A preocupação ainda se reforça com o resultado do segundo Levantamento Rápido de Infestação do Aedes aegypti (Liraa) de 2023 realizado em abril, o índice de infestação predial (IIP) médio foi de 4,3%, muito acima do recomendado pelos organismos nacionais e internacionais de saúde (1%), 79,16% acima do levantamento anterior (2,4%). O próximo levantamento será realizado em julho, de um total de cinco neste ano. O município de Toledo tem aproximadamente 72 mil imóveis, entre terrenos baldios, comércios e moradias. Durante o Liraa, os agentes de combate a endemias realizaram visitas em quase 2 mil imóveis de todos os bairros da cidade (sorteados aleatoriamente por plataforma do Ministério da Saúde).

Os bairros Independência (21,42%), Panambi (14,7%), São Francisco I (14,63%), Porto Alegre II (11,11%) e Europa II (11%) registraram os maiores índices do segundo Liraa. Os distritos de Dez de Maio e São Luiz do Oeste, Centro, Santa Clara IV e Industrial também merecem atenção especial.

A coordenadora do Setor de Controle e Combate às Endemias de Toledo, Lilian Konig disse que nesses bairros as visitas foram intensificadas, e a população precisa colaborar. “Já realizamos um Ecoponto Itinerante no Fachini, e neste sábado, 27, será no Santa Clara IV, que hoje tem 154 casos de dengue. Fizemos arrastões em São Luiz, tirando todos os locais que acumulam água. Temos sofrido com a resistência da população, que precisa entender que o problema do aedes é intradomiciliar, muitos acreditam que está no vizinho e não na sua casa. O mosquito gosta de sobra e água fresca, e as calhas abertas é um local ideal.  Desde 2019, a dengue se prolonga por todo o ano. Quando conversamos com as pessoas, elas preverem pegar covid-19 do que dengue, porque os sintomas estão fortes e muitos precisam ser hospitalizados para tomar soro”. 

Ela disse que nesta semana, os agentes estão realizando um trabalho mais intenso no Santa Clara IV. “Eles estão entrando nas casas, tirando tudo que acumula água. Os ovos dos mosquitos em um lugar seco permanecem por mais de um ano e podem estar contaminados. O importante é que a população retire tudo que acumule água e aproveite essa oportunidade para se livrar das larvas do mosquito”. O Ecoponto Itinerante no bairro será neste sábado, das 8h as 12h.

Lixo está por todo lado, principalmente, em terrenos baldios. Foto: Setor de Endemias

Lilian Konig comenta que o Setor de Endemias lançou a campanha Visita Certa. “Se a pessoa recebe a visita de um agente de endemias em casa, a metade do problema está resolvido. Precisamos que o morador agende a visita com o horário que estará em casa durante o sábado. Em média fazemos 16 mil visitas por mês. O nosso problema são cerca de 10 mil imóveis fechados que não recebem a visita dos agentes”.

Pratos de plantas, lixo doméstico, reservatórios de água, pneus e ralos estão entre os objetos onde os focos do mosquito que transmite a dengue e outras doenças são encontrados com maior recorrência. E Lilian revela que o mosquito está cada vez mais resistente. “O aedes aegypti se adaptou ao nosso clima e está mais forte até mesmo aos inseticidas, e o Ministério da Saúde já trocou por várias vezes ao longo do ano o composto químico. agora, o Paraná liberou o Fludora, e os nossos agentes vão a Maringá para uma capacitação. O inseticida é válido somente para o mosquito adulto.  Uma fêmea dura cerca de 40 dias, podendo contaminar até 300 pessoas. Por isso, a população precisa tirar pelo menos um dia por semana e eliminar os locais de água parada em seus quintais; tanques, ralos, entre outros locais”.      

De acordo com a coordenadora do Setor de Endemias, desde 2022, os casos de dengue vêm sendo registrados todos os meses do ano. “Talvez porque os médicos estejam notificando mais, e precisamos que as pessoas coletem o exame no período correto. O atendimento em Toledo tem um outro olhar para dengue, por isso, temos conseguido diagnosticar a doença”.

Agente em visita a uma casa onde morador acumula vários objetos. Foto: Setor de Endemias

ACUMULADORES DE LIXO – Disposofobia, também conhecida como acumulação, é o termo utilizado para definir a condição patológica que se caracteriza por compulsiva aquisição e acumulação de objetos, mesmo que os itens não tenham utilidade, sejam insalubres ou perigosos.

Lilian disse que o Setor de Endemias também vem trabalhando com essas pessoas que acumulam lixo em suas residências. “Não é fácil, precisamos que uma Unidade de Saúde esteja com os agentes, porque essa pessoa é doente. Não removemos esse acumulador da sua casa. Temos que passar para os vizinhos que isso é uma doença, para evitar briga. E explicar ainda para a família que essa pessoa precisa de tratamento psicológico e acompanhamento da Unidade de Saúde. Retiramos o lixo e mostramos a importância de se morar em um lugar limpo. Se a pessoa volta a acumular o lixo, ficamos controlando-a juntamente com a família e os vizinhos. É um trabalho de formiguinha em parceria com a Atenção Básica. Os ACSs (Agentes Comunitários de Saúde) estão ajudando nessa luta contra a dengue, que sobrecarrega o sistema de saúde”.

Lilian Konig enaltece que muitas entidades, colégios, universidades, comitês, instituições privadas e a gestão municipal estão colaborando muito divulgando principalmente os arrastões.

Os cemitérios são um problema grave de focos do mosquito da dengue.