Por Marcos Antonio Santos
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, por ano, mais de 700 mil pessoas tirem a própria vida em todo o mundo. Segundo a organização, o número pode chegar a 1 milhão se forem considerados os casos não registrados. No Brasil, são aproximadamente 14 mil suicídios todos os anos — uma média de 38 pessoas por dia. No último domingo, 10, foi lembrado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
No município de Toledo, onde os casos de suicídios são altos, algumas entidades estão realizando eventos para alertar a população sobre esse problema, dentro do ‘Setembro Amarelo’. Uma das ações é o Projeto Garra – V, do Grupo de apoio e Reação Rápida pela Vida, da Unioeste – Campus de Toledo e coordenado pelo professor e doutor Edson Marques Oliveira.
O ‘Setembro Amarelo’ começou nos Estados Unidos quando o jovem Mike Emme, de 17 anos de idade, cometeu suicídio, em 1994. Mike era um rapaz muito habilidoso e restaurou um automóvel Mustang 68, pintando-o de amarelo.
Edson Marques conta que a campanha começou por sugestão de médicos, terapeutas e psicólogos. “Eles sugeriram instituir o setembro para alertar e conscientizar as pessoas sobre o problema do suicídio. Isso acabou sendo adotado pela OMS, e 10 de setembro é o dia mundial de prevenção”.
PROJETO – O professor menciona como é a campanha em Toledo, específica da Unioeste. “O Projeto Casulo Sócio-Tecnológico de Gestão e Inovação Social tem mais de 20 anos. E em 2018 comecei a desenvolver um projeto para os alunos, porque tínhamos um índice grande de suicídios e autolesão. O primeiro projeto foi interessante, mas depois convidamos um grupo de profissionais de saúde e apliquei uma metodologia chamada Design de Aceleração de Inovação, e desse trabalho surgiu o Garra pela Vida, porque se chegou à conclusão que o fato de se criar um espaço ou ações de prevenções que ajudem as pessoas a desviar o pensamento de tirar a vida e perder a vontade de viver poderia contribuir. Cientificamente o suicídio tem três fases: pensamento, planejamento e execução”, esclarece Edson Marques.
PESQUISA – Segundo o professor, quando ele trabalhava no Núcleo Regional de Educação (NRE), que abrange 16 municípios da região, 92 colégios, ele fez um levantamento com os atendimentos realizados pelo SAMU, e se constatou que na região, entre outubro de 2018 a agosto de 2022, foram registrados 563 suicídios. E Toledo ficou em primeiro lugar com o maior número de suicídios, com aproximadamente 50% de todos os casos da região, 286; Marechal Rondon, 83; Palotina, 50 suicídios. “A faixa etária é de até 20 anos. Os dados trazem dias da semana dos suicídios: sábado e domingo e também o horário, que é entre a 1 hora da madrugada as 23 horas. A maior parte dos casos ocorrem na casa. Se a maioria é dentro da residência, todas as pessoas que moram no lar precisam ficar atentas. E manter distante venenos e cordas, porque um dos modos mais usuais no Paraná são por enforcamento e veneno”.
DADOS – Dos 563 suicídios, 301 do sexo masculino e 262 do sexo feminino. Suicídios aos domingos, 96%; sábados, 89%; e terças-feiras, 88%. Local de ocorrências: 415 em domicílios, 25 em UBS’s, nove nas repartições públicas e oito nas rodovias.
CAUSAS – Edson Marques comenta que os casos de origem de suicídios são múltiplos, “de ordem orgânica, falta de vitaminas; problemas de ordem psíquica, a pessoa está passando por problemas psicológicos, com vício de drogas, dependência de medicamentos. Essas pessoas, chamamos de população de risco. Estatísticas mostram que quem se suicidou apresentava um pouco dessas características. E os estudos apresentam que a pessoa precisa ter um sentido da vida. Viktor Emil Frankl, criador da logoterapia, sempre repetia uma frase que era do filósofo Friedrich Nietzsche que dizia: “Aquele que tem um porquê para viver pode enfrentar quase todos os comos”. E Frankl mostra que quem tem um sentido na vida, tem uma capacidade de criar um processo de prevenção e de higiene mental. Porque o sentido, que é a razão que a pessoa tem para realizar na vida, é que dá força para superar os problemas mais difíceis que têm. Temos uma frase que diz: Diga sim pela vida, apesar de tudo”, explica.
AJUDA – Para o professor, sofrer é inevitável, mas sofrer sozinho é opcional. “Se alguém está passando por isso, pensando em suicídio, tem que procurar um especialista, ou psicólogo particular, ou psicólogo do CAPS, um psiquiatra, e até mesmo um grupo de aconselhamentos. A secretaria municipal de Saúde tem um canal específico para auxiliar as pessoas. Existe ainda um canal oficial que é o ligue: 188, que é do Centro de Valorização da Vida (CVV), que pode ser um socorro emergencial, via telefone, sendo muito eficiente, do outro lado da linha têm profissionais preparados para poder ouvir e aconselhar, inclusive, evitar esse tipo de situação. E quem percebe que alguém próximo pensa em suicídio tem que ter cuidado. Primeiro tem que evitar os sermões; deixa de besteira, você tem casa, família. Porque isso pode levar a pessoa a pensar que é verdade, e com tudo isso, não consegue valorizar a vida, e não merece viver. Nessa hora é necessário ouvir mais e falar menos. Aconselhar a procurar ajuda e estimular a pessoa, sem desqualificar o que ela está sentindo”, orienta Edson Marques.
SETEMBRO AMARELO – A III Campanha: Pró-Vida com Garra: “Sim pela vida, apesar de tudo.” – Viktor Emil Frankl – terá uma programação, que começa nesta terça-feira, 12, até o dia 26 de setembro.
Terça-feira, 12, as 19h30, Palestra: “O guerreiro filosofo e o médico terapeuta de almas: lições da filosofia estoica e da logoterapia para o afrontamento ao sofrimento humano. Prof. Dr. Edson Marques Oliveira, coordenador do Projeto Garra pela Vida. Local: Campus de Toledo, auditório Bloco – A3. Dia 19, das 19h30 às 21h, haverá um minicurso, no Bloco B3; e dia 26, as 19h30, no Bloco B3, Oficina de Autocuidado. As inscrições são gratuitas.
