A sensibilidade, o conhecimento e a coragem de um professor transformaram a realidade da educação pública de uma cidade cearense que, historicamente, convive com problemas de saneamento, infraestrutura e segurança. O projeto de Alfabetização na Idade Certa tirou o município do rol dos piores e o alçou ao grupo dos melhores Índices de Desenvolvimento da Educação Básica do Estado e do Brasil.
O projeto que faz de Sobral modelo ao País começou há cerca de 20 anos e alterou, gradualmente, os pilares da educação básica, mostrando que com método, determinação e coragem é possível mudar a realidade de uma comunidade inteira. É disso que falou durante o 2º Fórum Econômico e Político do Oeste do Paraná, o professor Júlio César Alexandre, convidado para detalhar o tema Alfabetização na idade certa: A força da gestão por indicadores educacionais.
Com uso de indicadores do Pirls (Pesquisa Internacional de Progresso em Leitura), Júlio informou que 38% de alunos de escolas públicas do Brasil não dominam as habilidades mais básicas da leitura, no 4º ano, e que em outros países esse índice não chega a 10%. “O desenvolvimento econômico de qualquer país está fortemente ligado à educação de qualidade a partir da base”, comentou o professor, que também foi secretário de Educação no município cearense. A alfabetização tardia, na tentativa de compensar falhas nas séries iniciais, traz outros agravantes, piorando problemas de aprendizagem.

Mudar realidades
A educação, conforme Júlio, transforma realidades e 70% do que se vive até os cinco anos de idade determina a vida futura. Por isso, a alfabetização na idade certa é tão necessária, pontuou ele, destacando o aspecto central do método empregado em Sobral. “A desigualdade social é consequência de má educação pública, e não o contrário”, destacou o professor, para apresentar quatro eixos centrais do sistema empregado na cidade: avaliação externa formativa, fortalecimento da gestão escolar, fortalecimento da ação pedagógica e valorização do magistério.
São duas avaliações anuais que permitem, segundo Júlio, entender e aplicar correções substanciais com reflexões à qualidade do ensino. E elas envolvem alunos, professores, famílias e também analisam as políticas públicas vigentes. O que se busca é a comunhão de responsabilidades. O gestor escolar, seguiu ele, precisa ter uma liderança forte e proativa, que reside na figura do diretor. Ele deve articular, estudar a realidade da aprendizagem e buscar meios para, juntamente com sua equipe, implementar melhorias contínuas.
As ações devem ser baseadas em evidências, responsabilização, diálogo, concretização de ações, inovação e ponderação. A visão deve ser sistêmica, estratégica, com apoio à docência e aferição de decisões articuladas a partir de indicadores macros e micros. “O aluno que aprende tem autoestima elevada”, comentou o professor Júlio, lamentando que 28% dos municípios brasileiros ainda não cumprem o piso do magistério. Tanto em Sobral quanto em São Bernardo do Campo, em São Paulo, onde Júlio atua como secretário atualmente, ele implantou mecanismos de gratificação. “Se o professor cumprir a meta, é gratificado”.
Transformação
No início dos anos 2000, o índice de analfabetismo no primeiro e segundo anos era de quase 50%. Em 2016, 96% eram leitores com compreensão de texto. A partir de 2009, lembrou Júlio, os índices do Ideb de Sobral passaram a figurar entre os maiores do Ceará e do Brasil. A partir de 2015, o município cearense passou a liderar o ranking nacional do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Até 2005, os alunos da rede pública estavam abaixo dos da iniciativa privada, e depois de 2013, estavam com desempenho acima, comentou Júlio.
Sobral precisou de quatro anos de implantação e aperfeiçoamento do método de alfabetização na idade certa para erradicar o analfabetismo. “Não tínhamos nada no começo. Fomos errando e acertando até chegar a um modelo eficiente e hoje multiplicado em várias cidades. Em 2023 e 2024, o estado do Ceará ganhou o Prêmio Nacional de Cidades Excelentes. Tudo isso prova que é possível fazer educação de qualidade na escola pública”, afirmou o professor, que hoje está à frente da pasta da educação em um município de um milhão de habitantes.

Fonte: Assessoria de Comunicação da Caciopar