O Evangelho deste domingo (6/07) nos oferece um ensinamento precioso sobre a natureza da missão cristã (Lc 10,1-12.17-20). Jesus não envia apenas os doze apóstolos, mas escolhe 72 discípulos e os envia à sua frente, dois a dois, a toda cidade e lugar aonde Ele mesmo iria. Esse número tem um valor simbólico: representa a totalidade, indicando que a missão não é restrita a um grupo seleto, mas é responsabilidade de todos os que creem. Todo batizado é chamado a testemunhar o amor de Deus com a própria vida, como seguidor do Cristo morto e ressuscitado.
O ponto de partida está no fato que o Reino de Deus se aproxima. Não é a missão que dá origem ao Reino, mas é o Reino que motiva o missionário que o anuncia e se dispõe a acolhê-lo. Acima de todas as hesitações da humanidade, há a certeza de que Deus salva e de que o Reino está próximo.
Lucas nos oferece, assim, uma verdadeira catequese sobre a missão como fruto e consequência da fé. Jesus apresenta características fundamentais para quem é enviado: não se parte sozinho, mas em companhia, dois a dois. A missão é expressão de uma Igreja que caminha unida, sustentada pelo mesmo Espírito. Ela não pode ser encarada como um projeto pessoal, mas como serviço à Palavra e à comunidade.
Os enviados devem carregar apenas o essencial. O missionário não se apoia em riquezas, status ou poder, mas na força da mensagem que anuncia. A urgência do anúncio é simbolizada pelo pedido de não se deter em saudações no caminho. A saudação do discípulo deve ser: “A paz esteja nesta casa”. Esta paz, que vem de Deus, permanece naqueles que a acolhem com o coração aberto.
Jesus também não esconde as dificuldades da missão: “Eis que vos envio como cordeiros entre lobos”. Haverá oposição, incompreensões e rejeição. No entanto, o missionário não está sozinho. Deus caminha com ele. É na fragilidade confiada ao Senhor que se inaugura um novo tempo, um tempo de reconciliação, de paz verdadeira.
Ao voltarem, os 72 estavam cheios de alegria: testemunharam curas, conversões, o mal sendo vencido. Mas Jesus os convida a irem além: a verdadeira alegria não está nos resultados visíveis, mas em saber que seus nomes estão escritos no céu. Isso significa que estão em comunhão com Deus, inseridos no seu projeto de amor e salvação. Sentem-se amados, acolhidos e enviados. Descobriram que a missão não é fazer coisas, mas viver na intimidade com o Pai.
Essa experiência dá sentido à vida. Somos chamados a nos reconhecer como filhos de Deus, nascidos do Seu amor, e caminhando para Ele. A missão está ao alcance de todos. Cada batizado é chamado a ser testemunha da esperança, mensageiro da paz, sinal vivo da presença de Cristo no mundo.
Testemunhemos, com alegria, que Jesus está conosco. Somos parte de uma Igreja viva, chamada a irradiar a luz do Evangelho. Sejamos anunciadores da paz verdadeira, aquela que vem de Deus, transforma os corações e encaminha para a vida eterna.
Dom João Carlos Seneme, css
Bispo de Toledo