Dez leprosos vêm ao encontro de Jesus. Não podem se aproximar porque são considerados impuros. De longe pedem a compaixão de Jesus. Aqueles homens rejeitados e invisíveis acreditam em Jesus e lhe pedem a cura. Jesus olha para eles com compaixão e o milagre acontece. “Ide apresentar-vos aos sacerdotes!” Era a forma de recuperar a vida e voltar ao convívio da comunidade. Enquanto caminham, ficam curados, “limpos”.

No entanto, somente um dos dez leprosos, ao longo do caminho, descobriu ter sido curado. Então “voltou dando glória a Deus, em alta voz”. Cai com o rosto ao chão, aos pés de Jesus, e dá graças a Deus: ele era um samaritano. O reconhecimento de ter sido curado é motivo de gratidão. Ele experimenta Jesus como o Senhor da vida. Ele se torna uma modelo daquele que crê: ele não para no milagre, mas vai além, a partir deste momento se torna um discípulo porque Jesus é o Filho de Deus que veio trazer a salvação.

Todo relato bíblico deve nos levar à conversão, confrontar a própria vida com a revelação do amor de Deus e ser capaz de mudar, olhar o mundo e as pessoas com olhos diferentes. O evangelho deste domingo (13/10) nos questiona se somos capazes de agradecer. Recuperar a gratidão pode ser o primeiro passo para solidificar a nossa relação com Deus.

Como seria uma religião onde não aprendemos a agradecer; onde nosso relacionamento com Deus se restringe numa espécie de contrato: “eu te ofereço minhas orações e tu me garante a proteção?”. A experiência religiosa é fundamentalmente louvar e agradecer a Deus, reconhecendo que tudo o que Ele faz é gratuito: não há cobrança e muito menos troca!

O gesto do samaritano põe em relevo a ingratidão dos nove judeus, que parecem se esquecer de deveres elementares ou não reconhecem a mediação de Jesus. A gratidão a Jesus pela salvação é componente essencial da vida cristã.

A salvação que ninguém pode alcançar, já foi dada a todos os dez homens. Mas só um tem a fé e encontra o Salvador. A salvação não consiste em ser curado pela lepra, mas encontrar a quem nos curou. A sede não acaba com um copo de água; é necessário encontrar a fonte. Ao dom deve corresponder nosso agradecimento ao doador. Somente a relação com Ele nos salva; seus dons são simples meios para nos colocar em comunicação com Ele. A salvação foi oferecida a todos, porém nem todos a acolheram. Muitos, nove sobre dez, não sabem que foram salvos, vivem e morrem como leprosos. São como um pássaro na gaiola, que não sabem que a porta está aberta.

O único que volta para agradecer é enviado para dar a boa notícia para todos: que se abram os olhos dos cegos e que vejam a luz! O anúncio leva a descobrir e aceitar o dom.

Finalmente fica o desafio de refletirmos se fazemos parte da “igreja dos nove” ou se somos capazes de voltar para agradecer e nos colocar aos pés do Filho de Deus e reconhecer n’Ele o nosso Salvador. Nossa Senhora Aparecida, rainha e padroeira do Brasil, abençoa nossa Diocese!

Dom João Carlos Seneme, cssBispo de Toledo