Dilceu Sperafico*

            O comércio virtual, como mais um dos tantos efeitos ou resultados da tecnologia moderna, é mais uma prova que determinados avanços da comunicação podem estar distanciando mais que aproximando os seres humanos de seus semelhantes.

As conhecidas imagens de pessoas concentradas em aparelhos de telefone celular, ignorando pessoas próximas, sejam elas familiares ou amigos, em ambientes domiciliares e públicos, são provas incontestáveis desse fenômeno lamentável.

Já há quem diga que a ciência pode estar até reduzindo a inteligência e/ou criatividade das pessoas, mas entre as mais efetivas consequências negativas da moderna tecnologia, salvo algum engano, está a deterioração das relações humanas, sociais, culturais e até econômicas.

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Nos Estados Unidos, por exemplo, o que muitos justificam como reflexo da decadência do capitalismo, nada menos do que um quarto dos atuais shoppings centers poderá encerrar suas atividades até 2022, mas há também quem aponte o comércio virtual como o maior responsável por essa perda comercial.

Ocorre que a economia norte-americana voltou a crescer e as pessoas continuam consumindo, pois só estão abandonando o hábito de procurar lojas e mercados tradicionais, para adquirir equipamentos eletrônicos, roupas, acessórios e até alimentos, preferindo fazer a escolha, encomenda e formalização da compra pela internet, pagando com cartões e recebendo as mercadorias em casa.

De acordo com recente relatório do Banco Credit Suisse, de 20% a 25% dos atuais shopping centers nos Estados Unidos deverão fechar as portas nos próximos três anos, o que, se confirmado, significará a suspensão de atividades de até 300 dos cerca de 1,2 mil centros comerciais existentes naquele país.

            Os números, segundo responsáveis pela divulgação do relatório, são do CoStar Group, foram fornecidos pelo Conselho Internacional de Shopping Centers e se referem apenas à possibilidade de grandes estabelecimentos serem fechados.

            Conforme o mesmo estudo, o movimento de pessoas nos centros comerciais de maior porte vem decaindo há alguns anos e o apontam como fenômeno estrutural, diante das alternativas de compras e de lazer na internet ou redes sociais.

            Conforme o levantamento, somente nos Estados Unidos, o fechamento de lojas tradicionais somou 3,6 mil estabelecimentos em 2019 e pode chegar a 8, 6 mil no balanço do ano, número, que se confirmado, será quatro vezes maior que o registrado em 2016.

            Entre as explicações para o fenômeno está a concorrência do mercado eletrônico, cada vez mais competitivo em preço, agilidade e diversidade de produtos. Estimativa dos responsáveis pelo levantamento é que a parcela do comércio eletrônico que atua nas vendas de vestuário, cresça dos atuais 17% para 37% em 2030.

            Outro fator é a ascensão de outlets, que ganham maior mercado, mesmo não estando em shoppings tradicionais. No Brasil, segundo estudos recentes, 20 shopping centers inaugurados em 2018 operam com vacância média de 55% ou mais da metade dos espaços para instalação de lojas em suas dependências.

            Segundo especialistas, 2016 foi a primeira vez em 12 anos em que shoppings brasileiros tiveram mais lojas fechadas do que abertas ao longo do período.

Uma das justificativas para a decadência seria a crise econômica enfrentada nos últimos anos, cuja superação apenas começa a dar sinais, o que indica incerteza com relação ao futuro desses estabelecimentos no País.

*O autor é ex-deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado. E-mail: dilceu.joao@uol.com.br

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