Dom João Carlos Seneme, Bispo da Diocese de Toledo. Foto: Divulgação

Durante o tempo litúrgico da Quaresma, a Igreja recorre ao Evangelho de João para fortalecer o caminho dos fiéis que buscam o Batismo e outros sacramentos na Vigília Pascal. As passagens evangélicas selecionadas para facilitar o caminho para a plena comunhão incluem a samaritana junto ao poço (Jo 4), a cura do cego de nascença (Jo 9) e a ressurreição de Lázaro dos mortos (Jo 11). Essas passagens reforçam que os símbolos da água, luz e vida são essenciais para a caminhada espiritual. O objetivo deste caminho quaresmal é a restauração entre Deus e sua criação.

No Evangelho deste domingo (Jo 9,1, 41), a cura do cego destaca mais do que apenas a restauração da visão. Na verdade, sua cegueira parecia existir especificamente para este grande sinal. “Nem ele nem seus pais pecaram”, explica Jesus, “mas é para que nele se manifestem as obras de Deus” (Jo 9,3).

Mais do que a cura do cego nascença, o que interessa no texto é o itinerário de fé que este homem faz. Ele vai amadurecendo a fé até afirmar que Jesus é o Senhor. É uma catequese que ajuda o homem à descoberta e aceitação de Jesus como o Salvador. O homem cego, que retoma a visão pela ação de Jesus, no início não sabe quem é Jesus e, aos poucos, vai descobrindo o que aconteceu com ele: Jesus lhe deu a visão que os fariseus querem tirar. Aqui se encontra a polêmica do texto: este pobre homem que nasceu cego deve escolher entre uma religião de vida, de luz, de felicidade ou uma religião de morte, como lhe propõem os fariseus, que se irritam mais porque o milagre aconteceu no sábado. Jesus quer revelar que Deus acompanha o sofrimento de seus filhos e filhas não importa onde eles estejam, dentro da sinagoga, na rua, se é sábado ou domingo.

O homem deve se lavar na piscina de Siloé. É o símbolo do nosso Batismo, mergulhamos no mistério da vida do Senhor. No nosso relato, todos percebem que ali aconteceu algo maravilhoso, não compreendem tudo, mas sentem a manifestação de Deus. Somente pela fé conseguem intuir que um milagre aconteceu. Precisamos de um olhar especial para compreender o que Deus realiza em nossas vidas. Muitas vezes precisamos deixar de lado os critérios humanos e se arriscar no mundo de Deus para descobrir seus caminhos e segui-los sem medo. Aquele homem curado da cegueira começa a experimentar a salvação de Deus trazida por Jesus Cristo, mas ainda não sabe quem Ele é. Os fariseus não conseguem fazer este mesmo caminho porque estão presos a esquemas antigos e preconceituosos que dificultam o encontro com Jesus e com a vida nova que ele traz. De forma irônica eles podem ver, mas estão “cegos” e não podem ser curados, pois têm o coração fechado.

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Mesmo depois de curado, o homem ainda é rejeitado e Jesus vai ao seu encontro. Finalmente o homem compreende quem é Jesus e se entrega completamente a Ele: “Eu creio, Senhor, e prostrou-se diante dele”. Descobre que Jesus é o Filho de Deus entre os homens, que foi ao seu encontro e abriu seus olhos para ver a vida e deu-lhe a liberdade.

Dom João Carlos Seneme, css

Bispo diocesano de Toledo