O produtor teve um custo de R$ 370,00, somente de diesel por alqueire. Foto: Albari Rosa/AEN

Por Marcos Antonio Santos

A colheita do milho da segunda safra está chegando ao fim nas lavouras do município de Toledo. Com boas e más notícias: se por um lado a produção poderá chegar a quase 450 mil toneladas, por outro lado, os custos da produção estão semelhantes ao do preço da saca de 60 quilos, com um valor, hoje, de R$ 43,50.

“A previsão a princípio eram de 390 mil toneladas, mas a produção foi muito boa e poderá ser de 450 mil toneladas, quem sabe 500 mil toneladas. Nessa colheita praticamente não tivemos inverno, foi um clima de verão. O preço da saca do milho caiu muito e para poder compensar tivemos uma boa produção e com ótima qualidade”, afirma a engenheira agrônoma do Departamento de Economia Rural (Deral) do Núcleo da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab) do município de Toledo, Jean Marie Ferrarini.

Segundo ela, em Toledo, a colheita está quase no fim, chegando a 97%. “Em Toledo são 65 mil hectares de área plantada de milho e a produtividade poderá ser de 7 mil kg/ha. Na região da Seab, a colheita está em cerca de 95%. Assis Chateaubriand e São Pedro do Iguaçu estão um pouquinho atrasadas”, diz.  

DIESEL – Além dos custos da produção, preço do fertilizante, preço da saca do milho, outra preocupação dos agricultores é o custo do diesel e o impacto na produção.

Em uma conta simples e arredondando: 65 litros de diesel S500 para colher e transportar 01 alqueire de milho, ao preço de R$ 5,70 o litro do diesel, o produtor teve um custo de R$ 370,00, somente de diesel por alqueire para colher e transportar o milho colhido nessa área. Isso representa 10 sacas de custo.

Colheita do milho tem uma boa produção e com ótima qualidade. Foto: Albari Rosa/AEN

ANÁLISE – A Gazeta de Toledo consultou o professor Valdir Antonio Galante, que é economista e professor no Curso de Ciências Econômicas e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Unioste/Toledo, para analisar a alta do preço do diesel e os impactos da produção do milho da segunda safra.

Ele afirma que é de conhecimento geral que, pela perspectiva do produtor, custos menores são melhores. “Logo, quando tratamos da atividade agropecuária, o custo com combustível (diesel em especial) é central, visto ser utilizado nas fases de plantio, aplicação de defensivos, colheita, transporte, além de atividades relacionadas, constituindo-se em importante componente do custo de produção”.

Para o professor, a política de preços exercida no Brasil apresentou diversas mudanças nos últimos anos (o denominado PPI – Preço de Paridade Internacional), trazendo muitos reflexos no preço na bomba, que é o item relevante para o produtor. “Contudo, outras questões interferiram na flutuação dos preços dos últimos anos: câmbio excessivamente desvalorizado, mudança na carga tributária dos estados, aumento de transferência de lucro a acionistas, instabilidade externa (pandemia, guerra), dentre outros”.

Valdir Galante disse que como bem apontou o presidente da CNT, Vander Costa, quando se atingiu o pico de preços em março de 2021, “é preciso adotar medidas estruturais capazes de estabilizar a trajetória de preços em um horizonte de tempo mais amplo” (CNT, 2021). “Tal posição se deve, evidentemente, à importância do item no processo produtivo, no qual a instabilidade dos preços constitui barreira adicional ao planejamento da atividade”.

Professor disse que há alguns dias se observa novo reajuste de preços. Foto: arquivo pessoal

PPI – “O comportamento dos preços dos principais combustíveis pode ser visto a preços atualizados, para os últimos 20 anos, onde se percebe maior perturbação de alta a partir da adoção do PPI (segundo semestre de 2016) e, em especial, a partir de 2019-2020, quando as demais perturbações acima ocorreram”, explica o professor.

Ele recorda que nos últimos meses, diversos ajustes estão sendo implementados, alguns com efeito positivo ao produtor agrícola (flexibilização do PPI, valorização do câmbio, revisão da política de dividendos, superação da pandemia). “Alguns pressionaram os preços para cima, como a recomposição da política tributária dos estados. Outros ainda não foram modificados, como o conflito na Europa, para não estender a lista”.

De acordo com Galante, há alguns dias observamos novo reajuste de preços, depois de alguns meses de redução. “Consulta feita no fim de agosto aponta o diesel comum sendo comercializado a R$5,99/litro em Toledo, em autoposto estabelecido próximo à BRF. O valor está inferior àquele atingido há cerca de 15 meses (pico), quando esteve em cerca de R$8,00/litro, mas ainda desconfortável àqueles que o utilizam no processo produtivo, sobretudo em cenário de baixa na cotação dos principais produtos agropecuários”, finaliza o professor Valdir Antonio Galante.

DERAL – Segundo levantamento mensal de agosto do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná divulgado na última quinta-feira (31), as lavouras de milho de segunda safra do estado devem apresentar um aumento de mais de 20% na produtividade em comparação com a safra 2021/22. O incremento tem sido fundamental para equilibrar eventuais perdas decorrentes da queda no preço do grão.

O documento apresenta dados referentes a 28 de agosto que indicam rendimento médio das lavouras no Paraná em 5.888 quilos por hectare. Um aumento de 1,7 % na comparação com o levantamento apresentado em julho. Na safra 21/22, a produtividade média por hectare foi de 4.880 quilos o que significa um aumento de 20,67%.