A liturgia da Palavra deste domingo (11/05) nos apresenta a imagem de Jesus como o Bom Pastor que dá a vida por suas ovelhas. Por isso a Igreja nos convida a rezar pelas vocações sacerdotais e religiosas. Precisamos de bons pastores que, a exemplo de Jesus, se dediquem sem reserva ao bem espiritual das comunidades cristãs. Jesus é o verdadeiro Pastor do seu povo. Ele é o modelo para todos nós.
Desde o século III, o Bom Pastor é a primeira imagem usada pelos cristãos, nas catacumbas, para representar Jesus Cristo, muitos séculos antes da imagem do crucificado. A razão do uso da imagem do bom pastor está na riqueza bíblica que a imagem evoca com o qual Jesus se identificou e que São João (capítulo 10) reinterpretou em chave messiânica. De fato, são muitas as expressões que indicam a vida e as relações entre Jesus e suas ovelhas: entrar, sair, conhecer, chamar, escutar, abrir, guiar, caminhar, seguir, perder, sequestrar, dar a vida.
Jesus nos assegura obstinadamente que sua iniciativa de salvar as ovelhas será bem-sucedida: “elas jamais se perderão, e ninguém vai arrancá-las da minha mão… e ninguém poderá arrebatá-las da mão do Pai”. Esta segurança não se baseia na bondade e na fidelidade das ovelhas, mas no amor gratuito de Cristo, que é mais forte que as misérias humanas. Ele não desiste de nenhuma ovelha, mesmo que elas tenham se afastado ou não o conheçam: todas devem entrar pela porta que é Ele mesmo, porque Ele é a única porta, o único salvador. Ele oferece a sua vida por todos: “há outras ovelhas que não pertencem a este redil; a essas tenho que guiar para que escutem minha voz e se forme um só rebanho com um só pastor”. A missão da Igreja é católica, universal: vida oferecida a todos, vida em abundância, perspectiva do único rebanho… Mesmo que o rebanho seja numeroso, ninguém é mais importante, ninguém se perde no anonimato. A relação entre pastor e ovelha é pessoal: o pastor conhece suas ovelhas, as chama uma por uma, pelo nome e elas o escutam e o seguem.
Para o evangelista João, a boa notícia da Páscoa é dupla: Cristo é o Bom Pastor de coração ferido, de quem emana a vida para “uma multidão imensa e variada” que ninguém pode contar (segunda leitura); e Ele também é o Cordeiro imolado, em cujo sangue todos encontram purificação e conforto na grande tribulação. Em sua contemplação, João identifica Jesus como o Cordeiro e o Pastor, que conduz “às fontes das águas da vida”. A vida sem fome, sede ou lágrimas um dia será uma realidade; por enquanto permanece como uma promessa, uma palavra certa que se cumprirá. Cordeiro e Pastor são dois símbolos correlativos que se complementam. Jesus é o Bom Pastor, porque é o Cordeiro imolado para dar vida ao mundo; Ele é um bom Pastor, porque primeiro é um Cordeiro gentil, um servo disponível. Somos todos um pouco pastores e um pouco ovelhas; seremos tanto melhores pastores quanto mais formos cordeiros mansos e servos disponíveis para a vida do rebanho.
Jesus é pastor e ovelha, porque teve misericórdia, cuidou do rebanho; a qualidade da nossa vida é medida pela nossa capacidade de cuidar dos outros. O cristão é chamado a amar e servir os necessitados; e anunciar o Evangelho de Jesus, mesmo em meio à oposição e à resistência, com a consciência de Paulo (1ª leitura) de ser chamado a ser luz dos povos, até aos confins da terra. Seguindo os passos de Paulo e contemplando o Bom Pastor, compreendemos o apelo do Dia Mundial de Oração pelas Vocações. A vocação de consagração especial (sacerdócio, vida consagrada, vida missionária, cristãos leigos e leigas…) se fortalece na experiência pessoal de se sentir amado e chamado por Deus.
Dom João Carlos Seneme, css
Bispo de Toledo