Dom João Carlos Seneme, Bispo da Diocese de Toledo. Foto: Divulgação

Depois das festividades que celebramos – Ascensão, Pentecostes, Santíssima Trindade, Corpus Christi –, voltamos aos Domingos do Tempo Comum e continuamos a ler o Evangelho de Marcos, que é o que corresponde a este ano do Ciclo B. Marcos tem apresentado o ministério de Jesus na Galileia, ensinando, curando e chamando seus discípulos. No Evangelho de hoje (Mc 3,20-35) Jesus chega em uma casa e é cercado por uma multidão. A partir daqui o texto terá três partes: A primeira, os familiares que vão procurá-lo porque ouviram dizer que “Ele está maluco”. A segunda, a discussão com os escribas que afirmam que Jesus age por estar do lado de Belzebu ou príncipe dos demônios e em seu nome expulsa os demônios; a terceira, Jesus aproveita a presença de seus familiares para declarar quem é a verdadeira família do Reino.

Na primeira cena, os parentes de Jesus chegam para desviá-lo de sua pregação messiânica, alegando que ele está “fora de si” (o que equivale a dizer, naquele tempo e cultura, que ele estava possuído pelo demônio).

No centro da narração, aparecem os mestres da Lei acusando Jesus de expulsar os demônios pela força do demônio Belzebu (que supostamente estava nele). Jesus revela o absurdo das acusações: o seu poder não vem do demônio, pois estaria lutando contra si mesmo: o seu reino estaria dividido. Em seguida, no seu discurso utiliza a imagem do reino acentuando o poder hierarquizado e ordenado que deveria possuir Satanás, se o reino se divide, ele perece. Fala também da imagem da família destacando a proximidade das pessoas em uma pequena comunidade. Se a comunidade se divide por qualquer motivo, ela se arruína.  Jesus os convida a compreender que nem um reino, nem uma casa, nem satanás, divididos contra si mesmos, podem existir. Jesus é o mais forte, ele veio em socorro de nossa fraqueza no embate cotidiano contra todas as manifestações do mal. Cabe a nós estarmos ao seu lado, pois a vitória também é nossa.

O pecado contra o Espírito Santo se dá quando os escribas se recusam a reconhecer O Espírito do Pai que opera através de Jesus. Destaca-se que a misericórdia de Deus é eterna. Falar sobre o pecado contra o Espírito indica que o ser humano é livre para escolher e chama a nossa atenção para não confundir a ação de Deus com a ação do mal como fazem os escribas.

Na terceira parte, os familiares de Jesus aparecem novamente, liderados pela sua mãe, e a resposta de Jesus parece desconcertante. Jesus explica que os vínculos familiares são coisa grande; por isso Jesus que tem um Pai no céu está criando uma nova família, definida pelo cumprimento da vontade de Deus. A família do reino é formada por aqueles que entram na casa, aqueles que ouvem a palavra, aqueles que reconhecem a obra do Espírito de Jesus. Ou seja, a família que se forma em torno de Jesus não é a família biológica, mas a dos discípulos.

É tempo de pedir que o Senhor alimente nossa fé e nossa coragem. Por isso aclamamos: “Ó meu Deus, sois o rochedo que me abriga, minha força e poderosa salvação, sois meu escudo e proteção, em vós espero”! (Antífona da comunhão Sl 17,3).

Dom João Carlos Seneme, css

Bispo de Toledo