Há no ar político de Toledo certos ranços persistentes, que parecem ressurgir sempre que o tabuleiro eleitoral começa a ser montado. Mais uma vez, o jogo recomeça — mas não à luz do dia. Movimentos silenciosos, alianças improvisadas, promessas feitas longe dos olhos do eleitor e, dos principais personagens. O que se desenha não é uma disputa de ideias, mas um jogo de peças marcadas.
Vejo bispos que falam em moralidade, mas caminham enviesados, sempre buscando o caminho mais conveniente para o poder. Torres que deveriam proteger os princípios republicanos se curvam a interesses pessoais, vendendo apoio como se fosse mercadoria barata. Rainhas que outrora brilharam, agora se movem com receio, acuadas por escândalos mal resolvidos. E os reis, esses, muitas vezes não passam de peças decorativas, protegidos por peões dispostos a tudo, menos a pensar por si.
A cada eleição, parece que os peões — o povo — entram no jogo apenas para serem sacrificados, movidos por discursos ensaiados, promessas recicladas e favores disfarçados de políticas públicas.
Esse xadrez das sombras não é apenas traiçoeiro — é cínico. Aqui, os lances não seguem lógica democrática, mas sim o compasso de vaidades, revanchismos e ambições que ignoram o bem comum. O tabuleiro, que deveria ser um campo de disputas limpas, foi deformado por tantos interesses ocultos que hoje trai até quem joga com boas intenções.
Toledo merece mais que isso. Merece jogadores que joguem limpo, que saibam perder com dignidade e vencer com propósito. Mas para isso, será preciso acender as luzes sobre o tabuleiro e expor quem, de fato, está por trás dos movimentos mais sutis.
Enquanto isso não acontece, resta ao eleitor abrir os olhos e ler o jogo além das aparências. Porque, neste xadrez das sombras, o xeque-mate pode ser coletivo — e o prejuízo, sempre público.