Um dos temas mais recorrentes na Bíblia é a humildade como condição escolhida por Deus para se manifestar no mundo. Deus não escolhe o caminho do poder. Ele exalta os pequenos, os humildes. Para conhecer Deus é preciso deixar de lado o desejo humano de ser grande, poderoso. “Bem-aventurados os pequenos”.

O Evangelho deste domingo (05/07), intenso e profundo, é composto de três partes: uma oração (“Eu te louvo, ó Pai…”), uma declaração sobre si mesmo (“Todas as coisas me foram dadas pelo meu Pai…”) e um convite (“Vinde a mim todos vós que estais cansados…”). A oração de louvor contém uma revelação de extraordinária importância: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos”. Jesus revela o seu segredo mais profundo: Filho do Pai, unido a ele na mesma natureza, isto é, pelo mesmo Espírito, ele mesmo Deus. Dirige-se ao Pai chamando-o em sua língua natal (aramaico), Abba, isto é, papai, paizinho. Por isso encanta os mais simples, puros de coração e escandaliza os mais inteligentes, duros de coração que não conseguem acolher Jesus porque o consideram simples demais, humano demais.

Na primeira carta aos Coríntios São Paulo afirma: “Para envergonhar os sábios, Deus escolheu aquilo que o mundo acha que é loucura; e, para envergonhar os poderosos, ele escolheu o que o mundo despreza, acha humilde e diz que não tem valor. Isso quer dizer que ninguém pode ficar orgulhoso” (1Cor 1,26-29). Para se aproximar de Deus é preciso fazer o caminho de Jesus: ele nasce em uma manjedoura, vive a simplicidade dos pobres, escolhe seus discípulos entre os pecadores e anuncia o evangelho nos caminhos da Galileia.

As palavras de Cristo e Paulo lançam uma luz singular sobre o mundo de hoje. Muitos considerados sábios e cultos se afastaram Deus e perderam a fé. Muitas vezes olham com piedade a multidão dos que têm fé, que rezam, que acreditam em milagres e se ajoelham diante de Nossa Senhora Aparecida. O orgulho pode interromper nosso caminho de encontro com Deus que se dá através da humildade e do reconhecimento dos limites de nossa sabedoria. Jesus nos mostrou o caminho: fez-se ele mesmo manso e humilde e convidou a estar com ele: aprendei de mim!

As palavras de Jesus dirigidas aos escribas e fariseus, que colocavam o cumprimento da lei acima de Deus, tornam-se motivo de questionamento para nós. São os pequenos, pobres, pecadores que acolhem a sua palavra e a sua pessoa. São os pequeninos que compreendem a dinâmica do Reino, por isso Jesus bendiz o Pai por eles. Ele chama a si todos os que estão cansados e abatidos. Ele quer a nossa ajuda para revelar o mistério de Deus: seu jugo é suave e seu fardo leve.

Jesus é o caminho para conhecer o Pai. Ele é Messias, o Filho revelador do Pai que conhece profundamente o mistério de Deus. Ele se define como manso e humilde de coração, modelo para todos aqueles que projetam a vida não a partir de presunção e arrogância, confiando apenas em suas próprias forças, mas a partir de um desígnio divino, que é sempre um desígnio de mansidão e humildade.

 

Dom João Carlos Seneme, css

Bispo de Toledo