Muitos leitores têm me cobrado — e com razão — o retorno das minhas aves penosas e fétidas, popularmente chamadas de “urubus” e, cientificamente, Coragyps atratus. São as clássicas aves carniceiras, sempre presentes nos bastidores do poder. Circulam, farejam e rondam aquilo que se tenta esconder. E, pelo cheiro no ar, parece que já têm bastante carne para bicar.
Silêncio incômodo
Um leitor assíduo — desses que acompanham com lupa — me lançou uma provocação: estou poupando a atual administração? Insinuou que me calei. Reconheço que estive e estou, de fato, mais contido em relação às ações da gestão atual. Mas não por omissão, tampouco por conveniência. É que não tem nada fétido, no ar, por enquanto.
Minha linha editorial é clara: falo quando há o que dizer, com fatos, coerência e responsabilidade. Jornalismo sério não se faz no grito, nem se prostitui por interesses de gabinete ou conveniências de bastidor. Mas também não se cala diante do que deve ser exposto. Prudência é virtude; omissão, não.
A ética acima do sensacionalismo
Um jornalista não pode ser inconsequente, nem apressado, muito menos desrespeitoso. Isso seria trair a essência da profissão. E não há nada mais desprezível do que um mau caráter travestido de jornalista.
Quem se cala por conveniência, quem negocia manchete ou suaviza crítica em troca de favores, é tão carniceiro quanto os urubus que denuncia. Apoiar o que é correto, sim. Mas jamais deixar de fiscalizar o poder — seja ele exercido por quem for.
A bolha voltou?
Outro dos meus velhos “urubus” soprou no meu ouvido que aquela velha bolha de bajulação, maquiagem de dados, e, “partilhas”, está sendo inflada novamente nesta gestão. Pior. Segundo ele, ainda há membros da antiga gestação com rabo preso, principalmente com “vereadores”. Se for verdade, preparem-se: vou estourar essa bolha com palavras afiadas se os fatos forem concretos.
Aqui não há espaço para narrativas vendidas como eficiência. Se a vaidade tomou conta, se a autocrítica evaporou e o teatro de resultados virou rotina, os leitores — e os pagadores de impostos — merecem saber.
Fogo amigo?
Outro alerta feito pelo meu “urubu-cívico”, ainda sob apuração, fala de fogo amigo dentro da gestão. Dois nomes de secretarias foram citados. Se confirmado, é gravíssimo. Fogo amigo com recursos públicos não é só traição interna — é sabotagem administrativa, desperdício de dinheiro, crime moral contra a população e, não menos importante, um tapa na cara do contribuinte e do chefe maior.
E lembrem-se: nesta coluna a verdade não se ofusca, nem se empacota com fitinha institucional. Aqui, silêncio comprado ou jornalismo amestrado não tem vez. Meus urubus estão sempre atentos — e com apetite para mostrar o real, como sempre o fizeram. Nunca o fake.
NÚMEROS ESPANTOSOS
Com a devida vênia, meus nobres urubus…
Vocês sabem: não atiro no escuro. Muito menos no mato e horário de expediente com 9mm (isso dá merda). Minha mira é precisa, meus alvos são reais, meus dados são verificáveis. E, sim — os números que começam a aparecer desde a mudança de gestão são, no mínimo, assustadores de tão positivos. (R$ 213 MI, em 182 dias, média R$ 1.2 mi dia)
Mas aqui vai um alerta de quem não se impressiona com apresentações em PowerPoint: número bonito não vai pra coluna sem extrato, sem execução real, sem impacto direto na vida da população.
Hora de mostrar serviço — de verdade
Já passou o tempo da transição, da “arrumação da casa”, das poses ao lado de máquinas paradas e frases de efeito. Agora é hora de fazer as máquinas reais girarem — não só as retroescavadeiras, mas todas as engrenagens do serviço público. Da Saúde à Educação, da Infraestrutura à Cultura. A população quer serviço real, atendimento resolutivo, resultado concreto — e não anúncio reciclado com moldura nova.
Cuidado com a ilusão dos números
Cuidado, gestores! Números podem ser espantosos… mas também enganosos. Um gráfico bem editado engana até o eleitor mais vacinado. Só que aqui, meus urubus, não voamos em meio a fumaça de holofotes. Bicamos onde fede. E sabemos farejar quando há perfume demais pra esconder incompetência.
Nessa terça-feira, 24, dona Wanda Dal Oglio, completa 103 anos.
Prepare suas cobertas, pois, a temperatura deve cair próximo dos 3 graus nessa terça-feira em Toledo
Cobrança com responsabilidade
Jornalismo sério não é oposição burra, nem bajulação oportunista. É cobrança com ética, com coerência e com a coragem de dizer o que muitos temem publicar. E que fique claro: elogiar o que vai bem não é puxa-saquismo — é honestidade.
Mas silenciar diante da incompetência, dos conchavos, das maquiagens administrativas e do teatro da eficiência, isso sim é canalhice jornalística e traição ao público. Aqui, não. Aqui, jamais.
Confiança: o cavalo de Troia dos trouxas
Confiança é aquele sorriso simpático que a política veste antes de cravar os dentes nas costas do incauto. É o perfume doce que disfarça o hálito podre dos conchavos. E o mais curioso? A facada nunca vem do inimigo declarado. Essa, pelo menos, você espera. O golpe mais certeiro vem do aliado, do braço dado, do que jura lealdade olhando nos olhos — enquanto, com a outra mão, limpa a lâmina.
No tabuleiro do poder, a confiança é o peão que se fantasia de rei e, quando vê, já virou bispo na sacristia das traições. Aliás, política é o único jogo onde o cheque-mate não se dá com estratégia, mas com silêncio, sorrisos de canto e muita hipocrisia institucional.
Você abre o jogo, compartilha planos, deixa escancarado o mapa da mina — achando que está formando um time. E está mesmo: um time pronto pra te enterrar no primeiro tropeço. Tudo com justificativas lindas como “estratégia”, “ajuste técnico”, “reposicionamento” ou a favorita dos canalhas: “foi uma decisão difícil”.
Difícil é confiar.
Enquanto os urubus sobrevoam, a carniça política fermenta em salas com ar-condicionado e sorrisos ensaiados. E o mais irônico? São justamente aqueles que você puxou pra dentro, que você blindou, que você empoderou com senhas, cargos e microfones, que vão ser os primeiros a entregar o banquete da sua reputação à fogueira das vaidades.
Porque política, meus caros, é uma arte. A arte de apunhalar com luva branca, de trair com discurso técnico, de mascar incompetência com planilha colorida. E quando a conta chega — e ela sempre chega — os “confiáveis” já estão com as mãos limpas e um discurso pronto para os holofotes: “Jamais compactuei”.
Aham.
Confiança, nesse meio, é como guarda-chuva de pobre: só aparece quando não está chovendo. No primeiro temporal, some. Some com o assessor, com o amigo, com o padrinho político e com o resto da ética que ainda tentava sobreviver entre uma coletiva e outra.
E não se iluda: os que te traem hoje serão os primeiros a discursar amanhã em nome da “transparência”, “moralidade” e — claro — da “eficiência administrativa”. Porque a política tem horror ao vácuo… e adora um oportunista com a faca afiada e o discurso na ponta da língua.
Portanto, um conselho de quem já viu muito urubu engolir pombo-correio: se for confiar em alguém, que seja no seu instinto. E mesmo assim, desconfie.
Porque, no fim das contas, quem confia demais em política acaba virando manchete… ou cadáver de bastidor.