Nesse domingo comum, o sol brilhava preguiçoso sobre Toledo, iluminando a Catedral Cristo Rei com uma luz suave e acolhedora. O jornalista Marcos Antonio, como faz rotineiramente, saiu da missa dominical, sentindo-se renovado pelo sermão inspirador do padre, e atravessou a Praça Willy Barth, respirando o ar fresco da manhã, quando inesperadamente foi atacado.
Ao dobrar a esquina da Rua Leonardo Júlio Perna com a 7 de Setembro, deparou-se com três cachorros, fiéis companheiros dos andarilhos que habitam a praça, que fazem festa e até desfile de “lingerie”. Os cães, de aspecto feroz e olhos vigilantes, não pareciam gostar da presença de Marcos. Com um instinto que só quem anda na rua conhece, começaram a rosnar e a avançar.
Marcos, tomado por um susto súbito, tentou recuar. Seus pés, no entanto, encontraram uma pedra traiçoeira. E, num instante de desespero, tropeçou, caindo ao chão. O impacto foi duro, a pele das mãos, joelhos e cotovelos encontrando a aspereza do asfalto e da calçada. As escoriações eram dolorosas, mas o que mais doeu, segundo ele, era o medo e a impotência diante da situação.
O vigia de um banco próximo, que assistiu a tudo, agiu rápido. Ligou para a Secretaria de Segurança e Mobilidade Urbana, na esperança de uma resposta rápida. Contudo, a burocracia, essa velha inimiga dos necessitados, respondeu com um conselho frio: “A vítima deve ir à delegacia e registrar um Boletim de Ocorrência”.
Marcos, já acostumado com os labirintos da administração pública, suspirou. As medidas até então adotadas pelas autoridades eram apenas remendos temporários, como se estivessem tentando cobrir uma rachadura com fita adesiva. Os moradores em situação de rua e seus cachorros ferozes continuavam a ser uma questão espinhosa que ninguém queria segurar.
O comando da Secretaria de Segurança e Mobilidade Urbana tem uma explicação detalhada sobre o processo. “Chame a Guarda Municipal, pelo 153, que acionamos a Secretaria do Meio Ambiente, e a equipe especializada fará a recolha dos animais. Mas é necessário registrar a ocorrência na 20ª SDP contra os PSRs, donos dos cães, para responsabilizá-los.”
Essas palavras, tão organizadas e formais, não ofereciam consolo a Marcos, cujas mãos doloridas seguravam o telefone. Ele sabe que a reunião marcada para a próxima quinta-feira no auditório da ACIT, será mais um palco para promessas e discursos vazios. A sociedade civil organizada, que se reunirá, deve sim impor soluções, e não deixar essa inércia, para resolver os problemas ancorados com ações concretas.
E assim, o povo toledano pode seguir seu curso, em cidade bela, mas marcada por desafios que se repetem. Marcos Antonio levantou-se, sacudiu a poeira das roupas e, com um olhar firme, desejou para uma futura matéria, a boa notícia: Toledo sem mendigos e cachorros de rua. Afinal, cada rua, cada praça, cada esquina conta histórias que merecem um final melhor.