Imagem ilustrativa. Foto Divulgação

Especialista explica processos e importância do cadastro no banco de dados de possíveis doadores

O transplante de medula óssea é um tratamento indicado para pacientes com doenças de sangue como leucemia, linfomas e ainda alguns tipos de anemia. Apesar das informações em torno do processo de doação terem sido propagadas de forma mais expressiva nos últimos anos, há ainda muitos mitos que são facilmente relacionados ao assunto e que atrapalham novos cadastros no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME), banco de dados de possíveis doadores. Com mais de 5 milhões e 600 mil doadores cadastrados, o REDOME é o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo. Hoje, há em média 650 pacientes no país em busca de um doador que não seja da família, mas que tenha compatibilidade.

Como funciona a doação

O diretor técnico do Policlínica Hospital de Cascavel, médico Ricardo Silveira Yamaguchi, explica o que de fato é a medula e de que forma ela auxilia na cura de doenças. “A medula óssea é um tecido líquido-gelatinoso que ocupa o interior dos ossos, sendo conhecida popularmente por ‘tutano’, responsável pela produção das células do sangue. Algumas doenças, como os linfomas e a leucemia, afetam as células do sangue, prejudicando o funcionamento da medula óssea e colocando vidas em risco. É quando o transplante de medula se torna necessário e os doadores são fundamentais. O transplante de medula consiste em substituir a medula óssea doente por células de medula óssea retiradas de um doador compatível e sem doença”.

Formas de doação
Após todo o processo necessário para verificação de compatibilidade entre o paciente e doador, a doação propriamente dita pode ser realizada e a forma em que ela ocorre depende da avaliação médica. “Existem três fontes para doação das células da medula, a depender da avaliação médica. A primeira é a própria medula óssea. Por meio de um procedimento cirúrgico sob anestesia, são feitas punções no osso da bacia para aspirar as células da medula óssea. O procedimento tem duração de aproximadamente duas horas e o doador fica internado por um dia no hospital. Outra possibilidade é o sangue periférico. O doador recebe uma medicação injetável durante cinco dias para aumentar o número de células-tronco no sangue. Com o auxílio de uma máquina de aférese, o sangue é coletado, as células-tronco são separadas e os elementos do sangue que não são necessários para a doação são devolvidos ao sangue do doador. Este tipo de procedimento tem duração de cerca de duas a três horas e não requer anestesia, porém nem sempre é possível ser utilizado. Por fim, elas podem ser extraídas do cordão umbilical. O sangue é coletado do cordão umbilical logo após o parto e nenhum procedimento na mãe ou no recém-nascido é necessário”, esclarece o médico.

Processo para o doador
Enquanto para quem recebe a medula pode ser uma nova chance de viver, para o doador o processo não traz grandes impactos na rotina. “Antes do procedimento o doador não precisa alterar nenhuma rotina, nem mesmo em relação a dieta ou medicamentos, apenas alguns exames são coletados para verificar se está bem de saúde. Já o pós depende da forma de doação. Quando ela é feita por aférese, os efeitos colaterais são leves, como formigamento e náuseas. No geral, o doador não precisa de nenhum cuidado especial e no dia seguinte já está apto a trabalhar e praticar atividades físicas. O procedimento de coleta das células-tronco da medula óssea é seguro, contudo, podem ocorrer complicações relacionadas à anestesia e à coleta propriamente dita, como dor local, que é facilmente controlada com analgésicos comuns, e anemia, relacionada ao volume retirado, mas que em geral é leve e de fácil controle. Requer internação por no mínimo 24 horas. Nos primeiros três dias após a doação pode haver desconforto localizado, de leve a moderado, que pode ser amenizado com o uso de analgésicos e medidas simples. Normalmente, os doadores retornam às suas atividades habituais depois da primeira semana”, assegura.

Mitos sobre a doação de medula óssea
Mesmo com os projetos que têm o objetivo de levar a informação correta à população, ainda há informações equivocadas relacionadas à doação da medula, que são espalhadas como verdadeiras, e acabam por criar receio em possíveis doadores.
O médico desfaz alguns dos mitos. O primeiro deles é que a doação pode ser feita apenas uma vez. “Nossa medula óssea está em atividade contínua, produzindo células sanguíneas, com isso a quantidade de medula óssea doada é reposta rapidamente pelo nosso organismo, normalmente em aproximadamente 15 dias essa reposição já ocorreu. Desta forma, é possível fazer a doação de medula óssea mais de uma vez, para o mesmo receptor ou outro receptor compatível”, esclarece.
Outro mito que circunda o tema é sobre a regeneração da medula óssea ser um processo lento e muitas vezes doloroso. “Essa informação também é equivocada. A quantidade de medula óssea doada é rapidamente reposta pelo organismo de modo que não ocorre esgotamento de sua reserva de células-tronco. Esse processo ocorre de forma natural, não requer nenhuma medicação ou observação”, afirma.
Existe ainda o mito de que qualquer pessoa pode fazer a doação da medula, porém há uma série de restrições. “Para ser doador a pessoa precisa ter idade entre 18 e 55 anos e estar em bom estado geral de saúde, sem doenças infecciosas ou incapacitantes, algum tipo de câncer ou doença imunológica”, ressalta.

Seja um doador e salve vidas
O número de pessoas que podem precisar de transplante de medula óssea é significativo e quando este momento chega, encontrar um doador compatível pode representar uma nova chance de continuar vivo. “Cadastrar-se como doador de medula óssea é extremamente importante visto que a chance de um paciente que necessita ser submetido a um transplante de medula encontrar um doador compatível é, em média, de uma em cem mil. Por isso, são organizados Registros de Doadores Voluntários de Medula Óssea, cuja função é cadastrar pessoas dispostas a doar. Quando um paciente necessita de transplante e não possui um doador na família, esse cadastro é consultado. Se for encontrado um doador compatível, ele será convidado a fazer a doação. Para o doador, a doação será apenas um incômodo passageiro. Para o doente, será a diferença entre a vida e a morte.” finaliza.

Como se tornar doador
Para se tornar um doador voluntário de medula óssea, é preciso ir ao Hemocentro mais próximo, realizar um cadastro no REDOME e coletar uma amostra de sangue para exame de Histocompatibilidade – HLA, teste que estuda as características genéticas do voluntário cadastrado.
Após as análises, esse resultado é inserido no banco de dados do Redome. As informações são cruzadas com o Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea, para pesquisa de compatibilidade entre doador e receptor.

Fonte: Assessoria