“Sempre falamos sobre isso em casa. Meu marido é caminhoneiro, vive na estrada, vive no perigo, então sempre falamos que se algo acontecesse era para doar os órgãos”. Essas são as palavras da Sirlei Terezinha Vogel, que perdeu o filho há mais de um ano. O “sim” da família foi importante para salvar vidas, mas o importante nessa decisão foi a conversa que sempre tiveram. “Quando ele estava na UTI nos últimos dias sentimos que ele já não estava mais ali, não tinha mais reações. Quando íamos visita-lo os batimentos cardíacos aumentavam e depois isso não aconteceu mais, então sentíamos que algo estava errado. Foi quando o médico nos chamou e explicou sobre a morte encefálica. A partir dai a equipe nem precisou nos procurar, eu já disse que se o pior fosse confirmado eu queria doar os órgãos”, conta Terezinha.
Essa decisão não gerou dúvidas para a Terezinha, mesmo assim, o momento foi de muita dor. “Sabíamos que náo tinha outra escolha, mas fomos bem acolhidos. Doeu e ainda dói bastante, sentimos falta, choramos, mas sabemos que os órgãos puderam salvar outras pessoas”, diz.
E uma dessas pessoas viu as notícias sobre o acidente do filho de Terezinha e a procurou para contar que havia recebido o transplante de coração. “Quando assinamos a doação era explícito que não poderíamos procurar as pessoas que recebem os órgãos, mas uma dessas pessoas viu a notícia e quis nos conhecer. Ele veio nos visitar, o abrecei sentindo o coração do meu filho batendo novamente. É uma sensação que não é possível explicar”, comenta Terezinha.

Foram 18 famílias que disseram o “sim” para doação de órgãos em 2023. A taxa de aceite permanece em cerca de 90% na Hoesp/Hospital Bom Jesus, uma das maiores taxas do Paraná e do país. “É um trabalho de toda a equipe, que é bem treinada e capacitada para realizar a identificação dos pacientes, o acolhimento da família até que decidam entrar no processo da doação”, explica o coordenador da CIHDOTT, Itamar Weikank.
São 19 anos da Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos (CIHDOTT) na Hoesp. Em todos estes ano não é difícil mensurar quantas vidas já puderam ser salvas. “Cada doador pode salvar de 8 a 10 pessoas, mas alguns órgãos acabam não sendo doados dependendo do exame/sorologia que pode impedir a doação de algum órgão, portanto, a média é de 3 órgãos transplantados para cada doador. No ano passado, pelo menos 60 vidas puderam ser salvas”, ressalta Itamar.
E quando falamos em salvar vidas podemos afirmar que o gesto é de amor. “É importante que as pessoas falem sobre isso em casa. Quem aguarda por um órgão aguarda com angústia até que tenha a notícia de que poderá viver novamente depois do transplante. São vidas que podem ser salvas!”, enfatiza Itamar.
Fonte: assessoria