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Rio Bonito do Iguaçu: folhas ao vento, vidas reerguidas da devastação

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Por Eliseu Gaz | Enviado especial a Rio Bonito do Iguaçu (PR)

A Gazeta de Toledo esteve em Rio Bonito do Iguaçu, no Centro-Sul do Paraná, onde um tornado de categoria EF3, com ventos que ultrapassaram os 250 km/h, transformou a paisagem da cidade em um cenário de destruição e esperança.

Chegamos ao município por volta das 19 horas de sábado (8), acompanhando o toledano Marcelo da Rosa, conhecido carinhosamente como “Solitário Mudanças”, uma figura de notável solidariedade e empatia humana. Marcelo partiu tomado pela ansiedade e o propósito de socorrer familiares e desconhecidos que, em poucas horas, perderam tudo — ficaram literalmente ao relento, ao vento e sem lar.

A mobilização que começou em Toledo

Ainda na noite de sábado, às 22h30, Marcelo já estava em contato com a reportagem e com voluntários para iniciar o que ele mais sabe fazer: mobilizar corações e transformar ajuda em ação.

Durante o programa ao vivo nos estúdios da Gazeta de Toledo, ele convocou a população para uma grande campanha de arrecadação. O apelo ecoou.
Em apenas cinco horas, o caminhão de “Solitário” estacionado em frente ao Teatro Municipal de Toledo foi completamente tomado por 18 toneladas de donativos — entre alimentos, roupas, colchões, travesseiros, cobertores e materiais de higiene.

A solidariedade multiplicou-se: um agricultor do distrito de Bom Princípio se juntou à missão, disponibilizando outro veículo para transporte. Em poucas horas, a carga solidária estava a caminho do destino: Rio Bonito do Iguaçu, onde o sofrimento aguardava mãos estendidas.

A força da comunicação de Solitário

Durante todo o trajeto, uma observação se impôs a este jornalista: a força da comunicação de Solitário.
Marcelo mantém uma aliança genuína com a classe dos caminhoneiros — dos pequenos transportadores às grandes frotas. Em cada cruzada de estrada, o “negão” (como ele carinhosamente chama seu caminhão) é reconhecido à distância: são sinais de faróis, buzinas prolongadas, chamadas pelo rádio PX e uma enxurrada de mensagens nas redes sociais e no celular.

Quando ele estaciona, não precisa se apresentar. Pessoas se aproximam como se reencontrassem um velho amigo. Essa conexão humana, direta e despretensiosa, explica o porquê de seus meio milhão de seguidores, que o acompanham e o apoiam em cada nova missão solidária.

“Solitário” tem um lema que se tornou sua marca registrada — e que se cumpre a cada viagem:
“Fazer o bem sem olhar a quem.”

Nem os animais, ficavam de fora de sua visão

O destino: trabalho e fé na linha de frente

Na chegada, fomos recepcionados pela Comunidade Cristã Ozoe, um verdadeiro exército de voluntários que, com organização exemplar, direcionava e distribuía os donativos.

Nada ficava parado — cada pacote, cada cobertor, cada alimento tinha destino certo. O frio intenso castigava as famílias desabrigadas, e colchões, travesseiros e agasalhos eram os itens mais urgentes.

A Igreja Católica também transbordava solidariedade: pilhas de roupas e mantimentos se acumulavam nos salões paroquiais, enquanto grupos civis, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil (inclusive equipes de São Paulo), ONGs e coletivos locais trabalhavam lado a lado.

Por volta das 5h da manhã de domingo, após horas de descarga e triagem, o caminhão do “Solitário” estava vazio — mas o coração dos voluntários, cheio.

O retrato nu e cru da devastação

Foi nesse momento que este repórter partiu para ver de perto o impacto do tornado — e não há filme ou fotografia que prepare alguém para o que se vê in loco.

Postes retorcidos como arame, carros amassados como se tivessem passado por uma prensa industrial, escolas e ginásios reduzidos a escombros, casas sem telhados, sem paredes, sem chão.
As árvores, algumas centenárias, estavam cortadas como se por lâmina afiada.
Era como se a natureza, em minutos, tivesse reescrito o mapa da cidade.

“Ver pela TV é uma coisa, mas ver aqui… o coração sai do peito. O homem mais forte se torna um papel nas mãos do vento”, descrevi em meu caderno de campo, tentando traduzir a sensação de impotência e reverência diante da força da natureza.

Estado de calamidade pública

Foto- Johnatan Campos AEN

Na manhã de sábado (8), o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) decretou estado de calamidade pública em Rio Bonito do Iguaçu, após a confirmação do Simepar de que o fenômeno foi um tornado EF3 — categoria em que os ventos ultrapassam 250 km/h.

Segundo o Governo do Estado, 90% das residências e prédios comerciais foram danificados.
O balanço mais recente confirma seis mortes e pelo menos 750 feridos, além de milhares de desabrigados.

Esperança entre escombros

Entre lágrimas, destroços e gestos de solidariedade, uma certeza se firmava entre voluntários e moradores: a força de um povo é maior do que qualquer vento.

Rio Bonito do Iguaçu amanheceu partida, mas não vencida.
Em cada abraço, em cada marmita entregue, em cada colchão estendido no chão frio, há o testemunho de que a tragédia não derruba a fé, nem apaga a esperança.

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Edição nº2798 – 14/11/2025

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