O estudo analisou rituais funerários realizados em Toledo durante a pandemia de Covid-19
A professora Andréia Vicente, do curso de Ciências Sociais e do mestrado em História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste campus Toledo teve sua pesquisa publicada na revista Anthropological Quarterly, da Universidade George Washington nos Estados Unidos em setembro deste ano. O artigo, intitulado “Novas tecnologias nos rituais funerários na pandemia de Covid-19 no Brasil”, teve como objetivo entender como a doença atingiu as pessoas em Toledo, principalmente através das mortes.
A pesquisa consistiu na análise de dados de mortes por Covid-19 durante os anos de 2020 e 2021 em Toledo, obtidos através da Vigilância Sanitária. O professor Paulo Roberto Azevedo, também da Unioeste, trabalhou junto na pesquisa, principalmente fazendo a tabulação dos dados quantitativos dessas mortes. Elas foram classificadas em parâmetros como: gênero, raça, idade, local de nascimento, entre outros. Isso possibilitou a separação por tipologias, como homem casado, mulher casada, criança, velhos, pessoas em situação de rua, etc.
Andréia explica que, durante o estudo, entrevistou familiares de diversas dessas pessoas catalogadas para entender o contexto das mortes, desde a infecção por Covid-19 até o sepultamento. “Então comecei a descobrir uma série de especificidades sobre todo o processo de perder alguém na pandemia, que foi algo muito difícil. Toda morte é difícil, mas essas foram mais, porque as pessoas ficavam isoladas em hospitais e as notícias eram dadas pelos médicos em uma única ligação diária”, relata.
A professora destaca um caso específico que chama atenção, e que foi publicado no seu artigo científico. Trata-se de uma das primeiras mortes por Covid-19 ocorridas em Toledo, de um senhor de religião evangélica. Seu corpo, após a liberação do hospital, foi preparado e colocado no veículo da funerária, mas não pode seguir para o cemitério pois já estava fechado devido ao horário. Dessa forma, o corpo precisou ficar a noite toda dentro do carro no estacionamento do hospital.
Andréia relata que, “como não era permitido fazer velório presencial, o pastor da igreja o fez através de uma transmissão ao vivo pela internet, e dessa forma as pessoas participaram de suas casas. Cantaram, leram a Bíblia, o pastor falou as palavras e fez uma preleção, o que geralmente se faz com o corpo presente”, explica.
A conclusão da pesquisa, segundo Andréia, indica que os impeditivos sanitários vigentes durante a pandemia de Covid-19 violaram uma certa noção de direitos humanos, que é o luto e o contato com os corpos de seus falecidos. “Embora os protocolos biossanitários tenham sido necessários durante a pandemia, isso não impede que a gente analise isso como uma violação. E apesar de tudo, as pessoas buscaram alternativas para lidar com essa dificuldade e criaram formas de se sentirem solidarizadas comunitariamente”, ressalta.
Para ela, a publicação do seu trabalho em uma revista internacional é importante pois demonstra a relevância do estudo, e a faz se sentir recompensada profissionalmente. “Ao mesmo tempo, o nome da Unioeste está circulando pelo mundo. Isso é essencial com pesquisas feitas aqui e que demonstram que são de qualidade e circulam em um espaço internacional”, finaliza Andréia.
Fonte: Unioeste