A Solenidade da Ascensão está intimamente ligada à Ressurreição. O Crucificado-Ressuscitado sobe ao céu e leva a nossa humanidade ao “ponto” mais alto possível, isto é, “à direita do Pai”. Ao retornar ao Pai, Cristo ressuscitado não se distanciou dos seus. A partir daquele momento os apóstolos não o verão mais com os mesmos olhos, não conversarão mais com ele face a face, nem comerão juntos como antes. Contudo, eles têm a profunda certeza de que ele não foi embora. De fato, enquanto esperam o Espírito prometido, eles retornam “a Jerusalém com grande alegria”. Ao entrar no santuário do céu, Jesus inaugurou com seu sangue um caminho novo e vivo. Agora todos nós temos plena liberdade de entrar no santuário… da casa de Deus trilhando um caminho vivo: Jesus! Mas é preciso ter “coração sincero”, “plenitude de fé” e “corpo lavado com água pura”, sem vacilar na “profissão de esperança”: um dia ele voltará! (Hb, 10,19-22).
O mistério da Ascensão do Senhor, ao mesmo tempo que anuncia e confirma a fé no Ressuscitado, aponta e atrai o olhar do fiel para o alto, para a meta final a que todos aspiramos. A solenidade de hoje, é, portanto, um dia alegre na peregrinação da fé, animada pelo exemplo de nosso irmão mais velho, Cristo Jesus, entronizado na glória de Deus. É ele quem antecipa e molda nossos desejos mais íntimos, pois é o mesmo que desceu do céu assumindo as limitações de nossa condição humana.
Agora Jesus volta para junto do Pai. Com a ajuda do Espírito Santo, os apóstolos começam a compreender o projeto de Deus e sua participação na construção do Reino; colocam sua vida à disposição para anunciar a todos os povos o que Deus preparou para nós.
A vinda do Espírito Santo é fundamental para esta mudança. Deste modo, eles se tornam aptos para continuar a obra de Jesus. A Ascensão indica que Jesus cumpriu a sua missão. Ele se despede dos discípulos, dá a sua bênção e os deixa sob a proteção de Deus Pai. A Ascensão do Senhor ao céu e envio do Espírito Santo no dia de Pentecostes estão estreitamento ligadas e tornam os discípulos corajosos anunciadores e lhes garante que não ficarão sozinhos e órfãos, mas serão sempre acompanhados.
O Espírito Santo aumentará a potência da palavra dos discípulos e a nossa e abre a inteligência de quem recebe a boa notícia do evangelho. Os discípulos frágeis e medrosos se tornarão corajosos anunciadores do mistério pascal: Cristo, o filho de Deus, se encarnou no meio de nós, viveu, anunciou, morreu na cruz e ressuscitou e vive para sempre. A grande testemunha de Jesus será o Espírito Santo. Por isso, celebrar a Ascensão de Jesus é celebrar a esperança de uma humanidade recriada pela força do Ressuscitado.
Esta é a festa que alarga o coração dos discípulos e dos todos os fiéis, para que, cheios de esperança e alegria, visualize o novo horizonte missionário que acontecerá na festa de Pentecostes. Os anjos despertaram os discípulos galileus do sono, absortos no que seus olhos contemplavam, para instigá-los a testemunhar o que contemplavam, para impulsioná-los na exigente tarefa da missão eclesial sob o olhar de Deus.
O Papa Francisco, ao apresentar o tema para o Dia Mundial das Comunicações que celebramos hoje: “Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações” (cf. 1 Pd 3,15-16), nos exorta a esperar juntos. “A esperança é sempre um projeto comunitário. Pensemos, por um momento, na grandeza da mensagem deste ano de graça: estamos todos – realmente todos! – convidados a recomeçar, a deixar que Deus nos reerga, nos abrace e inunde de misericórdia. É em conjunto que nos pomos a caminho”.
Dom João Carlos Seneme, css
Bispo de Toledo
