Dom João Carlos Seneme, Bispo da Diocese de Toledo. Foto: Divulgação

O texto do Evangelho (Lc 13,1-9) acompanha o nosso caminho quaresmal nos ajudando a viver uma etapa muito importante do nosso processo de conversão e iluminação interior. O texto apresenta algumas pessoas que se aproximam de Jesus para perguntar-lhe sobre o destino de alguns galileus assassinados por Pilatos em santuário. A questão tem como fundamento a teologia da retribuição que afirma que Deus castiga os maus e salva os bons. Jesus responde com outro fato também trágico onde em um acidente onde morreram 18 pessoas. Em nenhum desses dois casos as mortes aconteceram por causa dos pecados dessas pessoas. Jesus aproveita para colocar o tema da conversão que é para todos e ninguém pode se considerar melhor que os outros.

Jesus se refere ao “modo” que Ele mesmo deverá percorrer até sofrer no mistério da sua paixão. Sua morte na cruz será, de fato, considerada pela grande maioria dos judeus, um justo castigo por seu pecado: afirmar que é o Filho de Deus. Da mesma forma, sua palavra parecerá uma ameaça política: anunciar uma nova maneira de se relacionar, superando a lógica do poder e anunciando o amor.

Em seguida, aprofundando o tema da conversão, Jesus conta a parábola da figueira estéril que pode fazer referência ao povo de Israel que não acolhe a palavra da Salvação. O sentido da parábola é logico: senão der fruto, será melhor cortá-la para não desperdiçar a terra. Podemos reconhecer o próprio Jesus na pessoa do vinhateiro que intercede pela figueira: “Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo”.

Com esta proposta o vinhateiro se distancia da determinação do seu mestre: o corte é uma operação drástica. O agricultor, por outro lado, não tem pressa e, acima de tudo, assume toda a responsabilidade: capinar e adubar durante um ano inteiro. O dom da terra lhe dá mais um ano, se não der frutos será cortada. Em continuidade com os exemplos anteriores, o fruto que se espera é o da conversão. Porém, a espera não será para sempre.

Portanto, o Evangelho de hoje é bastante questionador para os cristãos de hoje. Dar o fruto esperado? Não tiveram tempo suficiente para isso? Da parte de Deus há sempre generosidade em cuidar e esperar que o fruto venha. Porém, se os frutos não vierem, resta apenas a esterilidade.

A quaresma nos oferece a oportunidade de preparar o terreno para a nossa conversão. Deus está cuidando da nossa terra colocando adubo e esperando. Que não percamos as oportunidades que o Senhor nos dá para uma conversão sincera que dê frutos no mundo em que vivemos. Os frutos de paz, justiça social, compaixão, solidariedade e tantas outras transformações que adviriam de uma conversão sincera aos valores do Reino são urgentemente necessários. Nesta Quaresma, não percamos a oportunidade de uma verdadeira conversão a Deus que nunca se cansa de nos esperar.

“Estamos no decênio decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas atitudes individuais e coletivas um colapso planetário. Já estamos experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso país. E não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós não vivemos sem ele. Ainda há tempo, mas o tempo é agora! É preciso urgente conversão ecológica: passar da lógica extrativista, que contempla a Terra como um reservatório sem fim de recursos, donde podemos retirar tudo aquilo que quisermos, como quisermos e quanto quisermos, para uma lógica do cuidado” (Papa Francisco).

Dom João Carlos Seneme, css

Bispo de Toledo