O evangelho deste domingo (12/07) faz parte do discurso em parábolas que recolhe sete (ou oito) parábolas e suas explicações. São chamadas de “parábolas do Reino”. O tema que perpassa todas as parábolas é o mistério da acolhida ou rejeição da palavra de Jesus sobre o Reino de Deus. A intenção de Jesus em falar em parábolas é tornar mais acessível o diálogo com seus ouvintes e deixar uma mensagem que toque o coração e provoque a conversão.

A parábola do semeador reflete a situação de resistência de alguns e a indecisão de outros diante da proposta do Reino apresentada por Jesus. Quem não quer aceitar, se nega a compreender. Os discípulos são iniciados neste mistério de Deus, ao compreender e aceitar estão entrando no reino de Deus. O clima é desafiador devido ao confronto com os judeus apresentados nos capítulos anteriores e a recusa por parte dos conterrâneos de Jesus. Deste modo se esclarece e aprofunda a distinção já acenada entre os discípulos e a multidão: a ela Jesus fala em parábolas, a eles revela abertamente os mistérios do reino. O critério para a distinção entre os dois grupos é a escuta da Palavra, o conhecimento dos mistérios do reino (= relação pessoal com Jesus).

A referência ao tempo, “naquele dia”, sugere uma continuidade em relação aos acontecimentos precedentes: confronto com a multidão, os fariseus e os chefes dos judeus. Desta forma, as parábolas, mais que uma instrução quer ser um apelo urgente para tomar posição, a favor ou contra Jesus, isto é, a aceitar verdadeira e profundamente sua palavra.

A imagem do semeador refere-se à ação de Deus que intervém com a promessa cheia de esperança em tempos de crise de seu povo. A mensagem da passagem evangélica é sugerida pelo contraste entre os três primeiros tipos de solo e o quarto. Descreve uma atividade bastante comum em Israel, a semeadura ou plantio. Essa atividade, devido às condições climáticas, exigia muito esforço. A mensagem de Jesus indica um questionamento: Por que a Palavra de Deus produz frutos em uns e em outros não? Deus faz distinção de pessoas? A intenção do semeador é recolher muitos frutos com seu árduo trabalho. Vemos que o nosso semeador não é muito prático e habilidoso. Ele joga a semente em todos os lugares sem muito critério: beira do caminho, terreno cheio de pedras, no meio de espinhos e, finalmente, terra boa. Isto tudo para dizer que Deus oferece a sua Palavra abundante a todos, sem distinção, e espera pacientemente que a acolhamos como terra boa, adubada e produzamos frutos abundantemente.

A parábola, portanto, refere-se às diferentes reações diante da palavra de Jesus e sua missão. É bem possível que exista um contexto de crise entre os seguidores de Jesus: desânimo, desconfiança. Diante disto, Jesus diz aos discípulos desiludidos: “coragem”. Não desanimem. Pode existir um aparente fracasso, mas o resultado final será surpreendente e maravilhoso: “Outras caíram em terra boa e produziram frutos, uma cem, outra sessenta, outra trinta. Quem tem ouvidos, ouça”! É um convite a não se fechar em si mesmos, a ler os acontecimentos e sofrimentos à luz do Reino que Jesus semeou na história. É um convite a abrir os olhos para descobrir o fermento e a alegria no terreno acidentado da história.

 

Dom João Carlos Seneme, css

Bispo de Toledo