Um dia, Jesus retirou-se para um lugar solitário, às margens do mar da Galileia. Mas quando começou a desembarcar, encontrou uma grande multidão esperando por Ele: “Teve compaixão deles e curou os seus enfermos”. Falou-lhes do Reino de Deus. Enquanto isso chegou a noite. Os apóstolos lhe sugeriram que dispensasse as multidões para que eles fossem procurar alimento em aldeias vizinhas. Mas Jesus os surpreendeu, dizendo: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. “Nós não temos alimento suficiente para todos, respondeu-lhes, perplexos, somente cinco pães e dois peixes”! Jesus pediu os alimentos, convidou todos a se sentar. Tomou os cinco pães e os dois peixes, rezou, deu graças ao Pai e entregou aos discípulos para que eles o distribuíssem. “Todos comeram e ficaram satisfeitos, recolheram as sobras e encheram doze cestos”. Havia cinco mil homens, diz o Evangelho, sem contar as mulheres e as crianças. Foi a mais bonita partilha que se viu!

O que nos diz este Evangelho? Em primeiro lugar, que Jesus se preocupa e “tem compaixão” do ser humano inteiro, corpo e espírito. Ao Espírito distribui a Palavra, ao corpo cura e alimenta. Outro ensinamento é que é possível resolver o problema da fome no mundo: partilhar o pouco que temos. Sabe-se que, pelo menos do ponto de vista alimentar, nossa terra seria capaz de alimentar todos os seres humanos. Melhor distribuição, maior solidariedade e partilha: a solução está aqui.

Outro sentido que o relato nos transmite é a conotação com a eucaristia: a vida do Senhor, entregue para a salvação de todos, é o alimento espiritual que sustenta o povo de Deus que caminha na direção da vida plena. Na Eucaristia Deus revela, de modo radical e completo, o seu desígnio de amor e salvação. Trata-se de um dom absolutamente gratuito. Devemos acolher este presente e deixar que Deus realize em nós o milagre de nos unirmos a Cristo sem medo de participar da vida divina que se mistura com a nossa. Sentar-se à mesa com Jesus e receber o pão que Ele oferece é comprometer-se com o Reino de Deus e assumir a lógica da partilha, do amor, do serviço (“dai-lhes vos mesmos de comer”). Celebrar a Eucaristia nos obriga a lutar contra as desigualdades, o esbanjamento, a concentração de renda, a viver sem visar tanto o lucro, o bem-estar egoísta. Quando celebramos a Eucaristia tornamos o Reino de Deus próximo e concreto.

Neste domingo iniciamos o Mês Vocacional e celebramos o dia do ministro ordenado: diácono, padre e bispo. Toda vocação implica em chamado e resposta. “Fui eu que vos escolhi e vos destinei”. Deus convoca para uma missão e a pessoa responde assumindo uma identidade. O sacerdote assume a missão de representar Cristo enquanto sumo sacerdote e pontífice. A exemplo de Cristo ele se torna guia e pastor: guia espiritual buscando unir e valorizar todos os carismas, e pastor, para orientar todo o povo de Deus a tomar parte na missão de Cristo. Isto acontece a partir de um encontro pessoal com Jesus Cristo que marca de tal forma a pessoa que ela aceita segui-lo, fazendo de sua vida uma entrega no serviço a Deus e aos irmãos de maneira exclusiva. Torna-se mediador entre Deus e a humanidade.

O presbítero é chamado a ser pastor conforme o coração de Cristo: manso, pacífico, generoso; sempre em sintonia com Cristo e com a Igreja em favor da edificação da esperança, da solidariedade, da partilha e da paz, sem medo de viver, anunciar e testemunhar o Evangelho.

Maria Nossa Mãe, interceda pelos nossos sacerdotes, que incansavelmente procuram seguir os passos de Jesus, conquistando pessoas para Cristo, como mensageiros da esperança e da paz. Amém.

Dom João Carlos Seneme, css

Bispo de Toledo