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Nove décadas de AA: casal de Toledo vence o alcoolismo com amor e apoio mútuo

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Foto: Gazeta de Toledo

Por Marcos Antonio Santos

Casal de Toledo relata como o AA mudou suas vidas ao celebrar 90 anos da irmandade

Alcoólicos Anônimos (AA) internacional celebra nesta terça-feira, 10 de junho, seu 90º aniversário, marcando nove décadas de apoio a milhões de pessoas ao redor do mundo na luta contra o alcoolismo. Fundado em 1935 por Bill Wilson e Dr. Bob Smith, o movimento nasceu do encontro de dois homens que, juntos, desenvolveram o programa dos 12 passos, base do método que ainda hoje orienta a irmandade.

“Se todos que tivessem problemas com álcool em Toledo fossem para o AA, não sei se conseguiríamos fazer reunião no Estádio 14 de Dezembro. Eu e a Maria do Socorro temos a sorte de participar do AA porque dois americanos com problema com o álcool começaram, em 1935, a conversar. Um era corretor da Bolsa de Valores e o outro, médico. E viram que estava dando resultado. Os dois conversaram sobre o problema do álcool que eles tinham”, relata Vagner, companheiro há 17 anos de Maria. Juntos, frequentam as reuniões do AA Grupo Ascese há mais de três anos.

Para reforçar essa data, vamos falar dos problemas com o álcool e suas consequências, mas também enfatizar o exemplo desse casal que, juntos, enfrentam a cada dia a doença do alcoolismo. Graças aos verdadeiros amigos do AA, eles estão superando essa luta contra bebidas como vinhos, cerveja, vodka e whisky.

Foto: Gazeta de Toledo

Maria do Socorro

Para Maria, participar das reuniões do AA significa respirar ar puro e viver uma vida da qual os filhos possam se orgulhar.

“O AA significa uma nova vida: financeira, pessoal, com a família, com os filhos, com o ex-marido, com meus amigos. Hoje sou totalmente feliz. Quando eu bebia, achava que era feliz, mas não era. Fui mãe solo e fiquei muito tempo afastada da minha filha mais velha por causa do álcool. E agora estou mais presente na vida da Carla, do Miguel e do Antoni. Posso brincar com meus filhos, sentar com eles sem estar de ressaca. Posso falar qualquer coisa hoje em dia para qualquer pessoa, sem ter a consciência pesada no dia seguinte, por ter machucado alguém — porque quando você bebe, você é totalmente infeliz. Fiquei 13 anos bebendo. Agora estou há três anos e dois meses sóbria. Hoje olho para o meu companheiro e falo: ‘A gente acordou tarde, né? Mais café da manhã?’ A gente, hoje em dia, assiste a um filme junto — e sabe o fim do filme. Vamos para a chácara e vemos os gatinhos, o cachorro. E hoje tenho até um casal de patos. Isso é felicidade. Posso falar como mulher: foi difícil aceitar que eu era uma alcoólatra”, revela Maria, que nasceu no Amazonas, foi criada em Belém (PA) e está em Toledo desde 2006.

Maria conta o que a motivou a mudar de vida e procurar o AA, depois de começar a beber aos 28 anos de idade:

“Quando vi a mudança no meu companheiro, pensei que ele estava indo se encontrar com alguma mulher. Nas primeiras reuniões do AA, ele foi sozinho. E a mudança surgiu logo, o impacto foi rápido. Eu tinha que ver onde ele estava indo. Cheguei lá com ciúmes ainda. Acreditava que ele estava bebendo sem mim. Mas ele estava indo para as reuniões do AA, e isso me inspirou a seguir o mesmo caminho. Passei a ser alcoólatra desde a primeira vez que bebi. Já tive apagão alcoólico. Mas queria aquela sensação novamente, aquela falsa felicidade. O tempo foi passando e chegou um momento em que eu já não me controlava mais. Bebia ao acordar, ao almoçar, ao sair para o trabalho, no intervalo, ao sair do trabalho. Tomava 12 cervejas todos os dias. Sem vergonha nenhuma de falar: eu sou assumidamente alcoólatra. Não posso esticar a mão para um copo de álcool. Sei que, se levar um copo de bebida alcoólica à boca, volto a ser aquela Maria que acordava em lugares sem saber onde estava”, ressalta.

Valter

Valter recorda que parou de beber aos 24 anos, quando procurou o AA pela primeira vez, mas teve uma recaída nove anos depois. Foram mais 17 anos de bebedeira, junto com Maria do Socorro, até que, após um acidente de carro do qual não se lembrava, decidiu procurar ajuda novamente com os amigos do AA. Agora, afirma que não sai mais.

“Com 24 anos, eu não conseguia subir escadas. Não tinha bebido naquele dia, mas estava debilitado por causa do álcool. Entrei em Alcoólicos Anônimos e fiquei muitos anos. Posso dizer que foram os anos mais produtivos da minha vida, em todos os campos. Fiquei 10 anos sóbrio. Um dia, não sei por que motivo, saí — achei que estava curado. O álcool é acumulativo. Com o tempo, ele vai te destruindo. Não há cura, e eu vi isso na minha recaída. Voltei para o AA no dia em que bati meu carro em um caminhão. Descobri só no outro dia. Me assustei, porque poderia ter matado alguém, atropelado uma família, uma criança, um trabalhador. Poderia ter acordado na cadeia sem saber o porquê. Isso é o pior. Voltei, mas não só por causa do acidente. Voltei porque, sem AA, eu — que tenho problema com o álcool — não sou um ser social. Não tenho responsabilidades. Eu seria um perigo para a sociedade. E sem dizer que a minha vida estava sendo jogada fora. Sem perspectiva, sem família, sem futuro. Não adianta. Se tenho problema com o álcool, tanto faz ganhar R$ 1.000 ou R$ 100.000 por mês. Não há responsabilidade financeira, emocional, moral. Você não tem nada. Você vai se apagando. Voltei para o AA e me arrependo de ter saído. Não sei onde estaria hoje. Eu falava que bebia com o meu dinheiro, que ninguém pagava minhas contas. Não conseguia enxergar, mesmo com os alertas da família. É algo doentio e mental. Não é só a vontade de beber; é algo muito profundo. E eu tenho sorte de ter descoberto essa saída. A Maria também tem sorte. Você tem que ir devagar”, diz Valter.

Foto: Gazeta de Toledo

Consequências

Segundo ele, hoje não tem interesse nem mesmo em ser um bebedor social.

“Meu interesse era sentar num barril de whisky escocês e tomar. Era isso que me deixava pleno. Só que as consequências são trágicas. Não quero ser um bebedor social, e não posso mais ser um alcoólatra que não esteja em recuperação. Essa é a minha vida. Me arrependi de ter saído. Mas talvez minha história, com recaída e retorno, sirva de alerta para outras pessoas. Porque tem gente que entra lá e nunca recai. A vida melhora tanto que a pessoa não vê a hora de chegar em casa e receber um abraço da esposa novamente. A vida financeira melhora. Com a cabeça no lugar, tudo melhora. Posso dizer que não depende só de mim, porque o dia de amanhã nunca se sabe. Mas esse é o meu lugar: estar inserido na sociedade como um cidadão”.

Filhos com Orgulho da Mãe Maria

“Eu falei para o Miguel que iria à Gazeta de Toledo para uma entrevista, e ele disse: ‘Nossa, você está importante, hein, mãe’. Hoje em dia eu converso com o Miguel, que tem 15 anos — ele é meu amigo. O Antoni tem 9 anos e fala: ‘Como é bom ficar com você, mamãe’. Isso é muito bom”, enfatiza Maria do Socorro.

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