O SOE (Setor de Operações Especiais) foi acionado na Cadeia Pública de Toledo. Foto: Reprodução

Por Fernando Braga

Dois presos morreram nesta segunda-feira (27) depois de uma briga que envolveu vários detentos na Cadeia Pública de Toledo. Apesar da divulgação das mortes, pouco se sabia até o momento, afinal, o sistema prisional tem suas peculiaridades e o que acontece dentro das muralhas, atrás das grades, dificilmente ganhas as ruas.

Após uma briga generalizada, que deixou mortos e feridos, foi divulgado o óbito de Adenilson dos Santos Cavalheiro, de 22 anos. Ele morreu dentro da prisão, no meio da tarde, e seu corpo deu entrada no IML às 17h15. Valdecir José do Prado, de 35 anos, foi socorrido pelo Samu, em estado grave, e faleceu depois de dar entrada no Hospital Bom Jesus. O corpo chegou ao Instituto Médico Legal às 22h14.

Apesar de os mortos se encontrarem na Cadeia de Toledo, ambos são de Cascavel. Muitas especulações circularam pelas redes sociais, informando erroneamente que houvera uma rebelião, o que não aconteceu. Boatos também informavam que um preso de Toledo teria sido o pivô da confusão e que foi agredido e estaria ferido. Isso também não procede.

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Depois da apuração que fizemos junto ao IML, a Polícia Civil e ao Depen, explicaremos agora o que de fato ocorreu na unidade prisional de Toledo, que é uma cadeia diferenciada das demais. Em julho de 2019, a prisão foi reclassificada e se tornou a primeira cadeia do Paraná destinada especificamente a um determinado perfil de preso. Desde então, a unidade de Toledo passou a abrigar um tipo específico de detento: aquele que se encontra preso pela prática de crimes contra a dignidade sexual, como estupro, estupro de vulnerável, corrupção de menores, assédio sexual, exploração sexual, etc.

Antes da reclassificação, os presos que tinham contra si essas acusações ficavam isolados em uma pequena área denominada “seguro”, separados do restante da população carcerária. Com a mudança, o quadro se inverteu e os estupradores e correlatos agora ocupam a galeria onde estão as celas e têm convívio social entre si, enquanto os outros detentos, que dão entrada na unidade por outros crimes, como roubo e tráfico, são isolados na área onde anteriormente funcionava o “seguro”. Esses outros presos que não têm o perfil da Cadeia de Toledo ficam provisoriamente no cárcere local e, assim que surgem novas vagas na região, são transferidos para as cadeias de outras cidades.

De acordo com o Depen (Departamento Penitenciário do Paraná), o isolamento de estupradores e outros presos com acusações similares, que não são aceitos pelo restante da população carcerária, tinha o intuito de promover um convívio “pacífico” entre eles, já que em tese, eles não iriam brigar, disputar território, promover rebelião ou tentar fuga, sob o risco de serem transferidos para uma cadeia “normal”, onde não são aceitos e correm o tempo todo o risco de morte.

Se o temor de voltarem a um ambiente hostil, que põe em risco a integridade física e mental, e a própria vida, os fariam ter “bom comportamento”, por que então os presos da Cadeia de Toledo promoveram uma briga generalizada que resultou na morte de dois detentos e deixou um terceiro gravemente ferido?

Recebemos primeiramente a confirmação de que dos cerca de 120 detentos que se encontravam na unidade, ao menos 10 deles estariam envolvidos na briga e que tudo não passava de um acerto de contas. Mesmo com essas informações, o questionamento persistia: o que motivou o acerto de contas? Na noite de segunda-feira, horas depois do incidente, dez presos foram transferidos para Cascavel. Por que estariam colocando a própria segurança em risco?

Uma revelação esclarecedora veio do advogado de um dos mortos. O defensor de Valdecir José do Prado, condenado a 33 anos de prisão por estuprar e matar uma jovem de 25 anos em Cascavel, além de agredir o filho da vítima, um bebê de 10 meses, explicou que seu cliente tinha envolvimento com drogas. Ele e um tio tinham envolvimento com drogas e a relação que manteve com traficantes antes de ser preso pode ser a chave para a resposta. Teria sido um acerto de contas motivado por dívidas com traficantes?

As conexões entre os criminosos podem ter relação com o ocorrido em Toledo. Presos por crimes sexuais tentam sempre manter uma boa relação com os outros criminosos, para evitar achaques e a violência iminente a que estão sujeitos no cárcere. Além disso, muitos dos que se encontram na Cadeia Pública de Toledo vieram de Cascavel e têm acesso a armas artesanais confeccionadas dentro da prisão. Sendo assim, não é difícil imaginar que traficantes da cidade vizinha tenham “dado ordem” para que seus desafetos fossem “cobrados” aqui em Toledo.

A briga foi contida pelos agentes da Polícia Penal. Após reestabelecerem o controle da prisão, os agentes receberam apoio do SOE (Setor de Operações Especiais) e fizeram uma varredura na unidade prisional. Durante a revista, foram encontrados os estoques (armas artesanais) utilizados nos assassinatos.

A coordenação regional do Departamento Penitenciário não confirma e nem descarta a motivação que apontamos para os assassinatos. Tiago Correia, coordenador Regional do Depen, responsável pela unidade administrativa sediada em Cascavel, ainda levanta a possibilidade de vingança contra Valdecir, uma vez que o crime que barbaramente cometeu gerou muita revolta e comoção em Cascavel. O policial penal, depois atender nossa reportagem, enviou a seguinte nota:

“O Departamento Penitenciário do Paraná informa que dois presos morreram na tarde desta segunda-feira (27), na Cadeia Pública de Toledo, durante uma briga generalizada. Um dos presos chegou a receber atendimento médico, mas não resistiu aos ferimentos. A confusão foi contida pelos próprios servidores da unidade prisional, que acionaram reforços do Setor de Operações Especiais do Depen. No momento, a situação está controlada e uma revista foi realizada no local. Foram apreendidos estoques artesanais utilizados no crime. Não houve danos estruturais no prédio e não há funcionários feridos. Dez presos foram transferidos para outra unidade prisional. Um procedimento administrativo e um inquérito policial serão abertos para apurar o caso”.