Este jornalista sempre questionou a seriedade do Instituto IDEAS, que já recebeu benefícios desde a elaboração do edital de concorrência para a gestão do Hospital Regional de Toledo. Sabia-se que havia outros institutos sérios interessados — um de Chapecó (SC) e outro grupo de médicos de Cascavel —, mas, ao se depararem com as exigências do processo, desistiram, abrindo espaço para um esquema que veio de Florianópolis. No entanto, os mandantes estão aqui, bem pertinho de Toledo. “Aliás, um dos gestores de uma dessas empresas recebeu uma proposta chocante: R$ 2 milhões na mão, e o HRT seria todo deles.”
O que será abordado a seguir trata de fatos já de domínio público nacional, mas que precisam ser reforçados para alertar nossas autoridades, que devem tomar a decisão mais correta e necessária.
Vejamos:
Toledo ignora alerta nacional e entrega hospital a entidade denunciada por mortes infantis; Ministério Público diz que unidade “nasceu errada” e cobra nova gestão.
Instituto IDEAS, investigado por negligência e suspeita de desvio de recursos em Santa Catarina, administra o Hospital Regional de Toledo enquanto pacientes locais já relatam falhas semelhantes às que resultaram em óbitos em outro estado. São mais de 10 processos em andamento só em SC.
Toledo vive uma perigosa repetição da história: mesmo após denúncias nacionais contra o Instituto IDEAS — exibidas pela Rede Record em rede nacional — a administração do Hospital Regional de Toledo (HRT) segue nas mãos da mesma entidade acusada por mães catarinenses de transformar atendimentos simples em funerais antecipados.
Na reportagem do Domingo Espetacular, foram descritos casos de crianças que deram entrada com febre, assaduras ou virose e saíram diretamente para caixões ou para uma vida em estado vegetativo, segundo os próprios familiares. O padrão descrito inclui falta de materiais básicos, demora no atendimento e falhas grotescas em procedimentos.
Enquanto isso, a Polícia Federal e tribunais de contas investigam o IDEAS por possível desvio de dinheiro público e contratação cruzada de empresas ligadas à própria direção — um modelo que especialistas já apelidaram de “pirâmide hospitalar”.
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E em Toledo?
Aqui, o roteiro começa a se repetir. Pacientes operados no HRT buscam socorro na UPA e no PAM por complicações pós-atendimento. Profissionais relatam falta de insumos. A Prefeitura segue pagando mais de R$ 1,6 milhão por mês à entidade. E, enquanto os indícios se acumulam, as autoridades locais mantêm silêncio — como se estivessem esperando que os óbitos cheguem antes das providências.
Ministério Público confirma que o hospital nasceu com vício de origem
Durante reunião do Conselho Municipal de Saúde, registrada em ata oficial, o promotor de Justiça da Saúde, Dr. José Roberto Moreira, jogou luz sobre o problema: o hospital sequer deveria ter sido aberto da forma como foi.
“Houve um apressamento na abertura do hospital regional. Foi uma decisão política. Abriram as portas sem que estivesse preparado.”
Ou seja: o Hospital Regional não foi inaugurado — foi improvisado.
O promotor ainda revelou que Toledo não possui gestão plena, o que impede o município de controlar o que ele próprio paga:
“Não estando em gestão plena, a responsabilidade da alta complexidade é do Estado e da União. Essa é uma opção política do município.”
Outro ponto grave: inicialmente houve tentativa de permitir 15% de atendimento particular dentro do hospital público, o que Moreira classificou como ilegal:
“Colocar 15% de atendimento particular em um hospital totalmente público é ilegal.”
Diante disso, o representante do Ministério Público foi direto:
“Se eu fosse prefeito de Toledo, assumiria o hospital e colocaria como hospital municipal para atender os munícipes. Do jeito que está hoje, está confortável para o Estado: atende todo mundo e quem paga é Toledo.”
A pergunta que fica: quem vai esperar a primeira morte para agir?
- Prefeitura de Toledo, que paga a conta;
- Governo do Paraná, que deveria fiscalizar o modelo;
- Câmara de Vereadores, que aprovou e agora se cala;
- Conselho Municipal de Saúde, que tem poder deliberativo, mas ainda age como expectador.
A omissão agora tem nome e endereço. Se em Santa Catarina houve choro e comoção nacional, Toledo não poderá alegar surpresa. Os sinais estão evidentes, as denúncias estão públicas e o Ministério Público já alertou: o hospital nasceu errado.
Se nada for feito, o próximo boletim não será administrativo — será necrológico.
O hospital que nasceu errado
Nasceu errado. Como se alguém tivesse decidido abrir uma caixa de surpresas e, dentro, ao invés de médicos e enfermeiros, colocasse descaso, contratos e cifrões. O Hospital Regional de Toledo não é apenas uma unidade de saúde: é a prova de que lucro e vida pública podem coexistir — desde que a vida se torne dispensável.
Enquanto mães choram em Santa Catarina, em Toledo a rotina é a mesma, mas com outro cenário: corredores silenciosos, insumos faltando, profissionais sobrecarregados e gestores que trocam alertas por planilhas. O Instituto IDEAS não administra hospitais, administra contratos, desvios e expectativas frustradas.
E o mais cruel: a tragédia anunciada tem endereço certo, mas continua sem resposta. O Ministério Público alerta, os conselhos cochicham, e a Prefeitura assina cheques como quem ignora a urgência. Aqui, cada protocolo ignorado, cada equipamento faltante, cada vida negligenciada é um pedido de socorro que ecoa nos ombros do poder público.
Se nada mudar, não será apenas uma história de incompetência: será um diário de mortes evitáveis, com páginas assinadas por omissão.





