Dom João Carlos Seneme, Bispo da Diocese de Toledo. Foto: Divulgação

Há páginas do Evangelho que abrem horizontes inesperados, porque ousam contradizer a realidade, mesmo quando os poucos sinais de esperança que temos à nossa disposição correm o risco de desaparecer. A sabedoria humana, que se alimenta do pragmatismo e do poder, custa a acreditar que o impossível possa brotar entre as malhas do cotidiano, quando toda a lógica vai contra as expectativas. No entanto, a sabedoria evangélica não teme as contradições, porque se nutre do que é invisível aos olhos. A fé se manifesta pequena, como uma semente, como um pequeno ramo. Sua vitalidade não é diretamente proporcional ao número ou poder dos meios investidos; aparentemente pequeno, só cresce graças a uma misteriosa Presença alimentada pela força do Espírito.

É o que nos afirma o Evangelho deste domingo (07/08) ao consolar os apóstolos: “Não tenhais medo, pequenino rebanho” (Lc 12,32-48). A imagem do rebanho é usada para designar o povo eleito que caminha orientado pela segurança do pastor. O termo pequeno exprime sua insignificância numérica e pobreza em relação aos povos vizinhos. O povo escolhido não dispõe de apoio humano ou meios eficazes para se impor. Ele confia no Senhor, seu Deus e pastor.

O verdadeiro tesouro não se encontra nos bens deste mundo. Portanto, é bem-vindo todo o esforço necessário para descobrir onde ele se encontra: “Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. A resposta se encontra em três parábolas que acentuam a vigilância e prontidão. O novo tempo inaugurado pelo Cristo ressuscitado ilumina a história da humanidade. Neste contexto somos chamados à responsabilidade. O discípulo é inserido no seu tempo para assumir sua responsabilidade na construção de um mundo novo. Precisamos descobrir os novos modos da presença de Jesus e caminhar com Ele na direção da meta final. Porém, não devemos nos distrair olhando para o céu. O importante é percorrer o caminho do Senhor: amar o mundo e amar Deus, estando prontos e vigilantes com as “vestes nas cinturas e as lâmpadas acesas… como aqueles que aguardam seu senhor para lhe abrirem a porta, logo que ele chegar e bater”.

Diante da chegada definitiva do Senhor, devemos estar vigilantes; não é uma atitude passiva nem mesmo um afastamento do mundo. A vigilância é um esforço constante, luta contra o cansaço e orientação da vida. Vigiar significa acreditar que existe um futuro para o mundo e para a humanidade e se empenhar para que ele se concretize.

O tema da vigilância é colocado a serviço do presente. Espera do futuro e fidelidade ao presente são duas metas que não podemos perder de vista. Somente assim não colocamos Deus em segundo plano, no passado ou distante no futuro, de modo que Ele não nos alcance.

Iniciamos o mês vocacional. Neste domingo o destaque está na vocação ao ministério ordenado: diáconos, padres e bispos. Homens convocados por Deus a colocar suas vidas em total disponibilidade a Deus e aos irmãos. Eles oferecem a vida para construir pontes entre Deus e a comunidade. Vamos pedir ao Senhor da Messe que acompanhe os nossos consagrados, que eles sejam sempre firmes na resposta que deram a Deus sendo generosos e fiéis. Que nossas comunidades gerem novas vocações para continuar o projeto de Deus realizado por Jesus que nos amou tanto e deu a vida por nós!

Dom João Carlos Seneme, css

Bispo de Toledo