Itamar Weikanko, Wilson Gomes e Marcelo e Marcelo Furtado, durante entrevista coletiva para divulgar o Setembro Verde. Foto: Fernando Braga

A divulgação do trabalho realizado pela equipe do Hospital Bom Jesus, em Toledo, ocorre durante o Setembro Verde, mês de conscientização sobre a doação de órgãos

Por Fernando Braga

Na manhã desta terça-feira (17/9), uma entrevista coletiva foi realizada no Hospital Bom Jesus, em Toledo, para divulgar dados sobre a captação de órgãos na unidade e reforçar a importância da doação, gesto nobre que salva muitas vidas.

A coletiva foi organizada para difundir o Setembro Verde, mês dedicado a conscientização e incentivo para a doação de órgãos. Presentes na coletiva, estiveram Itamar Weikanko, coordenador da CIHDOTT (Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante), dr. Wilson Gomes, neurologista da Hoesp/Hospital Bom Jesus, e Marcelo de Souza Furtado, coordenador da Organização de Procura de Órgãos do Estado (OPO).


Desempenho da Hoesp/Hospital Bom Jesus

– 33 pessoas receberam um órgão da Hoesp somente em 2024 (até agosto), entre eles rim, fígado e coração (aqui não foram contados tecidos, córneas e válvulas cardíacas).

– 298 autorizações de doação de órgãos da Hoesp ocorreram no período de 14 anos (desde 2010).

– A taxa de aceite da Hoesp é de 95%, uma das melhores taxas do Paraná e do Brasil.

– No primeiro semestre de 2024, foram 20 entrevistas e 19 doações de órgãos na Hoesp/Hospital Bom Jesus.

– Mais de 4 mil pessoas aguardam na fila para transplante no Paraná


Vale ressaltar que mais de 4 mil pessoas aguardam na fila para transplante no Paraná, e que todo esse trabalho, da captação ao transplante, somente pode ser concretizado mediante o desejo expresso do doador de órgãos. É necessário que o doador converse com a família e conte que deseja doar seus órgãos, caso se encontre nessa condição. Cabe aos familiares a decisão final sobre a doação dos órgãos.

Tudo é feito com o consentimento da família

O enfermeiro Itamar Weikanko explica quando se inicia o protocolo para avaliar a possibilidade de captação de órgãos no Hospital Bom Jesus, que é referência nacional sobre esse trabalho.

“Quando um paciente está, obviamente em ambiente de UTI, entubado, no respirador, se retira a medicação sedativa e observa-se então que esse paciente, clinicamente, não tem mais reflexos cerebrais importantes, não respira, não mantém nível de alerta, então esse paciente passa por um protocolo. Esse protocolo inclui duas avaliações médicas. Dois médicos vão tentar estimular esse paciente para ver se existe algum reflexo, se a pupila reage à luz, se ele tem algum reflexo de tosse, alguma movimentação, mais estímulos específicos. E constatado por dois médicos credenciados que o paciente está clinicamente em morte encefálica, é feito então o teste da apneia e um teste confirmatório, no nosso caso aqui, no Hospital Bom Jesus, uma arteriografia, mostrando que não há mais fluxo de sangue nesse cérebro. Esse cérebro está exposto a um grau de hipertensão intracraniana que não permite mais que o sangue chegue até esse cérebro. Então inviabiliza qualquer possibilidade desse paciente vir a ter, mesmo que, com muita restrição, seguir a vida dele”.

“No momento que é iniciado o protocolo, a família é informada. Tudo é feito com o consentimento, com a família acompanhando esse processo”. O coordenador da CIHDOTT reforça a importância do consentimento da família do paciente que pode doar órgãos.

 “É feita uma reunião com os familiares, que são informados do quadro clínico do paciente e tomam ciência de que infelizmente foi constatada uma situação irreversível”.

“O médico assistente, junto com a enfermagem, faz uma reunião com esses familiares. Então eles são informados que infelizmente esse paciente foi diagnosticado com morte encefálica. Do ponto de vista médico e do ponto de vista jurídico, esse paciente é considerado falecido”.

Itamar complementa com alguns dados. “Nós temos, só no estado do Paraná, mais de 4 mil pacientes aguardando por um órgão, um rim, um coração. Os principais órgãos captados são o coração, rins, pulmões, as córneas e o pâncreas. Então, a partir desse momento, quando a família autoriza, é feita essa captação, respeitando cada órgão. Tem que ter uma funcionalidade comprovada para que possa ser redirecionado a um outro paciente, um órgão que esteja em ótimo funcionamento”.

O neurologista Wilson Gomes relata como é o trabalho é feito com todo respeito com o paciente e sua condição, e cuidado em dialogar com os familiares. “O nosso objetivo maior é devolver esse paciente a sua vida, a sua família. Quando isso não for possível, então existe uma equipe treinada que vai aos poucos repassando as informações aos familiares, sobre a severidade da doença, a extensão dessa lesão cerebral e que o prognóstico realmente ficou ruim”

“Nós temos uma equipe de enfermagem muito competente, muito treinada, é um fato que torna o nosso Hospital Bom Jesus conhecido nacionalmente, porque nós temos aqui uma taxa de captação extremamente alta. Durante 3 anos essa taxa foi de 100%, enquanto a média em outros grandes hospitais Brasil afora é em torno de 40%, 50%. Nós temos 100% ou muito próximo disso, então nós fazemos 20, 30, 50 captações por ano”.

“O nosso diferencial talvez seja exatamente esse, a certeza, a garantia que a família tem de que todos os recursos médicos foram utilizados no sentido de salvar esse paciente. Tudo que estava ao nosso alcance para conseguir isso foi feito. E isso dá uma serenidade, dá uma tranquilidade para os familiares realmente poderem optar por esse ato tão benevolente que é a doação de órgãos”, conclui o médico.

Eficiência

O coordenador da OPO, Marcelo Furtado, detalha como a rede formada por várias entidades está mobilizada para obter êxito nos transplantes.

“No Paraná, são mais de 4 mil pessoas na fila do transplante. A gente tem mais de 200 paranaenses aguardando por fígado, 10 pulmões e em torno de 40 corações”.

“O Paraná hoje, é bom sinalizar, que entre os Estados, nos últimos anos, ele é o que tem maior taxa de autorização e esse sucesso é, justamente, porque nós temos hospitais como o Bom Jesus, que notifica os familiares, que para a entrevista com as famílias possui pessoas totalmente preparadas e capacitadas, que conseguem autorização para a captação de órgãos”.

“Em relação a logística, o Paraná também se destaca porque tem uma rede de apoio muito grande, principalmente com a aeronave. Tem alguns órgãos, como por exemplo, fígado, pulmão e coração, que precisa de rapidez entre a captação e o implante, e como o Paraná é extenso, precisa sempre de um suporte de aeronave. Então nós temos hoje, tanto a Casa Militar, que disponibiliza aviões do governo, como o SAMU que também sempre nos ajuda, assim como a Polícia Militar”.

Trabalho árduo e exitoso

“No final da coletiva, Itamar Weikanko relatou um caso em que mais de 100 pessoas foram mobilizadas em Toledo para o sucesso de transplantes que salvaram a vida de 10 pessoas. “Foi inédito aqui no Hospital Bom Jesus essa situação, desde os pacientes, que chegaram vítimas de acidentes de trânsito e vítimas de doenças relacionadas ao aparelho cardiovascular com o acidente vascular hemorrágico. Essas duas situações resultaram em mais de 100 profissionais envolvidos desde o primeiro atendimento até a distribuição dos órgãos para o sistema estadual. Então tivemos a parceria da equipe multiprofissional do Hospital Bom Jesus, em duas unidades de terapia intensivas”.

“Nós tivemos também o suporte da OPO Cascavel e a parceria do Estado disponibilizando duas equipes para captação simultânea. O pessoal da UOPECCAN reforçou esse plantel. Nós tivemos a parceria com a Casa Militar disponibilizando aeronave, o pessoal do Aeroporto Municipal de Toledo contribuiu para essa logística, bem como a Guarda Municipal que auxiliou no transporte dos profissionais e dos órgãos para envio rápido até o aeroporto e a distribuição”.

“Também tivemos uma empresa aqui do município de Toledo que nos fornece gratuitamente o gelo, que é muito importante para o resfriamento dos órgãos, e na questão aonde são embalados e transportados, sendo direcionados a todo o território brasileiro através das caixas específicas para cada órgão”.

“Então toda essa logística de diagnóstico, manutenção, condução para distribuição e oferta desses 10 órgãos envolveu mais de 100 profissionais. Foi muito difícil para duas famílias que perderam seus entes queridos, mas nós tivemos mais de 10 famílias que tiveram o sentimento de volta à vida”.

Itamar Weikanko se dirige aos presentes, detalhando o trabalho árduo e exitoso da equipe do Hospital Bom Jesus. Foto: Fernando Braga