Moradores de rua e seus cachorros dormindo em frente a porta do comércio de Toledo. Foto: reprodução redes sociais

Por Marcos Antonio Santos

A que ponto chegamos. Será que a solução para a cidade está em Chapecó (SC)?

“Ô meu amigo, vamos abrir a loja, você tem que levantar”.  É dessa maneira que os empresários, que tem suas lojas nas proximidades da Praça Willy Barth, centro de Toledo, precisam acordar todos os dias os moradores em situação de rua.

“Imagina, Jackson, como é que você vai abrir o teu comércio? Ainda mais eu, que os meus clientes têm 40, 50, 60 anos, com o pessoal na calçada do lado, na calçada do outro, cercando a praça, não dá. Todo dia tem que ir ali e fazer isso”, esse é o desabafo do empresário Andrei Felipe, proprietário de uma ótica, em uma rede social. “O pessoal tem que se mexer, ninguém se mexe. O pessoal reclama um por outro, mas ninguém se expõe, como eu fiz no vídeo”.

[bsa_pro_ad_space id=17] [bsa_pro_ad_space id=15]

Andrei diz o que espera do poder público. “Já não espero muita coisa, porque o poder público sempre diz que está engessado com a lei que proíbe isso ou proíbe aquilo. Eu espero do poder público é que simplesmente, nós comerciantes, que estamos agindo, que estamos correndo com eles daqui, pelo menos que protejam a gente com efetivo policial. É o mínimo”.

O capitão da Polícia Militar, Jimmy Cajuhy, disse que as soluções que se imaginam e poderiam ser adotadas para essa situação das pessoas moradoras de rua configuram crimes. “Não tem como sumir com essas pessoas. Não posso pedir para o policial militar desaparecer com os moradores de rua, é um problema complexo.

PSRs – Essas pessoas em situação de rua passam o dia todo na praça ou perambulando pelas ruas do centro, e a noite procuram uma marquise para dormirem, juntamente com a sua matilha. Nas noites frias além dos cobertores surrados, homem e cachorros se esquentam no ‘conforto’ da calçada dura ou de camas improvisadas de papelão. Eles dormem e são despertados logo pela manhã por pessoas que querem, ao contrário deles, trabalharem e produzirem.

“Que absurdo que virou essa praça, pura Cracolândia”, outro desabafo nas redes sociais. Cracolândia é a denominação comum para uma população em situação de rua, composta, na sua maioria, por dependentes químicos e traficantes, geralmente de crack.

“Muito triste. Antigamente a gente tinha que se preocupar com a economia. Me preocupava se iria chover a semana toda, o movimento do comércio vai baixar. Agora, além de já estar muito ruim as vendas, temos que se preocupar com os moradores de rua. E os usuários de drogas. Conversei com um rapaz que é de Minas Gerais. O pai dele manda R$ 5 mil por mês para ele, que caiu na droga. E está na praça apenas se drogando. Ele tem dinheiro, tem condições, e gasta tudo em pedra”, relata Andrei.

Moradores de rua em Toledo. Foto: Arquivo/Gazeta de Toledo

Mesmo depois de uma reunião na ACIT realizada no dia 6 de junho, com empresários, autoridades políticas e de segurança, e das ações da Guarda Municipal na Praça Willy Barth, os transtornos que as pessoas em situação de rua vem causando não diminuíram e continuam sendo uma grande ameaça para a população de Toledo. Os moradores de rua estão espalhados pela cidade e não é somente na Praça Willy Barth, mas também no Terminal Rodoviário Alcido Leonardi, Praça do Ginásio Alcides Pan, e em outras localidades.

“Minha esposa relatou uma situação essa semana, chegou para estacionar o carro bem nessa região que você (Andrei) estava filmando e tinha um pessoal estranho parado, ela ficou receosa de parar na praça, pegou o carro, saiu, não parou, saiu dali e foi parar na Rua 7 de Setembro, para se afastar daquele ambiente porque não se sentiu segura e esse é um relato testemunho dela”, mais um desabafo nas redes sociais da realidade atual de Toledo.

SANTA CATARINA – Nesta semana uma comitiva toledana viajou a Chapecó (SC) em busca de aprimoramento de soluções para as pessoas em situação de rua. Muitas sugestões que chegaram ao poder público municipal, apontam o município de Chapecó sendo exemplo de sucesso no encaminhamento, principalmente de PSRs usuários de drogas, para tratamentos e reinserção no mercado de trabalho. O prefeito Beto Lunitti convidou empresários, vereadores, presidentes de associações, integrantes do judiciário e membros da equipe para acompanhar uma visita técnica a fim de entender como são construídos esses fluxos e processos no município catarinense.

O vereador Oseias Soares dos Santos é um dos sete vereadores que estavam na comitiva. “Na minha constatação eles estão à frente de Toledo. Estão trabalhando dentro da lei, estão tendo um trabalho muito preciso de recuperação de quem precisa. E de não permitir quem não quer se adequar ao sistema e quer usar para maldades para que não fiquem na cidade dentro das regras. Eles criaram os programas que aproximam da linguagem do pessoal. Foi muito bom a visita a Chapecó”, afirma.

Segundo o Creas, Toledo tem hoje 56 pessoas em situação de rua cadastradas de um total de 110.

227 MIL – O número de pessoas morando nas ruas das cidades brasileiras era de 227.087 em agosto de 2023, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), usando dados do Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal.

O número é mais do que dez vezes maior que o registrado em 2013, de 21.934, o que representa uma alta superior a 1000%. O número real deve ser ainda maior, pois nem todos os moradores de rua estão cadastrados na CadÚnico.