Por Marcos Antonio Santos
População de Toledo e comerciantes ficam reféns dos PSRs
“Estou surpreso que temos apenas 110 moradores em situação de rua em Toledo. Vamos espalhar um em cada bairro e adotá-los, porque são todos ‘santinhos’. Saber o direito deles nós sabemos, mas ninguém pode chegar na minha loja e esmurrar a vidraça e chamar os meus funcionários de vagabundos. Todos sabem quem é essa pessoa, que vem aterrorizando o centro da cidade. É um bandido e não pode ficar solto. Quando saio da minha loja à noite, fico com medo e em pânico. Quando a minha filha vai embora da empresa tenho que acompanhá-la até o estacionamento. Cria-se uma lei que não pode se tomar bebidas alcoólicas na praça, mas teríamos que ter uma lei que não pode ficar cachorros na praça. Vamos ficar nos acovardando e mais uma vez pagar essa conta? ”, desabafa o empresário Danilo Gass.
Segundo o Creas, Toledo tem hoje 56 pessoas em situação de rua (PSRs) cadastradas de um total de 110.
REUNIÃO NA ACIT – Para resolver a problemática dos moradores de rua e a segurança das empesas foi realizada nessa quinta-feira, 6, uma reunião no auditório da Associação Comercial e Empresarial de Toledo com a participação do prefeito Beto Lunitti, o presidente da Acit, Cristiano Dall’oglio da Rocha, representantes da Polícia Militar, Guarda Municipal, e os empresários que demostraram todo o temor que estão vivendo neste momento com os moradores de rua; vícios, violência e os cachorros.
ACOMODADOS – Os grandes problemas são o consumo de bebida alcoólica, as drogas e ainda a participação da população que muitas vezes compram marmitas, bebidas e ração para os animais. O que deixam esses moradores de rua cada vez mais acomodados e a vontade para ocupar os espaços públicos e privados.
De acordo com a sócia-proprietária do Restaurante Tio Zé, Maristela Brito Castro Alén, para muitas pessoas comida não se nega, e os clientes compram marmitas para matar a fome dos andarilhos. “O problema depois fica na porta do restaurante, porque essas pessoas fazem suas necessidades fisiológicas nas imediações e os cachorros ficam nas nossas portas, que são alimentados pelos clientes com sachês de ração. Essas pessoas ficam entre a Rodoviária e o Ginásio Alcides Pan, em frente ao nosso restaurante tem um supermercado, e elas compram vodca, energético e pagam com cartão de débito. E ainda eles mantêm relações sexuais nas calçadas. Sentimos sem forças, e vai brigar com eles para ver o que acontece. Somos mais de 150 mil habitantes reféns de 110 moradores de rua”, relata.

A proprietária de um restaurante no centro, Sirlei Zanatto, também reclama dos clientes que compram até três marmitas para os moradores de rua. “Já cansei de pedir para a pessoa sair da porta do restaurante e procurar o Creas, mas ela fala que já está cadastrada e que o local oferecido está muito cheio e prefere ficar nas ruas. As placas nos semáforos pedindo para não dar esmolas vem ajudando, porém precisa espalhar mais pela cidade”.
Em fevereiro deste ano a prefeitura lançou a campanha: ‘Esmola não dá dignidade!’ Quer ajudar uma pessoa em situação de rua? Ligue 156.
A funcionária de uma loja, Daniela, disse que desde cedo os moradores de rua vão até o estabelecimento comprar bebida alcoólica e muitas vezes não pagam. “Diariamente temos problemas com os moradores de rua, abrimos a loja e já tem gente na porta para comprar bebida. Muitos já chegam de manhã alcoolizados e incomodando. Somos somente mulheres nos caixas e precisamos de alguém para ficar na frente da loja, porque passamos medo. Além da bebida, eles compram também Bombril (esponja de ação). O problema é nítido que é o álcool, tem que focar nesse problema e ainda nas ações dos drogados. Nesta semana um cadeirante, morador de rua, foi comprar bebida e não quis pagar. Estamos sofrendo bastante com essa situação”, afirma. Os usuários de drogas utilizam a esponja de aço para consumir crack.
O presidente do Sindicato Patronal do Comércio Varejista de Toledo (Sinvar), Gilberto Furlan, disse que os comerciantes estão impotentes com o atual momento. “Vejo as pessoas distribuindo marmitas, e se eles estão na rua é porque se sentem confortáveis. Nunca tivemos esses problemas e pode se tornar uma bomba-relógio, é uma questão de tempo. Estamos a disposição para a ajudar o poder público para encontrar soluções. O que podemos e não podemos fazer diante da lei”, afirma.

LEI – Em 2023, O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para confirmar a decisão do ministro Alexandre de Moraes que proibiu em liminar, que os estados, o Distrito Federal e os municípios façam a remoção e o transporte compulsório de pessoas em situação de rua às zeladorias urbanas e aos abrigos.
O assessor jurídico da Acit, Dr. Ruy Fonsatti, disse que o plenário do STF referendou a decisão de Moraes. “Esse problema dos moradores de situação de rua não é de hoje. Em Toledo, o poder público vem tentando fazer o que determina o decreto Federal 7053/2009, que estabelece uma política nacional para a população em situação de rua. Que são a democratização do espaço do serviço público, capacitar os servidores para a melhoria do atendimento desse grupo, educacional destinado a superação do preconceito e implantação de ações educativas”.
O capitão da Polícia Militar, Jimmy Cajuhy, comenta que não é algo simples de se resolver. “As soluções que imaginamos e poderiam ser adotadas para essa situação das pessoas moradoras de rua configuram crimes. Não tem como sumir com essas pessoas. Não posso pedir para o policial militar desaparecer com os moradores de rua, é um problema complexo”, ressalta.
Ele disse que em Toledo existem quatro grupos de moradores de rua. “O primeiro grupo dessas pessoas não causam ocorrências policiais; o segundo grupo é itinerante, por exemplo a pessoa sai da Argentina e está em direção ao Nordeste; os outros dois grupos temos os dependentes químicos ou mentalmente perturbados. Eles moram na rua porque se envolveram com as drogas e perderam tudo, e os que estão doentes”.
O secretário de Segurança e Mobilização Urbana, major Christian Goldoni, promete aumentar o efetivo para resolver parte do problema. “Vamos colocar seis Guardas Municipais, que são os supervisores de serviços, e os comerciantes poderão fazer sugestões para chegarmos a uma solução adequada legal. Sempre teremos um GM em serviço 24 horas por dia”. Ele orientou que os comerciantes que ainda não participam do Toledo + Mais Seguro possam ligar as câmeras de segurança ao programa para se ter provas de delitos cometidos pelos moradores de rua.
Segundo Beto Lunitti, a solução tem que ser coletiva “sozinho o prefeito não vai resolver, mas se unirmos para as propostas legais vamos seguir juntos”. Ele disse ainda que não pode encher ônibus com esses moradores de rua e mandá-los embora de Toledo.
“Os desabafos que foram feitos nessa reunião, são compreendidos, e em momento levo como uma agressão ao prefeito ou a instituição prefeitura. Há uma vontade de resolver esse problema”, afirma Lunitti.
Cristiano Dall’oglio espera que as propostas possam contribuir e encontrar soluções. “Sabemos todas as ações legais e de todas os atos que estão sendo feitos, mas temos que resolver em conjunto todos esses problemas”.
As denúncias podem ser feitas pelos telefones 153, 156, 190.





