Da Redação
“Muito obrigado de poder celebrar nesse tempo, 67 anos de vida, 40 anos de padre, 18 anos de bispo, sou muito agradecido por esse momento e também de estar sempre muito investido nessa alegria que me leva adiante ainda a viver bastante”
O bispo da Diocese de Toledo, D. João Carlos Seneme, de 67 anos – completados no dia 11 de dezembro –, tem dupla comemoração neste sábado, 13: o 40º aniversário de sua ordenação presbiteral e o 18º aniversário de ordenação episcopal. A programação, organizada pelo pároco da Paróquia Cristo Rei e vigário-geral da Diocese, Pe. Hélio Bamberg, começa com Missa, às 10h30, na Catedral Cristo Rei, seguida de almoço no Salão Mafalda Eventos.
D. João foi ordenado padre para a Igreja Católica em Santa Gertrudes (SP), sua terra natal, em 15 de dezembro de 1985. E, no dia 16 de dezembro de 2007, recebeu a ordenação episcopal, tornando-se bispo.
Ele conta um pouco da sua trajetória vocacional à Gazeta de Toledo.
Gazeta de Toledo: Como foi o seu despertar vocacional?
Dom João: Eu tive a felicidade de morar numa área onde os quintais da família, dos primos, se comunicavam, de modo que a gente, até praticamente a adolescência, quase nem ia para a rua; brigávamos entre nós ali dentro. Depois, já adolescente, eu comecei a participar da Igreja, das missas, através de conhecidos da escola. Um colega começou a me convidar; eu fui, gostei e depois passei a participar de grupo de jovens. Foi aí que comecei a me interessar, sentindo esse chamado de Deus para poder segui-lo de perto.
Então isso me levou… Entrei na Igreja com uns 13 ou 14 anos, mas só fui para o seminário aos 18, depois que terminei o ensino médio. Havia um tipo de encontro de despertar vocacional e eu participei. Depois, tornei-me coordenador de grupo de jovens, tocava violão na missa, animava a comunidade, e isso foi despertando em mim esse desejo de me consagrar definitivamente à Igreja. Foi no grupo de jovens, praticamente, que descobri essa vocação.
Eu tinha um irmão religioso de uma congregação – que hoje é a minha – e ele apresentava um programa no rádio. Eu ouvia e gostava muito do que ele falava, então entrei em contato com ele. Foi através dele que entrei na Congregação dos Estigmatinos, à qual pertenço até hoje. A sede da congregação fica numa cidade distante apenas cinco quilômetros da minha. É interessante que toda a vida religiosa dos meus pais e a minha sempre teve a presença de um estigmatino: o casamento dos meus pais, meu batismo, eucaristia, tudo foi feito por padres estigmatinos, porque eles atendiam a comunidade.
Com uns 15 anos, entrei em contato com a congregação em Rio Claro, cidade vizinha, e comecei a participar de um grupo de vocacionados. Todos os sábados nos reuníamos na igreja; éramos acompanhados, participávamos ali. Foram quase três anos nessa pastoral vocacional, já com jovens que desejavam entrar. Depois, ingressei diretamente no curso de Filosofia em Campinas. Fiz toda a minha formação em Campinas e então chegou o dia da minha ordenação. Lembro daquela data e da presença de tanta gente que eu nem podia imaginar. Eu fazia trabalho pastoral, no tempo da Teologia, em São Paulo, capital, e naquele dia fiquei extasiado ao ver tanto movimento. Fiquei encantado ao reencontrar tantas pessoas de lugares onde eu havia passado, que me conheciam e participaram daquele momento tão feliz.

Gazeta: O senhor lembra dos seus primeiros momentos como padre em Curitiba?
Dom João: Fui ordenado padre no dia 15 de dezembro de 1985 e, já no início de janeiro de 1986, fui designado formador para um seminário em Curitiba. Era um seminário com rapazes que estavam terminando o ensino médio e alguns que já cursavam Filosofia. Fiz esse trabalho por 15 anos; foi praticamente a minha atividade exclusiva nesse período.
Eu ainda não tinha toda a experiência necessária, mas percebia que os superiores confiavam em mim. Fui aprendendo na convivência com os seminaristas. Em Curitiba havia também um forte intercâmbio entre formadores — religiosos e padres —, e isso foi me ensinando ao longo da vida a ser testemunho e ajuda para que os outros se conhecessem melhor e pudessem se entregar mais a Deus. Foi uma experiência muito bonita, pela qual louvo muito a Deus.
Gazeta: Como está sendo a sua trajetória de bispo?
Dom João: Em Curitiba, como bispo, eu fui cuidar de uma região que tinha mais de 50 paróquias. Era algo muito diferente, uma enorme responsabilidade. As pessoas olham para o bispo como aquele que decide, aquele que orienta, e foi ali que aprendi a ser bispo.
Percebi a grande diferença entre ser provincial e ser bispo. Como provincial, o mandato é determinado: três anos, com possibilidade de reeleição por mais três — no máximo seis. Mas bispo é para a vida inteira. Do ponto de vista teológico, ser bispo é continuar o projeto de Jesus Cristo, que construiu a Igreja sobre a fé de Pedro. O bispo é o ponto de ligação com o Papa; somos unidos ao Papa e, por meio dele, a Jesus Cristo, mantendo a unidade da Igreja.
No dia a dia, porém, lidamos com muitas situações, e o bispo muitas vezes vive grande solidão, porque cargos de liderança acabam sendo solitários. Podemos pedir opiniões, consultar, mas, na hora H, somos nós que temos de decidir. Isso às vezes me assusta: tomar a decisão certa, fazer uma transferência, lidar com as pessoas, pensar no bem tanto do padre quanto da comunidade. Percebo que, pelas nossas próprias forças, isso seria impossível; contamos sempre com o Espírito de Deus.
Vamos aprendendo um certo despojamento: tentamos fazer o melhor, como um pai ou uma mãe tenta ser o melhor para sua família. Tentamos ser o melhor bispo possível, dentro das limitações humanas.

Gazeta: Dom João, de que maneira o senhor avalia a amizade e o afeto das pessoas da Diocese de Toledo?
Dom João: As pessoas são muito acolhedoras. Sempre existe aquela dificuldade inicial porque, pelo cargo que ocupamos, muitos não sabem como agir conosco, acham que somos muito diferentes no modo de comer, de viver. Mas, quando percebem que não é assim, tudo se torna mais simples — e isso é muito enriquecedor.
Em Toledo, sinto muito essa acolhida. Quando participo das celebrações, dos encontros, ou quando vou à casa de alguma pessoa, sempre encontro muito carinho e respeito pela vida do bispo. As pessoas se preocupam, se interessam e sempre dizem que estão rezando por nós, o que é muito importante.
Nós somos muito alimentados pela fé do povo. Às vezes, nos momentos em que a nossa própria fé vacila, somos sustentados pela fé das pessoas, especialmente quando vemos seus sofrimentos e desafios. Mesmo que eu não viva exatamente aquelas dores do cotidiano — como desencontros familiares, dificuldades conjugais —, esses encontros nos enriquecem profundamente.
Com colaboração da Assessoria de Comunicação da Diocese de Toledo





