As leituras da liturgia de hoje recordam que o chamado de Deus a participar da construção do seu Reino envolve toda a existência. É preciso atenção, seriedade e disposição à conversão. “Convertei-vos e vivereis” diz o profeta Ezequiel.

O Evangelho de Mateus (21, 28-32), com a parábola do pai e dos dois filhos, é provocativo, mas segue a mesma tendência dos últimos domingos. A intenção é mostrar que o Reino de Deus acontece num contexto de misericórdia, acentuando que os pecadores, no Reino de Deus, podem preceder muitos que se julgam merecedores da salvação. Jesus se dirige aos sumos sacerdotes e anciãos do templo, autoridades religiosas e políticas do seu tempo. Relata a parábola de um pai que se aproxima dos dois filhos e lhes pede para trabalhar na vinha. O primeiro responde não, mas depois repensa, arrepende-se e vai trabalhar. O segundo reage com docilidade ao pedido do pai, responde sim, mas não cumpre a promessa.

O evangelista, na verdade, parece querer revelar que os dois irmãos representam o ser humano em situações de luzes e sombras. Como bem afirmou São Paulo: “Com efeito, não faço o bem que quero, mas pratico o mal que não quero” (Carta aos Romanos 7,20). Como na parábola do filho pródigo, o que vai provocar a conversão é a ideia que se tem do Pai. Quando o filho descobre que o Pai é amor e liberdade, ele tem coragem de voltar e pedir perdão. Cumprir a vontade do Pai significa reconhecer-se filho e viver como irmão assumindo corajosamente o trabalho na vinha.

A mensagem da parábola sublinha o tema da ação de Deus na vida dos publicanos e prostitutas que mudaram de vida ao acolher a palavra de Jesus Cristo. Enquanto os judeus que se consideram puros e escolhidos fecharam o coração e não acolhem a palavra de Jesus. Aqui trata-se de uma questão importante que atinge Israel e a Igreja de Cristo hoje: quem é o verdadeiro fiel? Aquele que diz sim e não vai trabalhar na vinha ou aqueles que, mesmo não se declarando a própria fé, fazem a vontade de Deus?

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O evangelista não responde com palavras simples. Ele condena a distância e separação entre fé e vida. A unidade entre a confissão de fé e a prática dela é o ponto mais importante do evangelho de hoje. O que define o discípulo de Cristo é a conversão à vontade do Pai.

Neste sentido, os publicanos e as prostitutas se tornam um modelo de conversão e seguimento. Eles tiveram de coragem de rever a própria vida e abandonar o pecado e seguir Jesus na nova vida que descobriram. O sinal da liberdade humana é justamente sua capacidade de se converter do mal para o bem, de mau tornar-se bom. Ou seja, ninguém está destinado ao pecado, Jesus nos garantiu a salvação com a sua morte e ressurreição.

Também somos chamados a trabalhar na vida do Senhor. Não nos deixemos contaminar pela vanglória de nos considerar salvos pelos nossos méritos, mas coloquemo-nos numa atitude permanente de aprendizes, seguidores de Jesus, buscando sempre a conversão. Que Deus nos dê a graça de sermos coerentes com o nosso “sim”.

Dom João Carlos Seneme, css

Bispo de Toledo