O Evangelho deste domingo (21/03) nos permite acompanhar os sentimentos que Jesus viveu intimamente ao se aproximar de “sua hora”: sua paixão, morte e ressureição. O fato se passou no dia seguinte a sua entra triunfal em Jerusalém (Domingo de Ramos). Em sua alma já começou a agonia do Monte das Oliveiras: “Agora, a minha alma está perturbada” (Jo 12,27). Mas não impediu que Ele confirmasse a sua entrega por amor ao Pai e à humanidade. 

A presença de gregos pagãos querendo ver Jesus indica a abertura da salvação a todos os povos. O gesto de obediência de Jesus ao Pai, dando a sua vida para que todos “tenham vida em abundância”, é para todas as pessoas que se abrem ao dom da fé e acolhem Jesus como Filho do Deus libertador e salvador. Os gregos não se dirigem diretamente a Jesus, aproximam-se de Filipe e manifestam o desejo de conhecer Jesus. Neste fato, São João indica que caberá à comunidade de Jesus a missão de anunciar a boa-nova do Reino a todos os povos.

Em seguida, Jesus declara que a “hora” anunciada desde o princípio chegou, e que nela se manifestará a sua glória: o seu amor fiel até as últimas consequências, realizando até o fim o projeto de Deus. A glória que n’Ele se manifestará é a mesma do Pai. Em Jesus a humanidade recupera a sua plenitude humana quando fomos criados à imagem e semelhança de Deus.

Na Bíblia, a glória de Deus é a sua presença. Presença radiante como o fogo na sarça ardente, que encantou Moisés e onde Deus se revelou. Quando Jesus disse “Pai, glorifica o teu nome” (Jo 12,28), Ele pede que ao Pai que revele sua identidade de Pai amoroso que estabeleceu uma aliança com a humanidade. Porque esta é, em última análise, a salvação, a felicidade humana, e é justamente isto que a primeira coisa que pedimos na oração do Pai Nosso: “Santificado seja o vosso nome, venha o vosso Reino, seja feita a vossa vontade”. Em outras palavras, queremos afirmar que vos sejais reconhecido como o Deus de amor e que o vosso Reino de amor se estabeleça entre nós. Jesus se encarnou para isso. Mais tarde vamos acompanhar o interrogatório de Jesus diante de Pilatos. Jesus dirá: “Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade” (Jo 18,37).

Em seguida, com uma metáfora, Jesus explica o conteúdo e o significado da “hora”. A imagem do grão de trigo ajuda a compreender o caminho da glorificação de Jesus. Para produzir fruto o grão de trigo tem que desaparecer na terra. É o único modo de produzir fruto. A metáfora revela que semelhante ao grão de trigo, Jesus também deve morrer para que todos tenham a possibilidade de entrar em comunhão com o Pai. É a lógica que permeia a existência cristã: encontrar Jesus implica segui-lo em um estilo de vida que se realiza em ser dom para os outros. É dessa forma que Jesus dá sentido à sua Paixão e morte: “produzir muito fruto”. Agora, ao olhar para a cruz não vemos um instrumento de ódio e dor, mas o instrumento do triunfo do amor. Jesus veio para dar testemunho da verdade, chegou a “hora”, a missão está cumprida.

Ao mesmo tempo, Jesus propõe aos seus seguidores de todos os tempos que façam o mesmo. Sabemos que não é algo tão simples. O próprio Cristo passou por aflição e até pediu ao Pai que o livrasse deste sofrimento. Porém venceu o dom de sua vida, “Ele foi obediente até a morte e morte de cruz” (Fl 2,8) e se tornou fonte de salvação eterna. “Queremos ver Jesus” também deve ser o nosso desejo fundamental, mesmo que tenhamos medo e incerteza, pois certamente esta busca e este encontro nos farão melhores do que somos e estaremos mais perto de Deus.

No próximo domingo iniciaremos a Semana Santa. Neste dia somos convidados a devolver a Deus o fruto da oração, jejum vividos durante a Quaresma. É o momento de manifestar nossa caridade através da Coleta Nacional da Solidariedade em conexão com a Campanha da Fraternidade Ecumênica: “Fraternidade e diálogo”, “Cristo é nossa paz”. Ele deu a sua vida por nós. Sejamos solidários e comprometidos para construir um mundo melhor.

Dom João Carlos Seneme, css

Bispo de Toledo