Por Fernando Braga
Nessa semana tivemos o registro de um episódio lamentável que começou na região Central do Paraná, com o flagrante de crimes ambientais, e teve prosseguimento em Toledo, graças a atuação de um morador que se dedica de maneira especial a proteção de aves silvestres.
Na última quarta-feira, dia 18 de novembro, técnicos do IAT (Instituto Água e Terra) realizaram, com o apoio do Batalhão de Polícia Ambiental, a apreensão de pássaros mantidos em cativeiros irregulares nos municípios de Pitanga e Laranjal. Assim que denúncias chegaram à equipe da Força Verde de Guarapuava, fiscais e policiais foram aos locais indicados e resgataram 102 aves de diversas espécies como sábia, bigodinho, curió, azulinho, pintassilgo, papa-capim, canário-da-terra, iraúna, trinca-ferro, azulão, melro, pimentão, papagaio baitaca e maritaca-macaranã.

Os crimes
Durante a ação, uma pessoa foi detida por posse ilegal de arma e autuada com multa. Outras 11 também receberam multas emitidas pelo IAT que somam R$ 68,5 mil. O Instituto salienta que a pena pelo crime de manter pássaros em situações irregulares é multa de R$ 500,00 por ave apreendida. Caçar, apanhar, manter em cativeiro e comercializar espécies nativas e silvestres sem autorização são considerados crime, previsto na Lei Federal nº 5.197/67.
As apreensões ocorreram durante a Operação Voo Livre, desenvolvida por técnicos dos Escritórios Regionais do Instituto Água e Terra. De acordo com o Chefe do Núcleo Regional do IAT em Pitanga, Elmiro Genero, algumas aves foram soltas no dia em que foram encontradas e outras encaminhadas ao Escritório Regional para uma avaliação que constatou que a maioria delas estavam aptas a voltar à natureza.
As aves ficaram guardadas em uma chácara na região de Pitanga e foram soltas em duas etapas. Devido às chuvas que caíram no meio da semana naquela região, os pássaros foram libertados aos poucos. Em dois dias, 74 animais voltaram à natureza. Os outros 28 pássaros não tinham condições de serem reintroduzidos no habitat natural e foram trazidos a Toledo, onde recentemente entrou em operação, em uma propriedade particular, um criadouro de aves silvestres.
A rápida ação necessária para salvar os bichos mobilizou vários técnicos em pontos distintos do Estado. Em virtude da fragilidade das aves, maltratadas e feridas, foi preciso encontrar logo um refúgio para elas. De Pitanga, as aves foram entregues à uma equipe do IAT de Umuarama, que as encaminhou para o criadouro de preservação de papagaios e outros pássaros, em Toledo.
Após seguir os protocolos e atender todas as exigências ambientais, Dionatan Grando, conseguiu autorização para implementar em sua propriedade rural um enorme viveiro, capaz de abrigar aves permanentemente, se necessário. O criadouro, que fica no sítio Bom Jesus, em Cerro da Lola, também está dotado de estrutura para oferecer tratamento e reabilitação a pássaros feridos, que depois de recuperados podem ser devolvidos à natureza.
Dionatan nos contou que os animais resgatados na região Central chegaram a Toledo muito debilitados. A situação deles era tão degradante que nas gaiolas em que eram mantidos havia grande acúmulo de excrementos e até mesmo teia de aranha dentro dos comedouros. Nesses comedouros, não havia vestígios de frutas, alimento essencial para várias espécies e algumas das aves estavam praticamente depenadas.

O criadouro
Em uma área que abriga uma estrutura 5 vezes maior do que o exigido pelas normativas do Ibama, Dionatan Grando construiu um dos mais recentes criadouros a entrar em funcionamento no Paraná. Sua paixão e dedicação aos animais fez com que a propriedade se tornasse um espaço importante para a conservação da fauna e pode ser recorrente à vários órgãos ambientais que por vezes buscam seu auxílio para a recuperação e tratamento de aves, como o ocorreu nessa semana.
De acordo com o criador de aves, os maus tratos e abusos cometidos contra os passarinhos começam desde a captura, passando por métodos cruéis utilizados por traficantes de animais e podem, em muitos casos, prosseguir na casa das pessoas que adquirem esses pássaros. O proprietário do sítio Bom Jesus relatou à nossa reportagem que, a partir de uma parceria com o Escritório Regional do IAT de Toledo, já recebeu papagaios que foram resgatados após serem flagrados sendo criados dentro de uma churrasqueira.
Com apenas um quarto do criadouro pronto, o espaço conta hoje com aproximadamente 50 aves e pode abrigá-las em um ambiente saudável, propício, inclusive, para a reprodução. Em breve, outras etapas devem ser concluídas e o criadouro será ampliado.