Jhonson durante treino da Seleção Brasileira para disputar o Campeonato Sul-Americano. Foto: Arquivo/Adriano Fontes/CBF

A iniciativa de prendê-la ao clube seria para protegê-la dos “tubarões”

Por Fernando Braga

A jogadora Jhonson, do Toledo Esporte Clube (TEC), continua sendo destaque na imprensa nacional e internacional. Nesta segunda-feira (15), depois de marcar dois dos oito gols brasileiros feitos sobre o Chile em partida realizada pelo Campeonato Sul-Americano de Futebol Feminino Sub-17, do qual ela é artilheira absoluta com o total de 09 gols, Ingrid de Morais “Jhonson” esteve na pauta de diversos jornais. Contudo, uma das reportagens ganhou grande repercussão no meio esportivo ao revelar que a talentosa jogadora de apenas 16 anos de idade possui com o TEC um contrato profissional que a prende ao clube.

A Folha de São Paulo revelou que Jhonson assinou no início deste ano um contrato no qual estão impostas multas milionárias para as equipes que quiserem a levar de Toledo. O TEC pede US$ 10 milhões (cerca de R$ 54 milhões) aos times europeus que quiserem contratar Johnson e US$ 1 milhão aos times brasileiros que quiserem contar com a atacante.

[bsa_pro_ad_space id=17] [bsa_pro_ad_space id=15]

Durante o Campeonato Sul-Americano Sub-17, Jhonson vem chamando a atenção do mundo. Ela jogou as cinco partidas disputadas até agora na primeira fase da competição e marcou gols em todas. Foram 01 contra a Argentina, 02 sobre a Bolívia, 02 contra o Paraguai, 02 sobre a Venezuela e 02 contra o Chile. A atacante da Seleção Brasileira é a maior goleadora da competição e com um talento ímpar demostra que também é uma das grandes promessas do futebol mundial.

No TEC, Jhonson, que hoje está com 16 anos, joga desde os 15 na equipe principal, na categoria Adulto, e em 2022 vai disputar os campeonatos Paranaense Adulto, Sub-17 e Brasileiro A3.

Sua habilidade em campo impressiona, assim como a velocidade de seu crescimento no mundo da bola. Até os 15 anos, a menina jogava futebol de salão, mas a partir do momento que foi para o campo, sua carreira foi impulsionada. Vinda de Londrina, onde jogava futsal, a jovem foi trazida pelo técnico da equipe feminina do TEC Jaime Lira.

Jaime viu Johnson jogar futsal em uma competição escolar em Londrina, onde ela morava, e a convidou para treinar no clube. Assim, ela veio para a cidade de Ouro Verde do Oeste, onde está baseada a equipe feminina do TEC, através da parceria Toledo/Ouro Verde.

Foi na cidade vizinha, distante a menos de 30 km de Toledo, que Jhonson começou a jogar futebol de campo. Com apenas 15 anos, ela foi destaque no Campeonato Brasileiro Sub-18 de 2020, com 07 gols em seis jogos, e chamou a atenção de Simone Jatobá, técnica da Seleção Brasileira Sub-17.

A centroavante da Seleção Canarinho está em um momento de ascensão em sua carreira, se destacando em uma competição internacional. Isso naturalmente desperta interesse em diversos clubes, do Brasil e do mundo. Porém, dificilmente Jhonson vestirá outra camisa, senão a do TEC, antes de 2025.

Ingrid Jhonson na sala de troféus do Toledo Esporte Clube. Foto: Divulgação

Proteção contra os “tubarões”

Jaime Lira foi o responsável pelo contrato de multa milionária com a Ingrid Jhonson. Para se ter uma ideia dos valores, a maior transação do futebol feminino foi a da dinamarquesa Pernille Harder, uma das melhores jogadoras do mundo, que foi contratada pelo Chelsea por 300 mil libras, o equivalente a cerca de R$ 2 milhões.

Ao canal Dibradoras, produtor de conteúdo sobre o protagonismo feminino no esporte, Lira explicou porque a multa prevista pelo TEC é estratosférica. “Os valores astronômicos são para proteger a jogadora”. O técnico disse que o objetivo é “prendê-la ao clube e tentar protegê-la dos tubarões”. Segundo ele, “a multa é para proteger a integridade da jogadora. O que mais tem no futebol feminino são aproveitadores”.

O presidente do Toledo Esporte Clube, Carlos Alberto Dulaba, também se manifestou sobre o intuito da multa elevada. O dirigente salientou nesta terça-feira (15) que é preciso valorizar o futebol feminino, cujos valores movimentados estão muito aquém do presenciado no futebol masculino.

Sobre as multas milionárias, Dulaba explicou que isso é normal para qualquer jogador masculino. “No caso do Endrick, do Palmeiras, por exemplo, quando despontou na Taça São Paulo, o clube paulista sinalizou uma multa de R$ 600 milhões, visto que o Real Madrid estava disposto a pagar € 45 milhões. E a notícia foi encarada normal”.

O dirigente também observou que a multa no contrato da Jhonson “é uma segurança para o clube, para não perder a atleta, pois isso acontece direto no futebol”. “O que se precisa é começar a valorizar mais o futebol feminino. Todos os clubes do Brasil querem a Jhonson de graça, ninguém quer investir… Aí fica muito fácil. Se ninguém quiser investir, com certeza com 18 anos ela vai pra Europa”.

Carlos Alberto Dulaba disse à Gazeta de Toledo que o contrato com a jogadora vai até 2025, mas ao completar 18 anos, em outubro de 2023, Jhonson já poderá ir para a Europa. Isso deve acontecer se nenhum clube brasileiro quiser investir em sua carreira. A esse respeito, Dulaba esclarece que o TEC está aberto para negociar. E o dirigente faz um complemento. “Se um clube do Brasil quiser realmente ajudar a carreira da Jhonson, vai fazer o investimento. Caso contrário, só está pensando no seu próprio ganho”, relatou à nossa Reportagem.

Dulaba conclui ressaltando que é preciso transpor barreiras. “No masculino, um jogador, para ser valorizado, precisa estar em um time grande, e isso acabou com os clubes e futebol do interior. Como a CBF começou a incentivar mais o futebol feminino, quem sabe conseguiremos quebrar esse paradigma”.

A Jhonson quer ir para outro clube?

De acordo com o técnico Jaime Lira, a jogadora deseja continuar em Toledo, apesar de já ter recebido proposta para ir embora jogar em outros clubes. No ano passado, por exemplo, ela recebeu uma oferta da Ferroviária, mas não teve interesse.

Até então, ela recebia apenas uma ajuda de custo de R$ 500 do TEC Toledo/Ouro Verde e morava no alojamento. No início desse ano, porém, com o contrato profissional, a jogadora passou a receber um salário mínimo por mês. No entanto, Jaime garante que ela recebe bem mais que isso.

Para o canal Dibradoras, ele contou sobre outros investimentos que o clube faz na atacante. “A reforma da casa da família dela, somos nós que estamos fazendo. Ela tem tudo o que ela precisa aqui. O que ela ganha é muito dinheiro, não é pouco. O valor é baixo em carteira mesmo, o mínimo possível, que é pra ver as especulações. Mas os valores que gastamos com ela são astronômicos. Ela ganha o quanto ela pedir”, disse o técnico.

Jaime concorda que outros clubes brasileiros, como Internacional, Ferroviária e São Paulo, têm uma estrutura melhor do que o TEC para desenvolver a base do futebol feminino. Mas reforça que Johnson não quer ir embora. E considera importante a presença dela no estado para inspirar outras meninas da região.

“Ela não quer sair daqui. Ela valoriza outras coisas, que não o dinheiro. Ficando aqui, no estado dela, ela pode difundir o futebol feminino para muitas outras meninas”, diz Jaime.

Ingrid de Morais Jhonson é a única representante paranaense na Seleção Brasileira Sub-17. Enquanto fortalece o futebol do estado e enche de alegria e orgulho os torcedores de Toledo e todo o Paraná, ela certamente cativa e atrai outras meninas para o esporte.

O próximo jogo de Jhonson com a Seleção Brasileira será nesta quarta-feira (16), contra o Paraguai, pela segunda fase do Sul-Americano. A partida será às 18h30 com transmissão pela SporTV.