Da Redação
Durante a 39ª Sessão Ordinária, profissionais relataram casos graves de violência infantil e destacaram a falta de estrutura e suporte emocional para quem atua na linha de frente da proteção de crianças e adolescentes
Na 39ª Sessão Ordinária da Câmara de Vereadores de Toledo, no Auditório e Plenário Edílio Ferreira, realizada nesta segunda-feira, 10, a Tribuna Livre recebeu o Conselho Tutelar, que apresentou reflexões e demandas relacionadas à garantia dos direitos de crianças e adolescentes no município de Toledo. O conselheiro Alan Junior Julio e a conselheira Nayara Galdino Camilo expuseram os números de janeiro de 2024 a agosto de 2025. No período, 247 casos de violência física foram registrados. Nos 18 meses analisados, 451 casos de violência psicológica/moral chegaram ao conhecimento dos conselheiros tutelares, assim como 179 registros de violência sexual. Além disso, 1.403 registros de negligência, 843 de evasão/infrequência escolar e 77 casos de drogadição também entraram nos índices.
DESABAFO – Para Alan Junior, muitos ainda não compreendem o trabalho dos conselheiros. “Lá vêm aqueles que vão tirar o filho da mãe e do pai. ‘Coitado do pai, coitada da mãe’. Mas não entendem que, para chegar a uma medida tão dura, de ter que tirar uma criança do braço de uma mãe ou de um avô, não é fácil, pessoal. Só que, muitas vezes, é necessário. Por quê? Porque a rede trabalhou, o Conselho Tutelar encaminhou, a família não aderiu etc. Essa é a última instância. Tanto é que o ECA diz que essa é uma medida excepcional. Só que, muitas vezes, ela acontece. Toledo é uma cidade de porte grande, com estrutura, recursos e uma rede de proteção reconhecida. Só que, muitas vezes, né, Naiara, a própria rede de proteção, os próprios servidores, não compreendem o papel do Conselho Tutelar. Nós somos eleitos, escolhidos pela população, sim, para resguardar e garantir os direitos de crianças e adolescentes no nosso município. O que o artigo da lei diz? Que é dever de quem? Do Conselho Tutelar, do Poder Legislativo, Executivo e Judiciário. Mas, acima de tudo, é dever de todos. Todos quem? Uma vez conselheiro tutelar, sempre conselheiro tutelar. Uma vez policial, sempre policial. Por quê? Porque o nosso olhar é diferente. Quando estamos no supermercado e vemos uma mãe, uma avó, alguém puxando a orelha de uma criança, já ficamos em alerta. Por quê? Porque existem formas de corrigir uma criança. E a violência não é uma delas”.
CONDIÇÕES DE TRABALHO – Alan conta que existem casos que já chegaram ao Conselho Tutelar de bebês que estavam machucados, literalmente quebrados. “Quando o conselheiro tutelar é acionado de madrugada para ir à delegacia de polícia, porque uma criança teve seu direito violado e, pior ainda, sofreu a pior violência que uma criança pode enfrentar — a violência sexual —, esses profissionais aqui já se depararam com casos em que bebês tiveram sua genitália, seu órgão, dilacerado. E quem cuida do conselheiro tutelar?”, questiona.
De acordo com ele, os conselheiros tiveram um diálogo muito importante com a atual gestão, com o prefeito (Mario Costenaro), que se colocou à disposição. “Também conversamos com o presidente desta Casa (Gabriel Baierle – presidente da Câmara de Vereadores), que igualmente se mostrou disposto a ajudar. E, gente, nós gostaríamos mesmo que a população — mas, principalmente, o Poder Executivo e o Legislativo — olhassem para nós”.
RECONHECIMENTO – O conselheiro revela que eles não têm plano de saúde, vale-alimentação e recebem cerca de R$ 4.127,00 por mês. “Mas nós precisamos ter saúde para cuidar de quem precisa. A nossa saúde mental é constantemente abalada. Há dias em que eu chego em casa, preciso me despir do papel de conselheiro tutelar, olhar para a minha princesinha de seis meses e agradecer a Deus, dizendo: ‘Muito obrigado, porque você tem uma família que cuida e ama você’. Porque, às vezes, os meus filhos percebem: ‘Pai, você está triste hoje? O que aconteceu?’ E eu respondo: ‘Não, vai passar’. Mas, na verdade, deixei o trabalho depois de acolher uma criança ou de retirá-la de um ambiente que nenhuma criança, no Brasil ou no mundo, merece estar. O Conselho Tutelar de Toledo já encontrou uma faca do tamanho de uma folha de papel dentro de uma privada, porque uma pessoa, intencionalmente, queria atacar o Conselho Tutelar, insatisfeita com a nossa atuação. Hoje, o Conselho Tutelar não tem um segurança, não tem uma guarda que possa estar ali junto para garantir a integridade dos conselheiros. Já buscamos instalar câmeras de segurança, mas ainda é pouco. Por quê? Porque, quando o conselheiro tutelar vai ao mercado — e Toledo não é uma cidade tão grande —, nós somos, muitas vezes, perseguidos por pessoas que não aceitaram a nossa atuação. Mas o que a população precisa entender é que a atuação do Conselho Tutelar é para garantir o direito daquela criança e daquele adolescente”, ressalta Alan Junior Julio.





