Estamos 33º Domingo do Tempo Comum, às vésperas de concluir o Ano Litúrgico e iniciar um novo ano que certamente será cheio de esperança e realizações. A certeza que temos é que Deus caminha conosco e nos ajuda a seguir pressurosos para a casa do Pai.

São Mateus nos apresenta a Parábola dos Talentos. Um patrão vai viajar e confia talentos aos seus servos. O talento na linguagem bíblica indica uma fortuna incalculável. Eles deverão administrar a fortuna segundo suas possibilidades, porem com responsabilidade e criatividade. Três servos recebem os talentos administrar e prestar contas. O primeiro e o segundo trabalham duro e fazem frutificar a riqueza recebida usando a criatividade e arriscando a própria vida. No entanto, o terceiro servo, “mau e preguiçoso” tem uma imagem falsa do patrão. O medo o paralisa e o faz agir desajeitadamente, sem correr qualquer risco. Deste modo, prefere enterrar o talento que recebeu.

A fuga da responsabilidade é o caminho escolhido pelo servo “inútil”, é uma estratégia inspirada pelo medo e preguiça. “Fiquei com medo e escondi o teu talento no chão”. A falta de amor e compromisso com a realidade faz com que muitos cristãos, desiludidos e oprimidos pela intolerância das situações, procurem se refugiar em um espiritualismo sem compromisso e sem convicção. A parábola mostra que a ética do cristão é a ética da responsabilidade que nasce não da sede de poder ou vontade sucesso, mas é fruto da confiança serena que nos ajuda a preparar o encontro com Deus e quando lá chegarmos teremos as mãos cheias para oferecer.

Talvez não seja sem sentido que o servo acomodado tenha recebido somente um talento. Aqui nos deparamos com a primeira leitura que elogiava a sabedoria que se revela no cotidiano, nas pequenas coisas que estão ao alcance. De fato, sempre temos poucos recursos e a fidelidade não é medida pela grandiosidade dos projetos, mas pela disponibilidade em frutificar o pouco que temos nas nossas mãos.

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Fico pensando neste último servo que, cheio de medo, enterrou seu talento. Desta maneira, inutilizou o dom recebido. Foi motivado, em boa parte, pela imagem que tinha do seu patrão. Este homem, por sua falta total de confiança, ficou paralisado. A imagem que tinha de Deus era aquela de uma autoridade implacável, sem amor, e isto o enfraqueceu. Esta paralisia interior desencadeou o medo de arriscar, de viver, de se lançar. Preferiu ficar fora, como espectador. Por isso, se tornou indigno, porque não foi capaz de interpretar corretamente a dinâmica do dom que recebeu.

O evangelho indica que tipo de servo Deus deseja: aquele que tomou consciência do dom recebido e não mediu esforços para torná-lo conhecido por todos. Senhor, ajuda-nos a ser um servo bom e fiel que aproveita cada oportunidade da vida para fazer frutificar os dons que recebemos de tua bondade. Amém!

O final do Ano Litúrgico é uma boa oportunidade para rever nossa vida e fazer uma lista dos talentos que Deus nos concedeu e prestar atenção naqueles que não utilizei e enterrei.

Dom João Carlos Seneme, css

Bispo de Toledo