Por Fernando Braga
Um caso atípico – e controverso – chamou a atenção na manhã desta quinta-feira (8/8), no início das votações da eleição do SerToledo (Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Toledo), disputada por duas chapas.
Mesários e fiscais nomeados por ambas chapas acompanhavam todas as 15 urnas destinadas ao escrutínio, como de praxe. Entretanto, os mesários da ‘Chapa 2’, estranhamente, marcavam as cédulas com um carimbo ao entrega-las a determinados servidores.
A suspeita é de que a marcação seria uma artimanha para identificar os votos destinados a ‘Chapa 2’. Como “voto de cabresto”, seria possível identificar os votantes e conferir suas escolhas na cédula.
Ao que tudo indica, os partidários da ‘Chapa 2’ tentaram corromper o processo eleitoral, afinal, os membros que a compõem são os candidatos “laranjas” que estão a serviço dos interesses do prefeito Beto Lunitti e seus asseclas.
Interesses escusos
Conforme denunciado pela Gazeta de Toledo, o prefeito de Toledo e seus apoiadores tentam, por motivos escusos, deter o controle do Sindicato dos Servidores Municipais. Os “laranjas”, uma vez eleitos, poderiam seguir as determinações do prefeito Beto Lunitti, prejudicando o funcionalismo público e tirando a autonomia da entidade sindical, que passaria a ser utilizada para manobras políticas e judiciais que favoreçam a gestão do atual prefeito.
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Por trás dessa “chapa fake” estão, além do prefeito, a ex-secretária de Esporte e Educação Marli Gonçalves Costa e sua companheira, Caroline Recalcatti, e o advogado particular de Beto Lunitti, Charles Alberi Schneider.
A manobra constatada nesta quinta-feira foi entendida pela Comissão Eleitoral como fraude, pode ter sido praticada da seguinte maneira:
1 – Servidores de determinadas pastas teriam sido orientados a votar na ‘Chapa 2’. Essa orientação teria partido, sobretudo, de seus superiores, que em sua maioria são servidores ocupantes de Cargos em Comissão (nomeados pelo prefeito).
2 – Os mesários, cientes de que servidores de determinadas pastas foram instruídos a votar na ‘Chapa 2’, identificavam pela lista de presença quem seriam os servidores que teriam os votos direcionados, uma vez que os nomes desses eleitores estavam em uma lista passada previamente aos mesários (a maneira como essa lista foi obtida está descrita na explicação dada pelo presidente da Comissão Eleitoral no vídeo que aparece no final da matéria).
3 – Com carimbinhos em mãos, essas pessoas a serviço da chapa do prefeito marcavam as cédulas antes de entregar àqueles que tinham o voto instruído. Desse modo, seria possível identificar as cédulas que deveriam ter o voto destinado à ‘Chapa 2’.
“Kit fraude”
Ao todo, 15 urnas foram disponibilizadas para o pleito e, portanto, foram designados 15 mesários de cada chapa para acompanhar a votação. No entanto, as 15 pessoas indicadas pela chapa do prefeito compareceram aos locais de votação portanto saquinhos, como podemos ver nas fotos abaixo. Nesses sacos, estariam as relações com os nomes das pessoas induzidas a votar na chapa e os carimbos que cada um portava.

O conteúdo desses saquinhos está sendo tratado como “kit fraude”.
Mesários admitem que foram instruídos
Quanto a marcação das cédulas, os mesários admitem que foram orientados a fazer isso pelo procurador da ‘Chapa 2’, o advogado Charles Schneiner. Está documentado que eles admitiram terem sido instruídos pelo advogado. Depois que o caso passou a ser interpretado como indício de fraude, com queixa apresentada ao Poder Judiciário, o próprio Charles solicitou que os mesários parassem de carimbar as cédulas.
Após a anulação da eleição, as urnas, juntamente com os votos, foram recolhidas e estão dentro de uma caixa lacrada, que está sendo monitorada por câmera de vigilância, enquanto a entidade sindical aguarda decisão da Justiça.

Além de ferir e lisura e comprometer o pleito, a atitude de marcar os papéis transgride o regimento da eleição, que veda qualquer tipo de rasura nas cédulas.
Quando a Comissão Eleitoral procurou a polícia para registrar Boletim de Ocorrência, os mesários passaram a se desfazer dos carimbinhos. Dos 15, apenas seis foram encontrados e recolhidos.

Além da anulação da eleição, também foi registrado o pedido de cassação da ‘Chapa 2’. Confira no vídeo abaixo, as explicações fornecidas na manhã desta sexta-feira pelo presidente da Comissão Eleitoral, Anderson Teixeira.
Anderson, que veio de Curitiba para presidir o órgão colegiado, é presidente do Sindimoc (Sindicato dos Motorista e Cobradores de Ônibus da Região Metropolitana de Curitiba) e vice-presidente da Força Sindical. No vídeo, vemos ele acompanhado do secretário da Comissão Eleitoral, Cleverton Camargo, do suplente Jorge Carneiro.