O dia 01 de março é de muita tristeza porque no longínquo, mas tão perto, 01 de março de 1997 faleceu em acidente nosso filho Fábio, com 20 anos de idade. Não gosto de expressar sentimentos em redes sociais, até porque é sofrer ainda mais. Mas, o faço hoje com o objetivo de alertar, de pedir aos nossos jovens que vivam com intensidade, mas com segurança. O pedido que faço está no artigo a seguir que há 10 anos escrevi e foi publicado no Jornal Gazeta de Toledo, no Dia dos Pais. Estou tentando ajudar a outros pais e filhos. IVANIR LOCATELLI.

 

Jovens,

Lamentavelmente, com uma frequência indesejável, ocorrem em nossa cidade acidentes automobilísticos, com vítimas fatais, em sua maioria, jovens. São vidas ceifadas no auge da juventude, na época dos sonhos, quando se projeta o futuro, que todos almejam promissor, mas que acaba, repentinamente, em meios a ferragens retorcidas e manchadas de sangue.

Com os jovens corpos são sepultadas as esperanças de pais, familiares e amigos.

Sou pai de um jovem motorista que saiu de casa, como vocês fazem hoje, para encontrar os amigos, divertir-se, curtir a vida, como costumam dizer, e voltar mais tarde. Não voltou mais. Fui encontrá-lo, já sem vida, dentro de um carro destroçado. Lá, meu mundo desabou e nunca mais será o mesmo.

Dez anos se passaram e a dor insiste em continuar. No início, foi o desespero que tomou conta da gente. Com o passar do tempo, veio o vazio que impregnou a alma. Agora é a saudade que dói sem parar, que machuca, que faz o coração bater como se estivesse cadenciando uma triste e interminável canção de despedida. A ausência dele é sentida a cada instante. Em todos esses anos, nem um dia sequer passou sem que fosse lembrado. Muitas são as noites em que, olhando o céu, o procuro entre as estrelas. As lágrimas que não secam, continuam regando a saudade. De lá para cá, foram Natais, Reveillons, aniversários, dia das mães e dos pais, todos marcados pela sua ausência. E assim será, ano após ano.

Por tudo o que tenho suportado, jovens, neste Dia dos Pais, preciso lhes fazer alguns pedidos:

Não tenham pressa em fazer a vida passar. Foi a ânsia de viver que vitimou meu filho. Analisando o acontecido, chego a pensar na possibilidade de que ele sabia que tinha poucos anos de vida e por isso, a pressa em fazer tudo, antes que a vida passasse. Parecia estar numa permanente corrida contra o relógio.

 

O ciclo normal da vida é que os filhos enterrem os pais. A inversão é tão brutal que além de levar a vida do filho, encurta a vida dos pais, submetidos que ficam ao sofrimento, definhando aos poucos.

Neste Dia dos Pais, ao darem o abraço filial, coloquem nele a definitiva e irrevogável decisão pessoal de que os veículos serão, a partir de agora, um meio para aumentar o seu lazer, não causa de tragédias; servirão para proporcionar as alegrias dos encontros e não as dores da separação irreversível.

Comprometam-se perante vocês mesmos e diante de seus pais, a respeitar inquestionavelmente os limites da velocidade, causa principal de muitas mortes.

Humildemente, assumam o compromisso de que, nas baladas, como dizem, quando beberem em excesso, entregarão o carro a quem estiver em condições de dirigi-lo.

Quando sentarem ao volante de um carro, acionem a ignição que dá a partida para a vida e não engrenem a marcha que leva à morte.

Chega de mortes precoces, que podem ser evitadas! Chega de lágrimas em pais que choram a morte dos filhos, vítimas de acidentes automobilísticos!

Poupem seus pais de madrugadas mal dormidas, ouvindo sirenes dos carros de bombeiros, pensando no filho que ainda não voltou.

Repito a todos vocês o que disse muitas e muitas vezes ao meu filho, toda vez que saía de casa com o carro: “Meu filho, te cuida… juízo! ”.

Dirijam em paz. Com sobriedade, prudência e maturidade. Precisamos de vocês, vivos. As regras do trânsito servem para preservar vidas. A vida é um ciclo para ser vivido, não para ser interrompido bruscamente.

Nesta data, abracem carinhosamente o pai que tem ao seu lado. Tenho certeza que ele está esperando o carinho desse abraço, não só hoje, mas todos os ias.

Quanto a mim, hoje irei ao cemitério. Lá, sentado sobre o túmulo de meu filho, como faço há dez anos, vou perguntar mais uma vez: “Por que aconteceu isso? ”

Sei que não terei resposta. O silêncio e a saudade serão os meus consolos. Afinal, amanhã é dia de trabalho e como todo muito diz, “a vida continua”. Como, não importa.

Um grande pai