*Por Jonas Eder

Quem acompanhou por algum tempo o trabalho do ator Paulo Ricardo Campos Silvino, saberá do brilhante trabalho que ele fez junto aos comediantes do Zorra Total, programa da Rede Globo, no papel de “Severino”. Chamado para substituir algum objeto cênico na gravação de uma suposta peça, ele se recusava no princípio e afirmava que o trabalho dele era “cara crachá, cara crachá, cara crachá”, pois era ele o porteiro da Rede Globo. Todavia, logo ele mudava de ideia ao saber que iria contracenar – ainda que substituindo um objeto que estava em falta – com uma atriz ou várias que o seduziam. Cara e crachá, era a forma de o personagem reconhecer quem entrava na Rede Globo, não sendo permitido a entrada de estranhos; tudo, evid entemente bem encenado, para a época era divertido.


O trabalho do senhor “Severino” encenado pelo brilhante Paulo Silvino, nos permite, para além da diversão à época ou da homenagem ao ator, que faleceu no dia 17/08/2017, fazer uma distinção entre a impessoalidade das instituições ou entidades, com a pessoalidade dos sujeitos que trabalham nestas instituições, que prestam algum tipo de serviço ou que utilizam dos serviços prestados.

Vejamos, por exemplo, o Sistema Único de Saúde (SUS). Tal entidade, presta-se a uma certa impessoalidade, a um certo anonimato. O tal SUS não tem residência, não tem Título de Eleitor, não tem Cadastro de Pessoa Física… não acontece o mesmo com quem trabalha no SUS. Este último, tem todos os atributos de uma pessoa, de um sujeito, lida diretamente com as pessoas, têm nome, sobrenome, endereço… . Vê-se, portanto, claramente a distinção que apregoa a um certa impessoalidade e, ao outro, não.

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Não raras oportunidades, é possível presenciar pessoas dizendo que não foram bem atendidas no SUS, o leitor já deve ter presenciado algo parecido. Todavia, quem é o SUS? Na verdade, ele não foi bem atendido pelo fulano que tem nome, que tem Cadastro de Pessoa Física, ou seja, por uma pessoa que não pode utilizar para si aquele grau de anonimato do qual gozam as instituições, mas que, uma vez exercendo função nesta organização, tem toda as responsabilidades e gozos decorrentes do cargo.
As pessoas que procuram o SUS, não são atendidas pelo SUS, elas são atendidas, ou mal atendidas, pelo Recepcionista tal, pelo Médico tal, pela Enfermeira tal… que trabalham no sistema prestando atendimento às pessoas que, via de regra, recebem menos no trabalho que exercem do que aqueles e, por mais que pareça contraditório, pagam pelo serviço deles; evidentemente, pois quem tem dinheiro suficiente para pagar um plano de saúde, dificilmente fará uso do Sistema Único de Saúde.

Para quem utiliza do Sistema Único de Saúde, impõe-se uma necessidade, qual seja, atribuir responsabilidades de serem atendidos e de terem suas queixas resolvidas às pessoas que trabalham no SUS; ou em qualquer outra instituição que se preste a certo anonimato típico das instituições. Elas precisam identificar as pessoas e dizer: eu não fui atendido bem pelo fulano de tal, no dia tal, em tal lugar… eu fiquei na fila aguardando atendimento por meses devido ao trabalho da Secretária tal, da Coordenadora tal, ou da Diretora, enfim. Existe a imperiosa necessidade de atribuir responsabilidade, de personalizar o atendimento, de tomar para si, pois é o paciente que paga pelo serviço, a responsabilidade de fazer valer os impostos que paga e exigir um atendimento condizente.

*Jonas Eder é psicólogo, com especialização em Gestão Estratégica de Negócios Corporativos, e professor de Biologia.