Dizem que a credibilidade é como vidro: quando trinca, dificilmente volta a ser inteiro. No Legislativo de Toledo, o som do estilhaço ecoa cada vez mais alto — e ninguém parece disposto a varrer os cacos.
Recordo-me bem da época em que o vereador Leoclides Bisognin ousou propor algo tão simples quanto necessário: se o Executivo presta contas quadrimestralmente, por que o Legislativo não faria o mesmo? A ideia era clara, transparente, quase óbvia.
Mas o que aconteceu? Foi parar numa gaveta. Daquelas que não rangem, mas acumulam pó e segredos.
A epoca o sucessor — apelidado de “nó-cego” — e agora, achacador, mostrou que boa intenção sem acompanhamento vira apenas semente perdida. Hoje sabemos: o nó, na verdade, servia mais a interesses próprios do que ao bem da cidade. Uma “caridade” seletiva, destinada a si e aos comparsas de ocasião.
E para coroar a proeza, conseguiu despencar a Câmara de Toledo do 16º para o 132º lugar no ranking de transparência. Um feito e tanto — mas pela razão errada.
Anos se passaram, mesas diretoras mudaram, denúncias chegaram… mas a prática continua a mesma. Diante de acusações, hoje, parte da direção da Casa prefere terceirizar a responsabilidade: dizem que é preciso ouvir os acusados, ou então empurram tudo para a Justiça. Estratégia conhecida de quem varre a sujeira para baixo do tapete e espera que outro faça a faxina. Só que, nesse jogo, quem perde é a credibilidade — que já anda em frangalhos.
O dever de casa seria óbvio: aplicar o Regimento Interno, respeitar a Lei Orgânica, agir com independência. Mas não: preferem se blindar atrás de uma muralha de silêncio. O Legislativo, que deveria ser soberano, age como refém das próprias conveniências.
E, para completar, surge a decisão derradeira: restringir o acesso aos protocolos internos. A desculpa? A LGPD. Legal, talvez. Mas moral? Aí é outra história. Justo no momento em que a Casa precisaria abrir janelas para deixar a luz entrar, resolve FECHAR as janelas e trancar portas.
E fica a dúvida: como os assessores poderão saber se outro vereador já protocolou determinada indicação, requerimento ou projeto de lei? Por que servidores, assessores e departamentos inteiros deveriam trabalhar às cegas?
Não vejo como um total desacordo. A nova LGPD prevê a aplicação de restrições, considerando que muitos utilizam esses canais internos para interesses pessoais ou fofocas. No entanto, se houver uma equipe de TI competente, é possível identificar quem acessou o sistema e aplicar as penalidades cabíveis.
Afinal, o que uma Câmara Municipal e seus gestores teriam a esconder? Será que as “notificações” Judicias que se espalham como vento, ou, como “fake News”?
No fim, resta a pergunta que incomoda: o Legislativo de Toledo está se adaptando, se restringindo ou apenas se blindando?
A resposta, caro leitor, talvez esteja na mesma gaveta onde foi parar a ideia de transparência — trancada, empoeirada, abarrotada de celulares esquecidos e projetos de lei sem previsão de serem vistos à luz do dia.
E o que sobra, no peito dos eleitores, tem nome conhecido: desconfiança