Dilceu Sperafico*

Entre os maiores atrasos da infraestrutura de movimentação de cargas do Brasil e principais limitadores da expansão da produção e exportação agroindustrial, está a falta de aproveitamento do potencial do transporte hidroviário em todas as regiões do País.

         Apesar de enorme extensão territorial, abundância de cursos d’água, elevada produção e intenso escoamento de alimentos e matérias-primas industriais, os navios e barcos somente são utilizados em um terço da malha hidroviária potencial brasileira.  

Conforme estudo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), a atual malha hidroviária do Brasil é de 63 mil quilômetros, mas apenas 19,5 mil quilômetros ou 30,9% do total, são utilizados na movimentação de cargas ou transporte de passageiros.

         De acordo com especialistas, há uma série de fatores que explicam o baixo uso da malha hidroviária no País, que vão de questões de infraestrutura, operação e burocracia, além do baixo nível de investimento neste modal, apesar de seu baixo custo de operação, o que garantiria maior competitividade aos segmentos produtivos nacionais e grandes benefícios aos investidores e trabalhadores, do campo e das cidades.

         O difícil é entender e justificar essa situação, porque o uso de hidrovias traz muitas vantagens aos transportadores, quando comparado aos custos de outros modais, como o rodoviário, ferroviário e aéreo.

Suas enormes vantagens começam pela questão financeira, pois o frete do modal hidroviário é 60% menor do que o do rodoviário e 30% do que o do ferroviário, além de ser menos poluente.

Essa baixa utilização de hidrovias no Brasil se torna mais evidente e injustificável, quando comparada à realidade de outros países, entre os quais os sem o mesmo potencial de rios e lagos navegáveis.

Para cada mil quilômetros quadrados do território nacional, o Brasil tem apenas 2,3 quilômetros de vias hidroviárias utilizadas com vantagens econômicas.

 Na China e nos Estados Unidos, a mesma relação é de 11,5 quilômetros e 4,2 quilômetros, respectivamente, tendo como grandes beneficiários o agronegócio e a exportação de alimentos.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o grande volume das safras de soja e milho é levado aos portos de exportação, através do Rio Mississipi.

         Conforme o estudo da CNT, se os 63 mil quilômetros potenciais de hidrovias brasileiras fossem utilizados, a densidade aumentaria para 7,4 quilômetros por mil quilômetros quadrados de área do território.

Menos mal que o levantamento também apontou crescimento de 34,8% no volume de cargas transportadas por hidrovias no País entre os anos de 2010 e 2018.

No período, o volume de cargas transportadas por navios e barcos foi elevado de 75,3 milhões de toneladas para 101,5 milhões de toneladas.

         O resultado poderia ser muito melhor, mas nas últimas décadas o maior valor de investimento em transporte hidroviário ocorreu em 2009, quando foram aplicados 831,79 milhões de reais no modal. Em 2018, por exemplo, esses recursos caíram para 173,70 milhões de reais.

         De acordo com a CNT, os recursos destinados ao transporte hidroviário têm sido insuficientes para elevar a oferta de serviços e melhorar a qualidade das infraestruturas existentes.

Para reverter essa situação, o investimento mínimo deveria somar 166,4 bilhões de reais anuais, mas somando todos os planos de governo para o setor, são indicados investimentos anuais de somente 145,1 bilhões de reais.

*O autor é ex-deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil

  do Governo do Estado

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