Os ingleses inventores do futebol não serviram de cobaias para a utilização do (VAR, do inglês Video Assistant Referee). Enquanto todas as grandes ligas de futebol da Europa, Fifa, Uefa, Conmebol, Brasil, entre outras ainda batem cabeça com essa nova ferramenta, a Premier League (PF) mostrou a todos na primeira rodada da temporada 2019/20 a eficiência britânica. Às vezes ser o último da fila tem seus benefícios. Os ingleses tiveram tempo suficiente para analisar os acertos e erros do VAR em outros campeonatos e também para criar seu próprio protocolo.

crédito: Fifa

Mas se no Brasil o VAR inglês é elogiado, na terra da Rainha vem causado controversas. O mecanismo já está configurado para sofrer alterações na forma como processa as chamadas de impedimento, com uma revisão sobre se deve ou não intervir apenas se houver um erro claro definido para ocorrer. O International FA Board (IFAB) examinará o protocolo VAR e, de acordo com o  jornal britânico The Times, isso incluirá a maneira como ele monitora os offsides (fora de jogo). A Fifa e os órgãos de governo das quatro nações-sede formarão o painel de revisão – como membros do IFAB – após um polêmico fim de semana de estréia da PL que estava usando o VAR pela primeira vez. 

Enquanto no Campeonato Brasileiro, o árbitro assistente deixa a jogada seguir mesmo o jogador em claro impedimento, na Inglaterra o lance é paralisado na hora, evitando assim um possível gol e tempo perdido com o VAR. Nos 12 jogos da primeira rodada da PL, o mecanismo foi acionado 70 vezes, com média de 30 segundos para a consulta. A mais longa foi de 1 minuto e 40 segundos. No Brasil chega a ultrapassar mais de 6 minutos, tudo porque o árbitro ignora pênaltis escandalosos a exemplo da mão de Diogo Barbosa no empate entre Palmeiras 2 x 2 Bahia.

Os jogos do Brasileirão foram paralisados 237 vezes para análise do VAR. Em 168 dessas vezes, a decisão da arbitragem foi mantida, e o tempo médio perdido foi de 1 minuto e 20 segundos, dentro do que é desejado pelo presidente da comissão de arbitragem da CBF, Leonardo Gaciba. Mas nas 69 vezes em que a decisão da arbitragem foi alterada após consulta da ferramenta, a média de tempo consumido na análise subiu para 2 minutos e 41 segundos, exatamente o dobro.

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O Manchester City, de Pep Guardiola estreou com uma goleada por 5 x 0 contra West Ham e a partida teve o primeiro gol anulado pelo VAR na história da PL. Após uma consulta rapidíssima de poucos segundos.  O árbitro de campo Mike Dean anulou o gol de Gabriel Jesus, que seria o terceiro do City, por estar impedido. O ombro de Sterling estava à frente por apenas alguns milímetros antes de fazer um passe para Gabriel marcar um belo gol.

No mesmo tempo que o lance era analisado, a geradora da transmissão apresentava ao vivo e nos telões do estádio o momento que o impedimento foi confirmado graças a um software que ratifica o fora de jogo. No Brasil um lance parecido entre Corinthians 1 x 1 Flamengo, o não impedimento de Gabriel Barbosa demorou mais de 6 minutos. E a CBF também tem um software exclusivo para impedimentos.

O mesmo jogo entre City x West Ham também viu Aguero ter a chance de retomar um pênalti marcado depois que o VAR decidiu por invasão na grande área por Rice, jogador dos Hammers.   Outra polêmica aconteceu no jogo entre Leicester x  Wolverhampton.  Os Lobos  tiveram um gol de Dendoncker descartado após um toque na mão de Willy Bolly durante a jogada.

Leonardo Gaciba, admitiu que houve demora na utilização do VAR na 14ª rodada do Brasileirão. Gaciba no entanto, enfatizou a questão da justiça para defender o sistema de vídeo no futebol brasileiro. Ele disse que não gostou da demora, que foi muito tempo e causou desconforto. Mas as decisões foram acertadas, o que é mais importante.

O que causa muita discussão nos programas esportivos que analisam a arbitragem são os comentaristas/torcedores que esquecem de tirar a camisa clubística e atacam os árbitros e o VAR, que para eles prejudicaram determinado time.  Gaciba brinca com o fato de alguns juízes não entenderem perfeitamente o uso do VAR. Para ele, alguns árbitros são cabeçudos. Na Premier League é nítido que o trio de arbitragem está mais atento ainda nas marcações do jogo e existe um respeito com as decisões do VAR. No Brasil a sensação é que o árbitro de campo não confia nos operadores do VAR e o vício de beneficiar o time com mais camisa e os donos da casa ainda prevalece no futebol cinco vezes campeão do mundo.

Sandro Meira Ricci, comentarista de arbitragem do Grupo Globo critica muito o uso do VAR no futebol brasileiro. Na opinião do ex-árbitro, o auxiliar de vídeo tem interferido muito nas partidas e a orientação dos árbitros é ruim. Sandro apitou o Fla x Flu em 2016, que demorou mais de 13 minutos para anular um gol impedido do zagueiro Henrique, do Fluminense. Se tivesse o VAR inglês à decisão seria tomada em segundos.

O VAR vem desagradado até mesmo o Faustão, que chamou a atenção dos telespectadores do “Domingão do Faustão”, no domingo 12 de agosto, ao dar uma bronca ao vivo. A reclamação não foi para sua equipe, mas para o futebol. Tudo aconteceu após seu programa começar com quase dez minutos de atraso, por causa do jogo entre Palmeiras e Bahia, que foi transmitido pela Globo. A partida demorou para chegar ao fim, principalmente, por causa do árbitro assistente de vídeo.

O VAR é uma ferramenta que deve ser gerenciada de maneira correta. É um suporte a arbitragem, não pode ser o contrário. Aqueles que vão ao estádio ou assistem pela TV e outras mídias devem saber o que está sendo decidido, e para isso os responsáveis tem que arbitrar bem. E isso significa tomar decisões, os árbitros têm que assumir a responsabilidade, sem hesitação.  O lema principal do VAR é : máximo benefício com mínima interferência. No futebol brasileiro e sul-americano é totalmente o contrário, a interferência é imensa e as polêmicas que seriam reduzidas estão maiores.

Atualmente, o protocolo VAR afirma que, embora seu uso seja para corrigir erros claros e óbvios, este não é o caso para decisões dos ‘homens de preto’, tais como impedimentos em relação ao gol ou se uma falta é cometida dentro ou fora da grande área. A verdade é que está cada vez mais difícil comemorar o gol do time de coração. Primeiro é preciso à confirmação do VAR. Valeu ou não valeu.

Marcos Antonio Santos-Jornalista

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