Foto: Fernando Braga

Por Fernando Braga

Um caso incomum ocorreu nas dependências da delegacia de Toledo na madrugada desta segunda-feira (21). Uma mulher de 42 anos foi presa após agredir uma de suas filhas e ameaçar seu próprio amásio com uma faca, e, depois de ser encaminhada para a 20ª SDP, se matou dentro de uma cela.

Amara Leal teria tido um surto psicótico, conforme consta no registro da ocorrência feito pelo 19º Batalhão de Polícia Militar. Por volta das 20h45 minutos de domingo (20), a PM foi acionada para comparecer a uma residência situada no Jardim Paulista, onde a filha de Amara se queixava que a mãe estava transtornada e invadiu sua casa, quebrando várias coisas. De acordo com a filha, sua mãe tentou esgana-la e, descontrolada, destruiu armários, celular e cristaleira. Até o portão da casa foi arrancado pela mulher.

Amara deixou o local dizendo que iria até sua outra filha e que a mataria, assim como mataria também seu próprio amásio. Diante dessas informações, as equipes da Polícia Militar foram atrás dela e a encontraram em outro imóvel, onde ela se trancou com o amásio. De posse de duas facas, ela ameaçava o companheiro e dizia que se os policiais tentassem entrar, iria esfaqueá-los também.

Os militares agiram para acalmar a mulher e negociar sua rendição, mas ela tentou golpear o amásio e a equipe policial precisou invadir a casa para conte-la. Depois de contida, ela foi atendida pelo SAMU e encaminhada para a UPA. Após receber alta, Amara Leal foi conduzida para a 20ª SDP.

É importante ressaltar que quando uma pessoa dá entrada na Delegacia de Polícia Civil, ela fica isolada, sem contato com outros presos. Esse isolamento ocorre em uma cela, que no jargão policial é denominada de “corró” e aparece nas fotos. Até que a pessoa seja ouvida pelos policiais e sua situação seja definida, ela permanece lá.

Corró

Dependendo do caso, a pessoa detida é ouvida e em seguida, liberada. Às vezes, antes de serem ouvida, as pessoas aguardam a chegada de um advogado. Há também as situações em que a pessoa é liberada mediante pagamento de fiança. E ainda há os casos em que os detidos aguardam a chamada “audiência de custódia”, que é o momento em que são ouvidos por um juiz, no prazo de até 48 horas após a prisão, para que a Autoridade Judicial decida se permanecerão presos durante a fase de inquérito policial (investigação) ou se poderão responder em liberdade.

Nota-se que nos casos descritos acima, as pessoas ficam detidas provisoriamente, aguardando um advogado, a decisão de um juiz, bem como a definição de soltura ou de efetiva prisão. E para mantê-las reservadas, existe um local próprio, uma cela reservada fora da carceragem. Se a pessoa for presa por crime inafiançável ou se o juiz, na “audiência de custódia”, decidir mantê-la presa, ela é ouvida e em seguida encaminhada para a Cadeia Pública de Toledo, onde dá entrada em uma cela comum, cheia de presos (ou presas, se for na ala feminina).

Amara ficou isolada no “corró”, aguardando o momento de ser ouvida. Ela deu entrada tarde da noite na 20ª SDP, e no início da madrugada, presa sozinha na cela, se matou. A mulher aproveitou que a área onde fica essa cela é isolada, sem policiamento, separada das salas que compõem as dependências da delegacia, e se enforcou usando as próprias roupas. Ela utilizou as peças de roupa da parte superior para amarrar nas grades e prender seu pescoço (vale observar que a altura das grades na entrada desta cela é de ao menos 2 m, enquanto Amara tinha 1,70 m de estatura).

Conforme consta no relatório do IML, o corpo da mulher chegou ao necrotério às 05h50 trajando apenas as partes de baixo: shorts e calcinha.

MATÉRIA ATUALIZADA: Polícia Civil emite nota sobre a morte ocorrida na delegacia de Toledo e revela novos detalhes sobre o caso

A porta do “corró” tem cerca de 2 metros de altura. Foto: Fernando Braga