Neste domingo celebramos a Solenidade de Todos os Santos; momento oportuno para reconsiderar a nossa vida cristã olhando para o futuro, para o fim da história de cada um e da humanidade.

Por amor, Deus cria o ser humano com a capacidade de ser bom e feliz com Ele. O amor de Deus começa a se manifestar na criação. O Deus que é amor, comunhão e entrega, encontra seu reflexo e imagem e coloca no ser humano o dom da abertura e receptividade. “Por ser imagem de Deus, o homem tem capacidade para a graça, ou seja, para acolher o amor de Deus e, acolhendo-o, para realizar o encontro que nos transforma” (São Tomás de Aquino).

Por amor Deus cria um ser que não pode existir sem Ele e sem os outros, isso é santidade. Deus criou o ser humano como ser de comunhão e o destinou a acolher o amor que Deus lhe deu. Deus mesmo colocou no coração da humanidade o desejo do infinito, de contemplá-lo face a face. É por isso que existe um vazio no ser humano que só é preenchido quando ele encontra Deus.

Deus manifesta sua justiça não condenando, mas salvando; justificando o pecador e tendo misericórdia de todos. Não se trata de justiça retributiva, pela qual Deus recompensa ou pune de acordo com os méritos de cada um. É a justiça do perdão e da salvação.

A verdadeira santidade é uma graça, é a obra que Deus realiza gratuitamente em nós. Uma vida que expressa sentimentos e atitudes de gentileza e compaixão, que se materializam em obras de justiça, caridade e solidariedade. Porque é assim que o Deus cristão é, é assim que Deus age e é assim que ele quer que seus filhos e filhas vivam. A santidade de Deus se reflete em seus santos e santas. As bem-aventuranças são dirigidas a essas pessoas. Para que esta ação gratuita de Deus opere a santidade em nós, deve ser acolhida com gratidão e exercida com responsabilidade. A santidade de Deus se revela na sua bondade para conosco que espera que sejamos melhores. Nossa santidade é o resultado da benevolência de Deus para conosco. Não recebemos a graça por causa de nossos méritos, mas por sua benevolência e olhar misericordioso. Esse olhar é o que nos faz santos.  O máximo que podemos fazer é deixar que a bondade de Deus reflita e aja em nós. Porém a santidade é gratuita, é um dom de Deus e obra do Espírito Santo em nós.

O Papa Francisco, na sua exortação “Alegrai-vos e exultai” trata sobre a santidade hoje; ele coloca a santidade no horizonte da bondade e da felicidade que existe em todas as pessoas que procuram fazer o bem.

“As bem-aventuranças são como que o bilhete de identidade do cristão. Assim, se um de nós se questionar sobre «como fazer para chegar a ser um bom cristão», a resposta é simples: é necessário fazer – cada qual a seu modo – aquilo que Jesus disse no sermão das bem-aventuranças. Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-dia da nossa vida” (Alegrai-vos e exultai, nº 63). “A palavra feliz ou bem-aventurado torna-se sinônimo de santo, porque expressa que a pessoa fiel a Deus e que vive a sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a verdadeira felicidade” (nº 64).

Dom João Carlos Seneme, css

Bispo de Toledo