O pioneiro Herbert Bartz faleceu de complicações decorrentes de uma pneumonia. Foto: Reprodução

Os horrores da guerra e da fome na Alemanha, na década de 1940, fizeram ele sonhar em produzir alimentos em abundância, o que realizou e foi muito além

Da Redação

A agricultura brasileira perdeu um de seus nomes ilustres na madrugada desta sexta-feira (29). Faleceu no Paraná, aos 83 anos, o produtor rural Herbert Bartz, considerado percursor do plantio direto na palha, no Brasil.

Nascido em Santa Catarina, Bartz passou sua infância na Alemanha, para onde foi acompanhando a família no final dos anos 1930, e conheceu de perto os horrores da 2ª Guerra Mundial. Por ter passado fome ainda criança, ele sonhou em um dia poder produzir alimentos de qualidade em abundância. Anos depois, de volta ao Brasil, colocou o plano em prática e se tornou agricultor.

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Com muita dedicação e vontade de vencer, o sonho de Bartz virou realidade em Rolândia (PR). O produtor foi pioneiro no plantio direto (plantar sem arar e revolver o solo), deixando-o protegido e menos suscetível à erosão, já que o clima é um dos principais desafios para a cultura da soja na região.

Bartz nasceu em Rio do Sul (SC), em 14 de fevereiro de 1937, mas com a ida da família para a Europa, ele viveu em meio à fome, frio e solidão durante a 2ª Guerra. Retornou ao Brasil em 1960 e a família se fixou na Fazenda Rhenânia, em Rolândia, trabalhando com plantio de milho e arroz.

Logo ele percebeu que, no sistema convencional de produção, não sobrariam muitos recursos para o sustento familiar. Os problemas das chuvas tropicais irregulares, que vinham em excesso, após longo período de estiagem, lavavam as lavouras, carregavam as sementes e provocavam a erosão.

Em 1972, após importar uma máquina semeadora não agressiva, ele adotou o método que, no Brasil, passou a ser chamado de Plantio Direto. Consiste no mínimo ou na ausência de revolvimento do solo, manutenção dos restos culturais da safra anterior e em rotação de culturas. Com isso, conseguiu resultados positivos na produtividade da soja, na conservação do solo e na economia com menos uso de maquinários. A técnica se destaca pelo aumento significativo da produtividade de grãos, além ser um excelente meio para se fixar no solo o dióxido de carbono (CO2) retirado da atmosfera, contribuindo para a redução do efeito estufa.

A implantação do sistema menos agressivo ao solo concretizou a esperança global de produzir alimentos em abundância e qualidade, mas a desconfiança inicial, que levou Bartz a ser chamado de “alemão louco”, fez com que sua produção fosse apreendida pela Polícia Federal. Porém, a desconfiança logo foi substituída pela certeza de que a adoção da técnica garantia maior produtividade.

Sua fama se espalhou, a propriedade ganhou visibilidade e outros produtores passaram a visitar e perceber que o solo estava mais vivo. Ele faleceu em Rolândia de complicações de pneumonia, e deixa a esposa e dois filhos.

No dia 3 de fevereiro de 2015, durante o Show Rural Coopavel, foi lançado um livro sobre a história do plantio direto no Paraná, trabalho coordenado pela Itaipu. Na ocasião, Bartz e outros dois pioneiros que trabalharam com ele, Franke Dijkstra e Manoel Henrique Pereira, o Nonô Pereira, foram homenageados pelo presidente da Itaipu, Jorge Samek e pelo presidente da Coopavel, Dilvo Grolli.

Franke Dijkstra, Herbert Bartz e Manoel Henrique Pereira na Coopavel

O governador do Paraná, Ratinho Junior, se manifestou dizendo que “perdemos uma das referências nacionais em agricultura, alguém que dedicou a sua vida a melhorar as técnicas para que os alimentos do campo chegassem na mesa com qualidade e rapidez”.

O secretário de Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, disse sobre o falecimento do produtor, que “é mais uma das mortes que vamos lamentar para sempre por se tratar de uma pessoa afável, um ser humano fantástico. A contribuição de Herbert Bartz para a agricultura brasileira e, particularmente, para a paranaense, é inestimável. Seu pioneirismo no plantio direto fará com que o sonho de produzir alimentos em abundância e qualidade perdure ainda por muitos e muitos anos”.

O ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi se pronunciou nas redes sociais sobre a perda e deixou um relato: “Eu, quando era estudante de agronomia, tive oportunidade de conhecer suas experiências em campo. Herbert foi o pioneiro da introdução desse sistema aqui no Brasil e revolucionou a agricultura brasileira e mundial. Sua história é inspiradora e será sempre lembrada como um verdadeiro legado para o agronegócio! Que Deus conforte a todos”.