Imagem ilustrativa da safra de soja de 2020. Foto: Jaelson Lucas/AEN

No Oeste do Paraná, houve atraso na regularização das chuvas e muitos produtores arriscaram plantar sem condições adequadas de umidade

A irregularidade climática resultou no plantio mais tardio da história e trouxe uma marca forte à safra de soja 2020/21. A falta de chuvas regulares atrasou a implantação das lavouras no Centro-Oeste e no Sul do país, afetando também o planejamento da segunda safra de milho. Em resumo, a safra começou atribulada, em especial em Mato Grosso, principal produtor de soja no Brasil. Apesar disso, a Agroconsult, organizadora do Rally da Safra, aponta para um recorde de produção de soja. A estimativa pré-Rally é de 132,4 milhões de toneladas, 5,5% acima da safra passada. A soja e o milho são os principais insumos na alimentação dos plantéis brasileiros de aves e suínos.

A projeção decorre de dois fatores. O primeiro deles é a expansão da soja, impulsionada pelo momento de boa rentabilidade. Em relação à safra 2019/20, a área plantada cresceu 4%, chegando a 38,4 milhões de hectares. É um crescimento de 1,47 milhão de hectares – quase equivalente ao que se cultiva num estado como a Bahia. O segundo ponto é a produtividade brasileira, que deverá alcançar 57,4 sacas por hectare, 1,5% acima das 56,6 sacas por hectare da safra passada, segundo a Agroconsult.

O coordenador do Rally da Safra, André Debastiani, destacou em nota que na safra 2019/20, apesar dos recordes de produtividade em importantes estados produtores – como Mato Grosso, Paraná e Goiás –, houve uma quebra de quase 40% no Rio Grande do Sul. Na safra 2020/21, os produtores gaúchos tiveram de aguardar até que houvesse umidade no solo suficiente para o plantio, após um início com clima irregular. No fim de dezembro voltou a chover em condições satisfatórias e a expectativa é que essas condições se mantenham em fevereiro. A estimativa pré-Rally para a produtividade no Rio Grande do Sul é de 53,9 sacas por hectares.

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Em Mato Grosso, já se projetava uma redução na produtividade média após o excepcional resultado de 60 sacas por hectare da safra passada, disse Debastiani. O impacto das condições climáticas sobre o desenvolvimento das lavouras acentuou essa queda. A estimativa agora é que os produtores do estado colham 55,5 sacas por hectare. Na safra passada, a soja precoce começou a ser plantada em Mato Grosso logo após o fim do vazio sanitário e sob ótimas condições. Em 2020/21, a situação foi bem diferente: o clima esteve entre os mais irregulares da história do estado para o período de plantio das variedades precoces, que atrasou e se concentrou no fim de outubro, prejudicando parcialmente o calendário do milho safrinha.

“Muitos produtores que arriscaram semear com baixa umidade tiveram de replantar suas áreas uma ou até duas vezes. Em casos extremos, a soja foi abandonada para dar lugar ao algodão safra ou ao milho verão. Agora, no entanto, chove quase diariamente e em volume suficiente para o desenvolvimento adequado das lavouras que, em algumas regiões, estão ainda melhores do que as da safra passada”, explicou Debastiani.

Já no Oeste do Paraná, houve atraso na regularização das chuvas e muitos produtores arriscaram plantar sem condições adequadas de umidade, o que traz consequências à produtividade. O calendário do milho segunda safra foi prejudicado fortemente na região, onde parte da área vai migrar para o trigo, e um pouco menos no norte do estado e em São Paulo. A produtividade do Paraná é estimada no pré-Rally em 60,5 sacas por hectare.

Na região do Matopiba, o cenário climático foi o oposto. Enquanto faltava chuva no centro-sul do país, no Norte e no Nordeste as chuvas foram abundantes, permitindo que o plantio começasse cedo e sob ótimas condições. A produtividade da Bahia é estimada no pré-Rally em 61,3 sacas por hectare.

A partir desta segunda-feira (25), o Rally da Safra vai a campo para avaliar as lavouras de soja. “As equipes técnicas devem observar os efeitos da irregularidade climática sobre as lavouras. Mas temos ainda pela frente muitas variáveis que podem mudar. Um exemplo é o clima de fevereiro, importantíssimo para o desenvolvimento das lavouras e de grande influência na definição do peso dos grãos. Também vamos acompanhar o desenvolvimento das doenças, o impacto da seca no estande das lavouras e a capacidade de recuperação da soja após a regularização do clima”, explicou o coordenador do Rally.

Milho

A expedição técnica acompanhará também a implantação das lavouras de milho segunda safra. A perspectiva é de uma expansão de quase 1 milhão de hectares ou 7,3% acima da safra passada. “É um bom momento para a cultura e os produtores devem investir ainda mais em tecnologia. Existe, porém, uma série de questionamentos em relação à qualidade de implantação das lavouras, em especial nas regiões em que o atraso do plantio trouxe maiores problemas para o calendário da segunda safra, como o oeste do Paraná e Mato Grosso”, disse Debastiani.

A projeção pré-Rally aponta para uma safra de 83,9 milhões de toneladas de milho, um crescimento de 10,8% sobre a safra passada. “O produtor terá dois grandes desafios neste primeiro trimestre: colher uma produção recorde de soja num período menor devido ao plantio fortemente concentrado em outubro, e plantar uma área recorde de milho numa janela mais curta do que nas safras anteriores”, complementou.

As mesmas condições climáticas irregulares que prejudicaram o plantio da soja também afetaram o milho verão no Sul do Brasil – boa parte da área na região passou pelas fases críticas para a definição de produtividade em momentos de pouca umidade. A estimativa pré-Rally para o milho verão é de uma produção de 25,1 milhões de toneladas, 8,2% abaixo da safra passada – a área cai 1,9%, chegando a 4,97 milhões de hectares.

A produção total de milho no Brasil é estimada pela Agroconsult em 109 milhões de toneladas – um aumento de 5,8%, impulsionado pelo milho segunda safra.

Fonte: CarneTec