No monte Sinai o povo de Israel estabeleceu sua aliança com Deus, descobriu que entre Deus e a humanidade pode haver um diálogo e uma colaboração em vista da realização de um projeto comum de amor. A iniciativa parte sempre de Deus que segue o itinerário de vida da humanidade para encontrá-la.  A humanidade deve se empenhar para não deixar que este diálogo desapareça. A resposta de Israel é dada através do Decálogo (os dez mandamentos entregues a Moisés no Monte Sinai) e de leis que contém o Código Aliança (primeira leitura). É uma espécie de carta constitucional que foi sendo formada durante a vida do povo de Israel. As prescrições da Torá eram constituídas de 613 preceitos, dos quais 365 eram proibições e 248 mandamentos positivos. Por isso havia entre os estudiosos da Bíblia discussões sobre a hierarquia dos preceitos: qual era o mais importante, o mais grave, ou mais leve. Bem como se desejava resumir o conteúdo da Torá em única regra de ouro.

Este é o contexto que determina o texto do evangelho de hoje. O confronto entre Jesus e os fariseus oferece uma oportunidade para refletir sobre o comportamento em relação a Deus e o comportamento em relação ao próximo. Sabemos que é uma armadilha para desmoralizar Jesus diante dos ouvintes. Recordando que estamos em Jerusalém às vésperas dos dramáticos acontecimentos na vida de Jesus.

Jesus não foge da questão: qual é o mandamento mais importante da lei de Deus? Ele responde citando a prima parte do Shemá, oração evocando que Deus é único que os judeus recitavam duas vezes ao dia; ela contém a profissão de fé da religião judaica.

Porém Jesus acrescenta um segundo mandamento importante e equivalente ao primeiro: Amarás o próximo como a ti mesmo”.  Ou seja, o primeiro mandamento referente a Deus não se realiza sem o segundo mandamento em relação ao próximo.

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O verbo amar não pode ser entendido como um sentimento ou um movimento da alma. Tanto no Antigo como no Novo Testamento, amar exige escolhas concretas de bondade e solidariedade, sobretudo em relação aos irmãos mais desprotegidos e indefesos: na Bíblia são nomeados os órfãos, as viúvas e o estrangeiro. No Livro do Levítico 19 o amor ao próximo se manifesta através de proibições de enganar, oprimir, roubar, difamar, caluniar, odiar… Jesus afirma que amar a Deus e ao próximo é a chave de toda Bíblia que dá sustento ao agir do cristão. O amor deve ultrapassar a questão de obrigações e deveres e se tornar expressão de uma escolha que nasce no coração e atinge todo o ser.  

Deus ama o ser humano como ele é: na sua realidade de luzes e sombras. “Deus faz nascer o sol sobre maus e bons; faz chover sobre justos e injustos”. Deus não faz distinção entre bons e maus, nobres e pobres, pios e ímpios (…). Somos nós que dividimos o mundo segundo os nossos critérios. Deus não. Estamos em estado permanente de conversão: não participamos somente do amor a Deus, mas participamos também do amor que se coloca ao lado do ser humano pecador e perdido, pobre e malvado. Que o Senhor nos ajude a realizar aquilo que rezamos. Que fé e vida se completem para que nossas comunidades e o mundo sejam melhores, reflexo de que somos criaturas de Deus.

Dom João Carlos Seneme, css

Bispo de Toledo