A lente de aumento que precisávamos
Porque a Lava Jato não pode parar
Marco Tadeu Barbosa, presidente da Faciap 
A relevância da Lava Jato vai além dos corruptos que prendeu. Gerou
uma reflexão coletiva a respeito de questões essenciais sobre quem
somos como povo, do que somos feitos. E sobre como a crise de
democracia que estamos vivendo hoje tem relação com o fato de a
corrupção no nosso país não ter sido até aqui um ponto fora da curva,
mas praticamente a estrada por onde circulou uma parte significativa do poder e da riqueza. Em toda a sua história, o Brasil olhava para o alto
para ver a bandeira tremular com a frase “Ordem e Progresso” enquanto, aqui embaixo, adotava outro lema para levar a vida: criar dificuldades
(políticas e legais) para ganhar facilidades (financeiras).Claro, não foi a
Lava Jato que fez nós nos enxergamos no espelho.
Os brasileiros já sabiam de tudo isso antes de a operação iniciar. Mas
talvez, foram essas investigações mais duras contra a corrupção que
reaqueceram a discussão sobre o assunto, adormecida há tanto tempo,
limitada talvez aos corredores de universidades ou salas de pensadores. Foram elas que movimentaram de novo as ruas, que geraram indignação coletiva e, assim, incomodaram a velha política, que atuava tranquila,
sem enxergar no horizonte qualquer sinal de punição. 
A Lava Jato não foi perfeita. Sabemos que o Brasil ainda engatinha na
execução de suas leis e na prática da democracia. Porém, é inegável que a operação jogou luz em muitos cômodos escuros, em que até mesmo a
Justiça parecia ter perdido a vontade de entrar. A consequência de termos visto de tão perto o tamanho do câncer foi o desejo coletivo de entender nossa doença profundamente, em vez de fecharmos o ângulo da lente apenas nos sintomas. Desistimos de nos enganar, acreditando que apenas prender este ou aquele curaria o mal. Passamos a discutir reformas e a
apostar em um sistema novo, sem os vícios antigos.
A causar medo nos políticos que eram, na verdade, criminosos. E,
principalmente, a nos envolver com a mudança. Não é simples ajustar
uma economia em um país que sempre a conectou com o que é político.
Também não é fácil promover crescimento em um Brasil em que a
obrigação de prometer favores e acomodar parentes e amigos sempre foi o corriqueiro. A resposta à pergunta “O que eu ganho com isso?”
continuou sendo o cimento de boa parte do que construímos, mesmo
depois de liquidado o Império e proclamada a República.
Mas a Lava Jato mostrou que podemos, sim, ter um país maduro e
igualitário, em que o patrimonialismo para de despejar na rua, que é de
todos, o sujo de suas mansões partidárias, cujos membros da família
servem apenas a seus pais. E que, se queremos ter alicerces fortes para o desenvolvimento humano e econômico do Brasil, temos que começar a mexer na nossa lama para que ela pavimente de uma vez o nosso crescimento.
Marco Tadeu Barbosa, presidente da Faciap .
Fonte: Gabriela Brandalise/ Assessoria de imprensa Faciap
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