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Cursos direcionados ou viagens premeditadas?

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Ou é uma saga das diárias?

Chamou (e muito) a atenção desse jornalista a sequência de contratações feitas pela Câmara Municipal de Toledo em favor de uma mesma empresa de cursos “direcionados” a agentes públicos. Só em 2025, nos primeiros quatro meses do ano, já foram três eventos no mesmo local, com a mesma empresa e — claro — e quase com os mesmos vereadores de sempre.

O verdadeiro curso: “Como garantir a diária perfeita”

O último episódio dessa série foi autorizado pela Portaria nº 84, de 10 de abril de 2025. Nela, os vereadores Dudu Barbosa, Roberto de Souza e Valdomiro Bozó foram oficialmente “designados” para participar do evento “Fiscalização Orçamentária, Financeira e Administrativa por parte da Câmara Municipal”, realizado presencialmente em Curitiba/PR.

Matemática criativa: 3 vereadores x 3,5 diárias = R$ 9.450

Cada edil recebeu 3,5 diárias para comparecer ao evento nos dias 22, 23, 24 e 25 de abril de 2025. No bolso de cada um, pingaram R$ 3.150,00 em diárias. Mas como dizem por aí: o diabo mora nos detalhes. Esses valores são apenas das diárias. Ainda tem outras depesas que irei postar na coluna de amanhã.

Programação estranha, coincidências ainda mais

Consultando o folder oficial do evento, vemos que a programação começava no dia 22 (terça-feira) às 14h, com uma consultoria prevista das 16h30 às 18h30. Ou seja, pela lógica, se a inscrição começava só à tarde, não haveria necessidade alguma de sair de Toledo no dia 21 — ainda mais sendo feriado (o que proíbe o uso do carro oficial).

E mais: se as inscrições já haviam sido realizadas no portal da Câmara antes da viagem (como indicam os documentos), qual seria a necessidade de “confirmar” novamente em Curitiba? Link da contratação

Consultoria opcional… viagem obrigatória?

Outro ponto curioso: a tal “consultoria” do dia 22 era opcional. Não está claro quem a prestaria, nem foi feita menção no folder. Então, pergunto:

Se era opcional, qual o motivo da pressa para sair um dia antes?

Que tipo de “consultoria” requer feriado, carro oficial e diárias adiantadas?

Se for confirmado que a consultoria sequer ocorreu, é altamente recomendável que os nobres vereadores devolvam parte dos valores recebidos.

O mesmo filme: atores repetidos, roteiro duvidoso

A sequência de “cursos” com a mesma empresa, sempre atendendo os mesmos parlamentares, começa a soar, no mínimo, estranho — para não dizer escandaloso.

Spoiler: vem mais por aí

Baixei todas as portarias e liberações de diárias de vereadores de 2021 até agora. Amanhã, vou postar os números completos.

Spoiler: tem muito caroço nesse angu.

Exemplo de responsabilidade

Chumbinho Silva, que esteve em Brasília durante a 24ª Marcha dos Vereadores, organizada pela UVB, juntamente com Marli e Kathi, valorizou o curso e os palestrantes. O evento reuniu mais de 3 mil vereadores de todo o Brasil. Segundo Chumbinho, mais de 70% dos inscritos apenas passavam o código de barras de presença e logo desapareciam no meio do evento, “sumindo na braquiária”, como descreveu.

No entanto, nós, vereadores de Toledo que representávamos nosso Legislativo, respeitamos o erário público e participamos efetivamente das palestras, como, por exemplo, a ministrada por João Rodrigo, de Chapecó.

“Eu anotei todos os temas abordados e produzi um relatório de 24 páginas sobre o que aprendi”, afirmou Chumbinho.

Parabéns aos três edis, pois, aqui, creio que não houve farra.

A ética, a polícia e a vida

A ética é uma dessas palavras que todos adoram pronunciar, mas que poucos gostam de carregar no bolso — ainda mais quando ele já está recheado de diárias, bônus e vantagens.

É curioso pensar como a ética, que deveria ser como a farda de um policial — visível, inegociável, parte do ser — muitas vezes vira apenas um adereço opcional, como uma gravata mal posta num evento qualquer. O policial de verdade, aquele que jurou proteger e servir, carrega a ética como um escudo. Não importa se é domingo ou feriado: a integridade não tira férias.

Já na vida pública — e, arrisco dizer, também na vida pessoal de muita gente — a ética parece ser tratada como uma peça de teatro ruim: repete-se a encenação para poucos espectadores atentos, enquanto nos bastidores reina o improviso da conveniência.

Em Toledo, virou quase uma comédia de erros: cursos “imperdíveis” em Curitiba, diárias generosas, deslocamentos em feriado — e uma pressa misteriosa em sair da cidade antes da hora. Como explicar essa pressa toda para chegar num evento que começava só à tarde? Alguma “consultoria opcional” tão vital que exigisse violar a lógica — e talvez até o bom senso?

A vida é cheia de consultas opcionais: a consciência é uma delas. Cada um decide se a escuta ou não.

Enquanto alguns vereadores pareciam aplicar o curso “Como tirar férias com verba pública”, outros, como Chumbinho Silva e seus colegas de jornada, mostraram que ética ainda pode ser uma matéria viva, ensinada não por palestrantes, mas por atitudes. Eles não apenas compareceram aos eventos; participaram, anotaram, relataram. Fizeram aquilo que deveria ser o mínimo, mas que hoje parece o máximo.

Talvez a grande lição seja essa: a ética — seja na polícia, na política ou no café de casa — não precisa de plateia, de portaria oficial, de diária assinada. Ela é silenciosa, discreta e custa caro. Não no bolso — mas na renúncia a vantagens fáceis, nos “nãos” ditos quando seria mais lucrativo dizer “sim”, na coragem de respeitar até o que ninguém está vendo.

No fim das contas, viver eticamente é como ser um bom policial: é cumprir o dever mesmo quando ninguém está olhando. Ou principalmente quando ninguém está olhando.

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